Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Continuar ou interromper a PrEP contra o HIV? Eis a reflexão
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Por diversas vezes, discuti nesta coluna a importância do acesso facilitado para os interessados em iniciar a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e da boa adesão aos comprimidos por seus usuários, para que esse método de prevenção consiga ajudar no controle dos novos casos dessa infecção.
Afinal, da mesma forma que a camisinha, a PrEP só protege do HIV aqueles que a utilizam de forma correta e constante.
Olhando inicialmente para o conceito de "uso correto", enquanto só existe um jeito de usar a camisinha, a ciência tem se esforçado no desenvolvimento de formas alternativas e eficazes de uso da PrEP. Além da PrEP tomada em comprimidos diariamente, temos validadas também a PrEP Sob Demanda e a PrEP Injetável de Longa Duração. E, em fase de pesquisa clínica, temos ainda uma série de outras formas promissoras de PrEP, que em breve serão boas notícias para se divulgar.
O que quero discutir aqui, no entanto, é o conceito de "uso constante" da PrEP. Desde os primeiros estudos de implementação da PrEP, uma preocupação constante é a persistência, depois de iniciada, dos seus usuários no seguimento e uso de PrEP.
Uma metanálise publicada no mês passado na revista científica Lancet HIV foi o maior estudo a se debruçar sobre a persistência em PrEP realizado até hoje. Foram analisados conjuntamente 59 artigos que acompanharam mais de 43 mil participantes, demonstrando que, em todo o mundo, 41% daqueles que iniciam PrEP abandonaram seu uso nos primeiros 6 meses.
Nos detalhes, o estudo mostrou também que esse abandono tendeu a diminuir conforme uso da PrEP se estende por mais tempo, mas foi ainda maior entre os usuários cisgênero e heterossexuais de PrEP. Por outro lado, a persistência em PrEP foi maior entre homens gays e pessoas trans, e possibilidade de uso da PrEP Sob Demanda, além da diária, esteve associada a uma redução significativa na interrupção dos comprimidos.
A porcentagem de abandono da PrEP pode assustar num primeiro momento, mas é preciso ponderar: será que todos que interrompem a PrEP estão fazendo algo errado?
Existem muitos motivos para uma pessoa querer deixar de tomar a PrEP. Segundo a metanálise citada, o mais frequentemente relatado pelos participantes que deixaram de tomar PrEP foi o fato de não se sentirem mais sob risco de se infectarem com o HIV.
Além disso, existe a dificuldade de adesão aos comprimidos ou às consultas de seguimento, o receio com os possíveis efeitos colaterais ou até mesmo o dinheiro gasto com a medicação, quando a PrEP não é distribuída gratuitamente, como no Brasil, pelo sistema público de saúde.
Qualquer que seja o motivo para interromper a PrEP, o ideal é que antes do abandono a situação seja discutida com o profissional da saúde que realiza o seu acompanhamento.
O motivo pode realmente fazer sentido e deve ser acolhido, como no caso de um casal sorodiferente em que o parceiro que vive com HIV, após o início do tratamento antirretroviral, atingiu a carga viral indetectável de forma sustentada, deixando, portanto, de transmitir o seu vírus por via sexual.
Em outros casos, no entanto, conceitos equivocados sobre prevenção podem estar guiando a motivação de abandono. Lembro-me aqui do exemplo de um rapaz de 18 anos de idade que decidiu abandonar a PrEP, pois tinha começado a namorar fazia 5 dias. Infelizmente, o seu relacionamento não durou muito tempo, mas fico feliz de tê-lo convencido a continuar com sua PrEP.
No Brasil, o cenário não é muito diferente do encontrado na metanálise. Segundo dados do Ministério da Saúde, desde 2018, das 64.066 pessoas que iniciaram a PrEP pelo SUS, 39.223 continuam em seguimento tomando seus comprimidos, o que corresponde a 39% de abandono. Na população cis e heterossexual, esse número sobe para perto de 55%.
Tão importante quanto fazer a PrEP chegar a quem pode se beneficiar dela é ajudar os mais vulneráveis ao HIV a persistirem no seu uso. Na Prevenção Combinada, as pessoas devem ter autonomia para, com o conhecimento sólido e atualizado oferecido pelos profissionais da saúde, possam escolher os métodos de prevenção que se consideram capazes de usar, naquele momento das suas vidas, de forma correta e constante.
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