8 pontos de alerta que envolvem o Carnaval e a saúde do coração
Oficialmente, o Carnaval ainda não começou, mas já tem muita gente há dias ou mesmo semanas celebrando a data em diversas partes do Brasil, seja nos trios e blocos de rua, nos ensaios das escolas de samba ou em bailes e festas.
Para aproveitar a folia sem riscos e consequências para a saúde do coração, é importante ter cautela e certos cuidados. Vejamos alguns pontos que merecem atenção:
1. Excesso de álcool
Clima de festa, calor, música e diversão. Para muitos, a combinação perfeita para a ingestão de bebidas alcoólicas. No período do Carnaval, boa parte dos foliões tende a aumentar o consumo de álcool não só em quantidade, mas na regularidade. São dias seguidos e, em alguns casos, começando cedo, com o consumo se prolongando durante muitas horas.
O fato é que, especialmente quando em grande quantidade, o álcool é uma toxina para o organismo. Sua ingestão excessiva e em um curto espaço de tempo pode desencadear o que chamamos de "síndrome do coração festeiro", quadro caracterizado por uma disfunção no sistema elétrico do coração. Trata-se de um distúrbio no ritmo cardíaco, isto é, uma arritmia —os batimentos ficam irregulares ou descompassados.
Há também uma aceleração do metabolismo e aumento da pressão arterial, fazendo a pessoa suar mais e perder sais minerais. Cenário que gera uma sobrecarga no funcionamento do órgão. Entre os sintomas, de início, a tendência é o aparecimento súbito de palpitações, seguidas de dor, pressão ou desconforto no peito, fadiga, vertigem, desmaio e falta de ar. Beber demais ainda pode interferir nos níveis de diabetes e triglicérides que, combinado com colesterol, estimula o depósito de gordura na parede das artérias.
Em curto prazo, a síndrome e as demais alterações provocadas pelo excesso de álcool podem ser tidos como efeitos que merecem ser monitorados. No entanto, caso persistam e não tenham a devida atenção, são capazes de desencadear ou agravar quadros de hipertensão, arritmias crônicas, cardiomiopatias ou até levar a situações mais sérias, incluindo a insuficiência cardíaca, infarto e AVC (acidente vascular cerebral).
2. Ressaca
Quando falamos em álcool, não podemos deixar de lado a famosa "ressaca", quadro que, de modo geral, causa mal-estar, dor de cabeça, enjoo, vômito e a sensação de boca seca. Surge entre 6 e 8 horas após uma bebedeira e chega a durar até 24 horas.
A ressaca tem vários efeitos adversos à saúde, incluindo impactos negativos no sistema cardiovascular. O problema é que algumas das consequências podem não ser tão passageiras como muitos imaginam.
Logo após ser ingerido, o álcool é absorvido pelo estômago, chegando a outros órgãos por meio da corrente sanguínea.
No corpo, se transforma em um elemento tóxico. Quando identificado, enzimas produzidas no fígado passam a agir para destruí-lo. Porém, isso é possível até certa quantidade. O excesso, que não é metabolizado pelo órgão, fica acumulado, provocando os sintomas descritos.
A dor de cabeça surge por uma combinação de fatores, como a perda de água e a vasodilatação (o álcool dilata os vasos sanguíneos). Após as doses a mais, o coração passa a bombear sangue em maior velocidade, mas os vasos não acompanham se expandindo o suficiente. Já o enjoo e o vômito são reações para livrar o organismo do alto volume e das toxinas presentes.
O álcool também é capaz de interferir na qualidade do sono e algumas bebidas afetam ainda a flora intestinal. Por isso, muitos acabam com dor de barriga, gases e diarreia no dia seguinte. Além disso, por ser diurético, nos faz urinar com mais frequência, o que pode drenar rapidamente o corpo de líquidos, bem como minerais e vitaminas importantes, levando à desidratação. O resultado vem em sede acentuada, pressão sanguínea mais baixa e tonturas.
3. Calor extremo: suor e desidratação
A desidratação acontece quando o corpo perde mais líquidos do que ingerimos, causando uma redução no volume de água no organismo. Entretanto, o álcool é apenas uma das várias razões disso acontecer. A exposição prolongada ao calor e sol forte, que ocorre nesta época do ano, está igualmente presente nessa lista —e mais uma vez o desfecho atinge o coração.
