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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Novidade sobre antirretroviral para prevenção da covid-19 chega em boa hora

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

07/10/2022 04h00

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Com a chegada do outono no hemisfério norte, epidemiologistas e autoridades de saúde pública já começam a ficar apreensivos com a possibilidade de surgimento de uma nova onda de casos de covid-19. É nessa época mais fria do ano que, por passarem mais tempo em lugares fechados e aglomerados, as pessoas estão mais suscetíveis às infecções causadas por vírus respiratórios.

Somado a isso, nos últimos meses novas variantes de preocupação do Sars-CoV-2, como a BA.2.75.2 e a BQ.1.1, foram identificadas em diferentes regiões do mundo. O receio dos pesquisadores é que com as mutações adquiridas em seu material genético, essas variantes consigam escapar da resposta imune acumulada na população por meio da vacinação contra covid-19 e dos mais de 78 milhões de casos da doença desde o início da pandemia.

Diante da incerteza sobre o que iremos enfrentar pela frente, já vejo as pessoas questionando como deverá ser a estratégia de vacinação daqui para frente. Até quando vamos continuar nos vacinando periodicamente? Receberemos a versão atualizada da vacina? Por enquanto, a melhor forma de garantir a prevenção contra a covid-19 ainda está indefinida.

E é justamente nesse cenário de dúvidas que com a publicação de um novo estudo na respeitada revista científica Aids na última semana, que vemos reacender um debate já extenso sobre a possibilidade de uso de um medicamento antirretroviral para a prevenção da infecção pelo coronavírus e de formas graves da covid-19.

Uma vez que, assim como o HIV, o Sars-CoV-2 tem RNA em seu material genético, há anos existe a hipótese de que os medicamentos que bloqueiam a replicação de um funcionariam também para o outro. Em alguns estudos anteriores, o uso do antirretroviral tenofovir disoproxil fumarato (TDF) já havia sido associado a menor incidência e gravidade da covid-19, mas em outros esse efeito não foi demonstrado.

O novo estudo publicado essa semana acrescenta novidades e evidências mais fortes nesse debate. Nele, pesquisadores norte-americanos da Universidade de Harvard analisaram retrospectivamente um grande banco de dados sobre o acompanhamento de pessoas vivendo com HIV nos Estados Unidos e avaliaram se os riscos de infecção sintomática pelo coronavírus e de internação em decorrência da covid-19 variavam de acordo com o esquema antirretroviral utilizado pelos indivíduos.

Foram incluídos na análise 20.494 pessoas vivendo com HIV que foram acompanhados entre fevereiro de 2020 e outubro de 2021, todas elas em terapia antirretroviral e com carga viral indetectável no ano anterior à inclusão. Diferentes esquemas de antirretrovirais foram utilizados para tratamento do HIV, mas aqueles que continham o TDF foram associados a um risco 35% menor de desenvolver covid-19 sintomática e 57% menor de necessitar de internação hospitalar por causa da doença.

Por outro lado, os autores do trabalho discutem que no grupo que usava esquemas contendo TDF havia menor proporção de indivíduos com insuficiência renal, uma vez que esse medicamento é evitado nesses pacientes devido aos seus potenciais efeitos colaterais renais.

Sabendo que o comprometimento renal é sabidamente um fator de risco para a evolução mais grave da covid-19, a análise estatística fez o ajuste para essa e outras variáveis de confusão, como a presença de diabetes, e o efeito protetor do TDF se manteve.

Esse estudo incluiu um número bem maior de participantes do que os anteriores, e a análise foi feita levando em conta um período mais longo de acompanhamento. No entanto, não é possível ainda afirmar apenas com esses resultados que o uso do TDF é uma forma eficaz de prevenção contra a covid-19. Para isso são necessários mais estudos, de preferência ensaios clínicos randomizados em que o TDF seja comparado com placebo.

Assim é a rotina da ciência. Os achados em estudos observacionais devem ser confirmados em ensaios clínicos para que possamos dizer que são verdadeiros. E até lá, devemos estar sempre atentos às curvas de incidência de covid-19 e manter a carteirinha de vacinação atualizada.