As cenas dos próximos capítulos na prevenção do HIV e de outras ISTs

Esse texto é para você, que nos últimos anos não deu muita atenção para a prevenção do HIV e de outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), e ainda acha que esse assunto se esgota no "use camisinha".

Se esse for o seu caso, acredite: você está desatualizado. Recentemente, houve uma revolução no campo da prevenção e o mundo de hoje nunca teve melhor oportunidade para enfim controlar de forma efetiva a circulação dessas infecções. E quer saber mais? Nós estamos vivendo apenas o começo dessa revolução.

Na última década, por percebermos que, assim como na contracepção, a recomendação do uso do preservativo como forma isolada de prevenção tinha um impacto populacional limitado, novos métodos de prevenção passaram a ser pesquisados e desenvolvidos.

A ideia era que com mais opções de prevenção, diminuiria o risco de alguém continuar vulnerável ao HIV e às outras ISTs.

Esse conceito começou a se tornar realidade com o desenvolvimento das Profilaxias Pré e Pós-Exposição ao HIV (PrEP e PEP, respectivamente), métodos que consistem no uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas negativas para HIV com o objetivo de protegê-las dessa infecção. E posteriormente ganhou mais força com a descoberta que uma pessoa que vive com HIV em tratamento adequado deixa de transmitir seu vírus por via sexual.

Nos lugares em que essas estratégias tiveram sua implementação bem-sucedida, como Londres, Nova York ou Austrália, o que se viu foi o declínio inédito e significativo do número de novos casos de infecção por HIV e há quem já esteja falando de erradicação da epidemia de HIV até 2030.

Se no passado por décadas repetimos exaustivamente o mantra enfadonho do uso da camisinha, agora vemos que os gestores de saúde inteligentes estão buscando promover a ampliação da testagem e do tratamento do HIV, e encontrando meios de facilitar o acesso à PrEP. Levando, assim, o benefício dessas novas tecnologias a quem mais precisa.

Quer um exemplo? No município de São Paulo, cuja abordagem da prevenção é um modelo a ser seguido pelo resto do país, acabou de ser inaugurada a Estação Prevenção Jorge Beloqui. Homenageando o importante ativista que fez história no Brasil na luta por direitos humanos, prevenção e tratamento do HIV, o novo serviço instalado estrategicamente na Estação República do metrô agora disponibiliza PrEP e PEP gratuitamente de terça a sábado das 17h às 23h.

Diante desse cenário de otimismo, saiba que ainda existe espaço para mais pesquisa e desenvolvimento de novas alternativas dentro da prevenção. E acredito que as novas ondas que ainda estão por vir vão se dar em três frentes.

Na primeira, teremos disponíveis os métodos multiuso de prevenção, como os comprimidos e os anéis vaginais em fase de estudo que contêm conjugados os antirretrovirais da PrEP e os anticoncepcionais. Com a simplificação da intervenção, espera-se facilitar a vida e melhorar a adesão das pessoas que optarem por essa estratégia.

Na segunda, poderemos em breve escolher a via de administração da PrEP e da PEP. Além dos comprimidos já disponíveis e das injeções intramusculares bimestrais ainda em etapas iniciais de incorporação no país, existem em fase de pesquisa os antirretrovirais administrados na mucosa sexual por meio de duchas anais e de comprimidos vaginais ou retais. Além disso, existe o plano de desenvolvimento de um implante subcutâneo de longuíssima duração com liberação prolongada de antirretrovirais que seria trocado anualmente.

E por fim, dentro de pouco tempo poderemos contar também com as profilaxias medicamentosas também na prevenção contra ISTs bacterianas, como sífilis, gonorreia e clamídia. Nesse tópico, estudos recentes têm encontrado bons resultados com o uso de uma profilaxia com antibiótico.

Analisando o desenvolvimento recente da prevenção do HIV e de outras ISTs, não é difícil notar a similaridade existente com os caminhos tomados nas últimas décadas pelos métodos contraceptivos. A semelhança existe até mesmo na resistência da sociedade em aceitar a mudança de paradigmas e as novas e eficazes intervenções.

Por isso, para quem estava desatualizado e ainda achava que a camisinha seria suficiente, eu recomendo que já vá se acostumando, pois querendo você ou não, a revolução na prevenção já começou.