Conforme o organismo perde líquido, sem a ingestão adequada de água, a quantidade de sangue circulando diminui. Os vasos sanguíneos vão se fechando (com a constrição de suas paredes) para manter a pressão dentro do ideal. O sangue fica mais grosso e a frequência cardíaca aumenta. O cenário pode gerar palpitações e batimentos cardíacos irregulares.
Uma desidratação severa é capaz de provocar uma grande diminuição do volume de sangue, o que resulta na redução excessiva da pressão. Quando o corpo não consegue entregar o fluxo de sangue e oxigênio adequados aos órgãos e tecidos, o organismo pode entrar em choque hipovolêmico, uma das complicações mais graves, às vezes com risco de vida, da desidratação.
Além disso, quando fica o clima fica muito quente, a transpiração é um dos caminhos do metabolismo para regular a temperatura corporal. Para isso acontecer, o coração busca compensar a situação batendo mais rápido.
O suor intenso pode, entretanto, desequilibrar os níveis de eletrólitos (minerais essenciais para o funcionamento do coração) e, desta forma, adicionar uma nova carga de estresse em um coração que já está trabalhando arduamente. Uma produção maior de suor pode levar, em situação extrema, à desidratação. Portanto, não se esqueça de beber muita água enquanto curte os dias de folia!
4. Uso de drogas
Para começar este tópico, é válido esclarecer que a palavra "drogas" aqui é refere-se a qualquer composto que possa causar mudanças no estado neurológico ou bioquímico de um indivíduo. Ou seja, nos referimos a drogas no geral, sejam elas naturais ou sintéticas, lícitas ou ilícitas —o que inclui o álcool. Essas substâncias (estimulantes, depressoras ou perturbadoras) afetam direta e indiretamente o sistema cardiovascular.
Os danos, principalmente quando o uso é frequente e abusivo, estão relacionados ao mau funcionamento ou deterioração do coração e/ou dos vasos sanguíneos, com impactos consideráveis na saúde.
De modo mais pontual, alguns desses compostos provocam, por exemplo, a elevação da pressão arterial, aumento acentuado da frequência ou distúrbios no ritmo cardíaco e a contração excessiva dos vasos do coração, exigindo trabalho extra do órgão no bombeamento do sangue.
Com o tempo e a continuidade do consumo, os entorpecentes acarretam no enfraquecimento da musculatura cardíaca, a cardiomegalia (aumento do coração), arritmias crônicas, obstruções nas artérias que irrigam o órgão, insuficiência cardíaca, infarto, AVC e até a morte.
5. Misturas perigosas
Como é possível imaginar, outra grande preocupação é a combinação dessas substâncias, ampliando os riscos de efeitos adversos e até fatais. Se uma droga traz riscos, o consumo simultâneo de múltiplas substâncias pode causar uma sobrecarga ainda mais significativa ao coração e até levar a overdose.
E isso pode incluir até combinações aparentemente normais, como bebida alcoólica e energético —produto que contém cafeína (estimulante que age no sistema nervoso central) e taurina (aminoácido sintetizado no fígado e cérebro, que trabalha na regulação dos níveis de água e sais minerais do sangue).
O álcool e os energéticos por si só já aceleram os batimentos e fazem subir a pressão. Juntos seus efeitos são potencializados e a mistura pode se tornar uma bomba no sistema cardiovascular. Um agravante: de modo geral, a combinação permite que o indivíduo tolere uma quantidade de bebida muito maior.
Outra interação que precisa de cuidado é com os medicamentos. E não apenas aqueles de uso contínuo, como para hipertensão, diabetes ou depressão. Um simples analgésico para dor de cabeça, por exemplo, quando misturado com bebida alcoólica (ou outra droga) em excesso, pode colocar a saúde em risco.
As reações vão desde a potencialização ou redução do efeito do remédio, alterações gastrointestinais até dores de cabeça intensas, palpitações, hipotensão, tontura, taquicardia, convulsões, intoxicação aguda, coma e a morte.
6. Do sedentarismo para uma verdadeira maratona
Se você não tem o hábito de praticar exercícios e, mais do que isso, se sua rotina inclui pouco movimento físico e um reduzido gasto de energia, é preciso ter atenção também com as maratonas que os dias de folia exigem em alguns casos. Há festas de Carnaval em que a programação é intensa e pode trazer danos se não houver preparo e cautela.
