Rico Vasconcelos

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Opinião

Estudo vai avaliar PrEP Sob Demanda experimental entre mulheres

Quando falamos que na última década a ciência está conseguindo multiplicar os métodos de prevenção do HIV, um ponto que costuma chamar a atenção de quem acaba de chegar tema é a impossibilidade do uso da PrEP Sob Demanda por mulheres cisgênero. Mas isso parece estar começando a mudar.

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) ao HIV é um método de prevenção em que medicamentos antirretrovirais são utilizados por pessoas não-infectadas por esse vírus com o objetivo de reduzir o seu risco de infecção.

A PrEP clássica envolve comprimidos tomados diariamente, enquanto na PrEP Sob Demanda eles são usados apenas antes e depois das relações sexuais. Quando usadas corretamente, as duas opções de PrEP têm eficácia protetora igualmente alta contra o HIV, permitindo que cada pessoa com autonomia escolha o método que melhor se adapta à sua vida.

Essa história da autonomia, no entanto, funciona bem apenas quando consideramos os homens cisgênero pois a PrEP Sob Demanda jamais foi estudada entre mulheres cisgênero.

O principal motivo para isso é a evidência de que para mulheres usando a PrEP diária é necessária uma adesão quase perfeita aos comprimidos (6 ou 7 por semana) para se garantir a máxima proteção contra o HIV. Para homens cisgênero, 4 a 7 comprimidos por semana já são suficientes, o que permitiu o desenvolvimento de toda a pesquisa da PrEP Sob Demanda.

Uma das explicações biológicas para essa diferença na exigência de adesão é o fato de que um hormônio feminino (estrógeno) esteve associado a menores níveis sanguíneos dos antirretrovirais da PrEP. Por causa disso, a restrição do uso da PrEP Sob Demanda se aplica também para os homens trans e para as mulheres trans que fazem uso desse hormônio como terapia hormonal de transição de gênero.

Dada essa restrição imposta ao uso da PrEP Sob Demanda, até agora as mulheres cisgênero tinham ficado sem alternativas de prevenção biomédica do HIV que não fossem de uso contínuo, tais como a PrEP diária em comprimidos, a PrEP injetável bimestral ou a PrEP mensal em anéis vaginais.

Para mudar esse cenário, em 2021 um projeto financiado pelo governo dos Estados Unidos chamado MATRIX começou a pesquisar alternativas para uma PrEP Sob Demanda feminina. O melhor candidato encontrado foi um dispositivo contendo dois antirretrovirais (tenofovir alafenamida e elvitegravir) que se inseridos na vagina perto da relação sexual conseguem se dissolver e manter na mucosa genital níveis adequados dos medicamentos por até três dias.

Os estudos iniciais realizados em modelos animais apontaram para essa estratégia boa prevenção contra o HIV. E em seres humanos até agora foram feitos apenas dois pequenos ensaios clínicos demonstrando segurança após uma única aplicação do dispositivo por via vaginal ou anal.

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Na última semana, o projeto MATRIX anunciou o início do recrutamento de 60 participantes com vagina nos Estados Unidos, África do Sul e Quênia para um estudo que vai avaliar a segurança de aplicações vaginais repetidas e sequenciais do dispositivo. Se for bem-sucedido, o estudo vai abrir portas para o início de ensaios que vão avaliar a eficácia protetora de uma PrEP Sob Demanda com esse dispositivo contra o HIV em mulheres e homens trans.

A existência de uma alternativa de PrEP Sob Demanda para todas as pessoas será muito bem-vinda, pois diferentes pessoas vão precisar de métodos de prevenção distintos. Especialmente para países que têm epidemias de HIV/Aids concentradas em mulheres, como por exemplo os países da África Subsaariana, a disponibilidade de tal tecnologia será fundamental para se atingir o real controle da epidemia.

Os primeiros resultados do estudo estão previstos para 2025. Até lá, esteja por dentro dos métodos de prevenção combinada já disponíveis e eficazes.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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