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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estudo com droga anti-monkeypox traz esperança para pacientes e médicos

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

26/08/2022 04h00

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Uma das coisas que mais frustram um profissional da saúde é não conseguir ajudar o seu paciente quando ele precisa.

No surto atual de monkeypox, iniciado na Europa e já presente em todos os continentes, tenho a certeza de que uma multidão de profissionais da saúde se frustrou. Ainda que pouco frequentes, os casos mais graves da doença deixam a equipe médica sem alternativas para um tratamento que de fato melhorem os sintomas causados pela doença.

A letalidade tem se mantido baixa. Entre os mais de 46.000 casos confirmados, foram registradas apenas cerca de dez mortes em decorrência da infecção. No entanto, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estima-se que entre 7% e 10% dos casos são classificados como graves, o que inclui tanto os quadros de dor intratável em lesões orais, anais ou genitais, quanto os de acometimento ocular, pulmonar, cerebral ou disseminado da doença.

Os casos de infecção generalizada são ainda mais raros, ocorrendo em pessoas imunodeprimidas —e pode levá-las à morte. Enquanto isso, os pacientes menos graves, mas com dores que não melhoram com os medicamentos analgésicos, têm se multiplicado em consultórios médicos e hospitais pelo mundo.

Até o momento, a frustração dos profissionais da saúde está em nos restar apenas informar ao paciente que dentro de alguns dias ou semanas ele deve começar a melhorar.

Desde o início do surto, médicos e pesquisadores acreditam que uma medicação com ação antiviral específica contra o monkeypox seria de grande utilidade para reduzir a mortalidade pela doença, o período de transmissibilidade viral, bem como a intensidade e a duração dos sintomas.

Entre os candidatos a esse papel, o principal é o Tecovirimat, uma droga disponível em comprimidos e para aplicação endovenosa, que em laboratório mostrou-se capaz de impedir a saída do vírus monkeypox de uma célula doente para infectar outras.

O Tecovirimat foi desenvolvido para tratamento da varíola humana, doença causada pelo vírus smallpox, que foi erradicada no século passado. No entanto, já era conhecida sua ação antiviral in vitru contra todos os vírus do gênero orthopoxvirus, do qual faz parte também o monkeypox.

A notícia parece boa, mas até agora não havia sido realizado nenhum ensaio clínico controlado avaliando o desempenho do Tecovirimat no tratamento de monkeypox em humanos, provavelmente por não haver interesse na doença nem número suficiente de casos até maio de 2022. Tudo o que sabemos sobre o seu uso vem de estudos feitos com macacos infectados experimentalmente com o monkeypox.

Felizmente, parece que agora isso vai mudar. Na última semana, pesquisadores do Reino Unido anunciaram o início do estudo Platinum para testar o uso do Tecovirimat em humanos. Ele pretende recrutar 500 participantes entre homens, mulheres, crianças, saudáveis e imunodeprimidos com o diagnóstico recente de infecção por monkeypox. Os participantes incluídos serão sorteados para receber 14 dias de Tecovirimat ou placebo em comprimidos.

Os pesquisadores que lideram o estudo são os mesmos que conduziram o estudo Recovery, que determinou quais eram os tratamentos eficazes para covid-19 em 2020. Segundo nota divulgada pela equipe, é preciso mais do que uma mobilização qualquer no enfrentamento do surto de monkeypox. É preciso uma mobilização que funcione de verdade.

Os primeiros resultados do Platinum são esperados para o final de 2022. Sendo eles positivos, acreditamos que o Tecovirimat poderá ser usado também como Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ao monkeypox virus.

Até lá, teremos um longo semestre para lidar com sintomas por vezes bastante incômodos da doença e com a frustração.