É mais ou menos o que acontece com aquelas pessoas que nunca praticam esportes e decidem virar corredores nas férias ou atletas só aos sábados e domingos. Isso porque expõem o corpo, e consequentemente o coração, a certos esforços em um curto espaço de tempo que talvez ele não esteja pronto ou acostumado a realizar.
O coração bombeia sangue em um fluxo e intensidade seguindo a demanda necessária ao esforço realizado. Ou seja, quando uma pessoa leva uma rotina tranquila, o órgão trabalhará de acordo com esse ritmo. Como se fosse treinado para isso.
Ao chegar o Carnaval, se ele passa a ser intensamente requisitado, pode não resistir ou dar conta da sobrecarga. Podemos dizer que o coração não está devidamente condicionado para tais atividades.
Nesses casos, especialmente se ainda houver a combinação dos fatores expostos acima, existe uma chance maior do surgimento de arritmias ou a ocorrência de um infarto. Os riscos crescem se já há um diagnóstico de doenças ou condições cardíacas ou uma tendência a elas.
E não é só coração que poderá sofrer as consequências. Sem o condicionamento necessário, se exigirmos demais do corpo, é possível que todo o organismo de alguma maneira seja afetado, a exemplo da musculatura e articulações, que podem apresentar dores e lesões.
7. Falta de descanso e recuperação do corpo
Sabemos que o Carnaval só acontece uma vez ao ano e que quem curte os dias de folia quer aproveitar ao máximo. Entretanto, o descanso de qualidade e uma boa noite de sono são parte essencial da saúde geral e precisam estar presentes durante essa época. Ter um sono suficientemente reparador oferece uma infinidade de benefícios.
O sono tem como finalidade proporcionar recuperação ao corpo —e consequentemente ao coração. Durante o período em que estamos dormindo o organismo entra em estado de compensação de energia. Há diminuição do ritmo cardíaco e redução da pressão arterial.
Um sono de qualidade ajuda ainda a aumentar os níveis de energia e a função imunológica, além de apoiar processos cognitivos e a regulação de atividades metabólicas. Por outro lado, estar em um estado prolongado de débito ou privação de sono pode gerar fadiga, mau humor, estresse, irritação, elevação da pressão, entre outras complicações.
8. Sexo sem camisinha
Nesta época, as campanhas de conscientização e ações preventivas para as doenças ou ISTs (infeções sexualmente transmissíveis) se intensificam. A ideia é aproveitar o Carnaval para reforçar a importância do uso da camisinha: praticar qualquer atividade sexual sem preservativo aumenta o risco de contrair ISTs, além da gravidez indesejada.
Vamos tomar a sífilis como exemplo. No início, ela provoca uma infecção e lesão genital. Com o passar dos dias, surgem outros sintomas, como febre, dores articulares e de cabeça, cansaço e manchas pelo corpo. Se o quadro não for devidamente diagnosticado e tratado pode se agravar e as lesões atingirem cartilagem, ossos, cérebro, coração e a artéria aorta.
Vale reforçar que a bactéria causadora da sífilis pode ficar encubada no organismo por até 30 anos e é possível contrair a doença mais de uma vez na vida. Portanto, seja no Carnaval ou em qualquer outra época do ano, sexo com segurança é fundamental.
Cuidados que valem para todos!
Procure ainda não pular refeições ou comer apenas "comida de rua" (alimentos prontos, industrializados ou fast food, por exemplo). Reserve pelo menos uma refeição por dia para que ela seja completa, equilibrada e reforçada, incluindo carboidratos, proteínas, verduras, legumes e frutas. Se possível, leve lanches ou snacks saudáveis para consumir ao longo do dia.
É importante destacar que, embora a probabilidade de muitos desses problemas mencionados acometerem indivíduos com fatores de risco (como pressão alta, diabetes, colesterol e obesidade) e questões cardiovasculares (ou outros distúrbios) preexistentes sejam maiores, os riscos existem para pessoas aparentemente saudáveis, de qualquer idade, sem histórico pessoal ou familiar de complicações de saúde.
Portanto, todo mundo deve ter cuidado.
Percebeu que exagerou em algum momento? O ideal é descansar, beber muita água e procurar fazer uma alimentação mais leve até se sentir melhor. É possível aproveitar o Carnaval, mas sem ignorar os sinais do corpo ou colocar à saúde em risco.
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