Você já experimentou entrar em uma banheira de gelo? Entenda prós e contras
De uns tempos para cá, se tornou cada vez mais comum ver fotos e vídeos na internet e redes sociais de desconhecidos, influencers, celebridades e atletas dentro de uma banheira, tanque ou piscina de gelo. E apesar da imersão em água fria ter atraído mais atenção ultimamente, em especial por seus supostos benefícios à saúde física e mental, a técnica não é novidade e já é praticada há muito tempo em diversas partes de mundo.
Os adeptos apontam vantagens particularmente no alívio de dores e melhora na recuperação muscular após atividades físicas intensas.
A banheira de gelo também tem sido indicada para reduzir inflamações, potencializar o sistema imunológico, melhorar a qualidade do sono e da circulação sanguínea, além de estimular a liberação de certos hormônios, como dopamina e endorfina, que aliviam o estresse e propiciam a sensação de bem-estar.
Como funciona
A prática, em geral, consiste em submergir o corpo em água com gelo, com temperatura em torno de 4°C e permanecer por, aproximadamente, 3 ou 4 minutos.
O princípio, quando pensamos na reparação do corpo, é o mesmo de aplicarmos bolsas de gelo em pontos específicos após uma contusão para redução do inchaço e o alívio da dor. A baixa temperatura ajuda a acelerar o processo, estimulando a circulação do sangue rico em oxigênio para que haja a recuperação do tecido muscular.
Entretanto, a bolsa atua em um grupo muscular localizado. Já a imersão, envolve e influencia o funcionamento do corpo como um todo. E submeter o organismo a temperaturas frias extremas pode trazer uma série de riscos, sobretudo para o coração.
O que acontece quando entramos em uma água gelada?
A imersão em água gelada provoca aumento repentino e rápido da respiração, a vasoconstrição ou estreitamento dos vasos sanguíneos e a redução do fluxo de sangue para regiões periféricas, a exemplo de braços, pernas, mãos, pés, orelhas e nariz.
Isso porque o organismo reage em um esforço para conservar o calor interno e manter a temperatura corporal, assim como garantir a irrigação e o funcionamento adequado de órgãos vitais, como coração, cérebro e pulmões.
Cenário que de certa forma estimula a circulação sanguínea, entretanto, também gera aumento da pressão arterial e estresse para o coração, uma vez que o órgão vai precisar trabalhar mais e em um ritmo mais intenso para bombear sangue através de vasos comprimidos.
E você pode estar se perguntando: e isso é seguro? Geralmente, sim, para pessoas saudáveis. A tendência é que essas mudanças sejam temporárias e tudo volte ao normal ao aquecermos o corpo novamente.
Riscos para o coração
Uma queda brusca da temperatura corporal, sobretudo abaixo dos 35ºC, faz com que o organismo perca muito calor, comprometendo as funções metabólicas.
Com o choque térmico causado pelo frio intenso e o estresse cardíaco súbito e imediato, ocorre a aceleração dos batimentos e um considerável aumento das chances de taquicardia, arritmias (batimentos irregulares) e, em casos mais sérios, até infartos.
Para indivíduos com questões cardiovasculares que fazem uso de medicamentos, como os betabloqueadores, que diminuem a pressão arterial e reduzem a frequência cardíaca, o cuidado deve ser redobrado. É possível que o organismo tenha mais dificuldade na adaptação dos efeitos de uma queda repentina de temperatura.
Outra preocupação é com a hipertensão: pessoas com pressão alta podem sofrer um pico prejudicial e danoso. O estresse adicional sobre o sistema cardiovascular nesses casos é capaz de levar a complicações, especialmente se o coração já estiver trabalhando mais do que o normal para fazer o sangue circular. Ou seja, especialmente para quem já tem algum problema cardiovascular prévio, o banho de gelo é arriscado.
Complicações
A exposição prolongada à água gelada leva ainda a um quadro de hipotermia (o corpo perde calor mais rapidamente do que produz) em diferentes graus, desde leve até grave, com risco de vida.
Os sintomas incluem:
- tremores
- confusão
- letargia
- dificuldade de fala
- falta de coordenação motora
- pele fria e pálida
- pupilas dilatadas
- pulso fraco
- em quadros graves, coma e parada cardíaca
Além disso, no caso da água em fase de congelamento, cresce a possibilidade de danos na pele, como queimaduras, e outras consequências dermatológicas.
Há benefícios para a saúde cardiovascular?
Alguns estudos sugerem que as pessoas que se adaptam à imersão em água fria por meio de banhos de gelo podem reduzir inflamações no organismo, fortalecer o sistema imunológico e melhorar a saúde cardiovascular. Mas as evidências ainda são escassas.
Especialistas alertam que, em certos casos, chocar o corpo com água gelada faz mais mal do que bem, mesmo em temperaturas menos extremas. O fato é que hoje se sabe mais sobre os perigos da imersão no gelo do que efetivamente sobre seus potenciais efeitos terapêuticos e benéficos.
Portanto, faltam evidências científicas que comprovem o uso do gelo em outros contextos —além da recuperação de atividades físicas. Dessa forma, antes de listar possíveis benefícios são necessárias mais pesquisas para saber exatamente como esse tipo de prática afeta a saúde do coração em longo prazo.
Cuidados: temperatura da água e adaptação
É importante ressaltar que os efeitos causados pela exposição do corpo a água gelada podem variar de pessoa para pessoa e dependem de vários fatores, incluindo a temperatura da água, a duração da imersão e a condição de saúde individual. Assim, deve ser sempre realizada com cautela, sob supervisão e orientação médica.
Se você nunca experimentou entrar em uma banheira com gelo, a recomendação é primeiro conversar com um profissional de saúde e realizar um check-up, especialmente se tiver alguma condição de saúde já diagnosticada. Se não houver problemas ou contraindicações, é indicado começar aos poucos, aumentando gradativamente o tempo de exposição ao frio.
No entanto, ela não deve exceder a marca de 10-15 minutos. Exposições mais longas aumentam os riscos de hipotermia e outros efeitos negativos, especialmente em organismos não acostumados ou treinados para lidar ao frio extremo.
A temperatura da água é outro fator crucial. Para quem está começando, é aconselhável iniciar com uma temperatura um pouco mais quente, em torno de 12°C a 15°C.
A adaptação gradual ajuda a minimizar o choque, reduzindo a probabilidade de respostas cardíacas adversas. Lembrando que as chances de hipotermia continuam ao sair da água, razão pela qual se deve imediatamente trocar as roupas e buscar aquecer o corpo.
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