Rico Vasconcelos

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Opinião

Estudo PrEPVacc é a aposta da vez para uma vacina contra HIV

No ano de 1987, apenas 6 anos depois dos primeiros casos de infecção por HIV, já se iniciava nos Estados Unidos o primeiro ensaio clínico em busca de uma vacina contra essa infecção. A esperança na época era a de que, com a vacina, em alguns anos a epidemia de HIV/Aids estivesse totalmente controlada.

Essa vacina falhou e não foi capaz de proteger ninguém do HIV. Exatamente da mesma forma, falharam também todas as outras dezenas de candidatas a vacinas experimentais testadas em diversos outros ensaios clínicos realizados nas décadas seguintes.

Somente em um único estudo (RV144), realizado em meados dos anos 2000 na Tailândia, a vacina testada conseguiu alcançar uma modesta proteção reduzindo em 30% o risco de infecção por HIV. No entanto, quando essa mesma vacina foi testada em outro estudo (Uhambo) na África do Sul em 2020, não promoveu qualquer proteção.

Depois disso, todas as esperanças para o desenvolvimento de uma vacina realmente efetiva contra o HIV se voltaram para dois ensaios clínicos que testariam uma nova e sofisticada vacina experimental nas Américas e na África. Entretanto, mais uma vez nenhum dos estudos (Imbokodo em 2021 e Mosaico em 2023) encontrou qualquer eficácia preventiva com a vacina.

Enquanto a comunidade científica ainda se recupera da ressaca do estudo Mosaico, a próxima candidata a vacina contra o HIV chega ao centro do palco. Trata-se do estudo PrEPVacc, um ensaio clínico com um desenho complexo e que em muitos aspectos é original e inovador.

Idealizado e desenvolvido por pesquisadores africanos, o PrEPVacc é o primeiro estudo de vacina contra o HIV com financiamento europeu e não estadunidense. Ele é também o primeiro estudo que combina o uso de vacinas experimentais com o de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) ao HIV.

As duas vacinas experimentais que serão testadas no PrEPVacc foram elaboradas com DNA proviral do HIV associado a uma base de proteína. Em estudos anteriores, elas já se demonstraram seguras e capazes de induzir a produção de resposta imune contra o HIV. Resta agora descobrir se a imunidade induzida protege alguém da infecção por HIV.

Para isso, foram recrutados 1.513 participantes homens e mulheres com idade entre 18 a 40 anos na África do Sul, Uganda e Tanzânia. Todos eles passaram por dois sorteios e por duas etapas. Na primeira etapa, com a duração de 6 meses, enquanto recebiam as injeções de vacina ou placebo, os participantes receberam PrEP em comprimidos diários.

Na segunda etapa, depois de terminadas as injeções, a PrEP foi interrompida e os participantes passaram a ser acompanhados fazendo periodicamente a testagem de HIV.

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Primeiramente, no início da primeira fase, cada participante foi sorteado aleatoriamente para receber um dos dois tipos de imunizantes experimentais ou para receber placebo. Em seguida, esse mesmo participante foi sorteado novamente para, nos primeiros 6 meses, receber comprimidos da PrEP clássica (tenofovir+entricitabina) ou de uma PrEP de segunda geração (tenofovir alafenamida+entricitabina).

O primeiro objetivo desse estudo é comparar os efeitos colaterais e a prevenção contra o HIV obtidos com os dois diferentes tipos de PrEP enquanto os participantes ainda estão completando as doses da vacinação.

A tal PrEP de segunda geração até agora foi testada apenas em um estudo (Discover), que incluiu homens cisgênero gays e mulheres trans. Ele demonstrou eficácia protetora semelhante à da PrEP clássica, mas provocou menos efeitos colaterais renais e ósseos. No estudo PrEPVacc, essa nova forma de PrEP vai ser testada pela primeira vez em mulheres cisgênero.

O segundo objetivo do estudo é avaliar, depois de terminada a primeira etapa, se as duas vacinas experimentais vão proteger ou não os participantes do HIV.

Depois de terminada a primeira etapa, os participantes podem continuar em PrEP se assim quiserem, mas eles terão que buscar os comprimidos no serviço de saúde do país. Da mesma maneira, se um participante não quiser tomar PrEP na primeira etapa, ele pode continuar participando do estudo sem tomar comprimidos.

O estudo PrEPVacc completou a inclusão de participantes em março de 2023 e pretende divulgar os primeiros resultados no final de 2024. Até lá, entramos todos mais uma vez em compasso de espera, aguardando pela tão esperada vacina protetora contra o HIV.

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Uma vacina realmente eficaz será muito útil para o controle da epidemia de HIV/Aids. Enquanto isso não chega, é fundamental que todos estejam por dentro dos diferentes métodos de prevenção combinada já disponíveis, para que possam encontrar aqueles que se encaixam em suas vidas.

Bom trabalho para os pesquisadores do PrEPVacc!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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