Rico Vasconcelos

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Opinião

São Paulo ensina para o Brasil como controlar a epidemia de HIV

Hoje é dia 1º de dezembro, dia em que, desde 1988, é celebrado o Dia Mundial da Aids. Naquele ano, a data foi criada para homenagear todas as pessoas que perderam suas vidas em decorrência dessa doença. Desde o início da epidemia de HIV, foram mais de 40 milhões.

Nos últimos anos, a data ganhou novos significados e acredito que, hoje, ela deve ser usada para promover a ideia de que já temos todas as tecnologias necessárias para zerar os novos casos e as mortes por HIV/Aids. Inclusive, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a meta é de controle da epidemia de HIV até 2030.

E como o Brasil está nessa foto? Afinal, 2030 já está logo ali.

Sem dúvidas, graças à existência do SUS e do histórico Programa Brasileiro de HIV/Aids, do Ministério da Saúde, o Brasil ocupa posição de protagonismo e privilégio na América Latina no enfrentamento dessa epidemia. No entanto, devido ao seu tamanho, às suas desigualdades sociais e regionais, e a entraves políticos, atingir a meta até 2030 é um desafio enorme para o país.

Aqui, na esteira das campanhas dos meses coloridos, uma lei de 2017 estendeu a causa do dia 1º para todo o Dezembro Vermelho e para todas as outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), além do HIV.

A ideia era que a conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento dessas infecções se estendessem por todo o resto do ano, fazendo com que as políticas públicas brasileiras voltadas para o HIV e outras ISTs de fato cumprissem seus objetivos. Mas, infelizmente, o que vemos no país é um verdadeiro mosaico de diferentes respostas a essa epidemia.

Entre todos os bons exemplos existentes nesse quadro, o município de São Paulo com certeza é o melhor. Mesmo sendo o mais populoso do país, São Paulo nos últimos anos não teve medo de enfrentar seus desafios e desigualdades, e brigar para fazer as políticas públicas alcançarem o maior número possível de indivíduos, especialmente os mais vulneráveis ao HIV/Aids.

Por meio de diferentes e incansáveis estratégias, a Coordenadoria de IST/Aids facilitou o acesso à prevenção no município, que hoje é responsável, sozinho, por 10% dos serviços de PrEP e 30% dos usuários dessa profilaxia de todo o Brasil. Além disso, ampliou a testagem e otimizou o tratamento do HIV, alcançando em 96% da população vivendo com HIV a carga viral indetectável, zerando com isso o risco de transmissão sexual desse vírus.

O resultado de todo esse empenho coordenado foi a redução sustentada dos novos casos de HIV desde 2016, atingindo esse ano a queda inédita dessa taxa de 45%, segundo o recém-publicado Boletim Epidemiológico do município.

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As boas notícias não param por aí. Em 2023, São Paulo recebeu novamente a certificação de que, desde 2019, mantém controlada a transmissão materno-infantil do HIV. Isso reflete a qualidade do pré-natal oferecido para as gestantes no município.

Para se tornar, entretanto, a primeira cidade brasileira a eliminar a transmissão sexual do HIV, São Paulo ainda tem um longo caminho pela frente. Um caminho sobretudo de combate às desigualdades raciais de acesso à saúde. Mas certamente está na direção certa.

A única forma do Brasil atingir suas metas de controle da epidemia de HIV/Aids até 2030 será seguindo os passos do município de São Paulo.

Se entre 2016 e 2022 você que mora em São Paulo se testou para HIV ou usou camisinha, PEP, PrEP ou o seu tratamento antirretroviral com boa adesão, também contribuiu para o sucesso desses números.

Nesse início de Dezembro Vermelho, parabéns para você e parabéns pelo exemplo, São Paulo!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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