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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PrEP Sob Demanda é enfim oficialmente recomendada pelo Ministério da Saúde

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

16/12/2022 04h00

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No apagar das luzes do ano de 2022, quando ninguém esperava mais nada da atual gestão do Ministério da Saúde, o Brasil surpreende e passa a fazer parte dos países que adotam a PrEP Sob Demanda como estratégia de saúde pública de prevenção do HIV.

Explicando para quem não está familiarizado com a sopa de letrinhas da prevenção, PrEP é sigla de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV. Trata-se do uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas que não vivem com HIV como forma de protegê-las dessa infecção.

A PrEP clássica, que consiste no uso diário de comprimidos coformulados de tenofovir e entricitabina, não apresentou efeitos colaterais graves e teve sua eficácia protetora contra o HIV de mais de 99% comprovada em uma série de ensaios clínicos publicados a partir de 2010, desde que usada com boa adesão.

O uso da PrEP diária já é recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) desde 2015 e foi adotado como política de saúde pública de prevenção do HIV no Brasil no início de 2018.

Já a PrEP Sob Demanda começou a ser estudada a partir de 2015 por pesquisadores franceses no estudo Ipergay. Nele, foi testada uma forma diferente de se tomar os mesmos comprimidos utilizados na PrEP clássica, porém não diariamente, e, sim, somente quando um indivíduo fosse passar por uma situação de risco de infecção por HIV.

Em outras palavras, na PrEP Sob Demanda, os comprimidos só precisam ser tomados antes e depois de uma relação sexual.

Inicialmente, são tomados 2 comprimidos juntos, de 2 a 24 horas antes da relação sexual, e depois, 2 comprimidos separados, tomados um por dia, nos dois dias seguintes (2-1-1).

PrEP sob demanda - Reprodução/Ministério da Saúde - Reprodução/Ministério da Saúde
Imagem: Reprodução/Ministério da Saúde

A conclusão do estudo Ipergay, assim como a de todos os estudos de PrEP, seja diária ou sob demanda, é sempre a mesma: PrEP é como a camisinha, funciona muito bem se você usar direito.

Dessa forma, a PrEP revoluciona a prevenção do HIV pois quando recomendada em conjunto com a camisinha, multiplica as chances da população se manter livre do HIV. E a PrEP sob demanda é uma inovação dentro da inovação, pois consagra ainda mais uma forma de "uso direito", eficaz e seguro, da PrEP.

Idealizada para indivíduos com menores frequências de exposições sexuais, a PrEP sob demanda passou a ser recomendada pela OMS em 2019 para indivíduos que têm menos de 2 relações sexuais por semana. Essa recomendação se baseou em outro estudo desenvolvido também por pesquisadores franceses chamado Prévenir.

Nesse estudo, mais de 3.000 indivíduos vulneráveis ao HIV em Paris, França, receberam os comprimidos de PrEP e puderam decidir qual a forma de PrEP que fazia mais sentido usar em cada período de suas vidas: diária ou a sob demanda. Mais do que isso, a depender do momento de suas vidas sexuais, poderiam migrar de um esquema posológico para o outro.

Depois de anos de acompanhamento, o estudo Prévenir registrou apenas 6 casos de infecção por HIV, todos eles em participantes que haviam abandonado os comprimidos de PrEP semanas ou meses antes da soroconversão.

Na minha opinião, o estudo Prévenir é o mais bonito já feito até hoje pois comprova a ideia de que a melhor prevenção do HIV é aquela baseada em autonomia, e não em recomendações engessadas e prescritivas.

Além do Brasil, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e França já utilizam a PrEP sob demanda como política pública de prevenção do HIV. Seguindo as recomendações da OMS, essa forma de prevenção pode ser uma opcão para homens cisgênero gays e bissexuais e por travestis e mulheres trans que não fazem uso de hormônios feminilizantes com estradiol.

A restrição a esses grupos existe, pois nos estudos Ipergay e Prévenir, praticamente todos os participantes incluídos foram homens cis gays, não havendo, portanto, dados robustos do uso da PrEP sob demanda em outras populações.

Além disso, estudos anteriores demonstraram que o uso de estradiol pode reduzir os níveis do antirretroviral tenofovir no sangue de mulheres trans. Apesar de não haver evidência de que essa redução possa comprometer a eficácia preventiva da PrEP diária, a OMS recomenda a realização de mais estudos avaliando a PrEP sob demanda em mulheres trans hormonizadas antes da liberação do seu uso para essa população.

Se você faz parte de um dos grupos indicados acima e considera que a PrEP sob demanda pode ser uma alternativa de prevenção na sua vida, converse com o profissional da saúde que o acompanha.

Parabéns, Ministério da Saúde, por trazer o Brasil para a modernidade da prevenção do HIV.