Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Diga não às dietas para crianças e respeite a fome do seu filho
Os números de crianças e adolescentes com obesidade aumentaram rapidamente em todo o mundo. Com isso, a obesidade infantil se tornou um grande desafio de saúde do século XXI.
Para resolver esse problema, a maioria dos programas de combate à obesidade infantil incentiva "fechar a boca e malhar". Ou seja, colocam sobre a criança toda a responsabilidade de reduzir o que ela come e de aumentar a prática de exercícios físicos com a ajuda dos adultos ao seu redor, que também são muito culpabilizados pelo peso de seus filhos.
Essa abordagem não tem funcionado e existem razões para isso. Tentativas de tratamento com dietas restritivas e remédios para emagrecer não dão resultados satisfatórios e geram muitos efeitos secundários. O corpo volta a engordar na maioria das vezes e pode afetar toda a saúde da criança, física e mental.
Por que dizer não às dietas restritivas para crianças?
As dietas restritivas não são interessantes em nenhuma fase da vida. Porém, quando se trata de crianças é importante que haja ainda mais cuidado com essa prática.
Qual o problema disso? O corpo das crianças está se desenvolvendo rapidamente e, para isso, elas precisam de nutrientes variados (que podem estar ausentes em uma dieta restritiva) para um crescimento adequado e bom funcionamento do organismo.
Apesar de ser impróprio falar de "dieta" na infância, não é incomum que os pais adotem práticas alimentares restritivas quando as crianças demonstram um ganho de peso.
Nesses casos, alguns alimentos podem ser eliminados da alimentação por serem vistos como "ruins", "proibidos" ou "não saudáveis". E, durante a adolescência, quando se tem mais autonomia, o adolescente pode pular refeições e aderir a dietas da moda, acreditando estar fazendo um bem ao seu corpo.
A intenção não é das piores, mas as consequências negativas das dietas restritivas são inúmeras. Além de colocar a criança e o adolescente em um ciclo vicioso que, contrariamente ao que se pensa, leva ao excesso de peso e à obesidade, também pode afetar a saúde mental e ser um gatilho para o desenvolvimento de transtornos alimentares (como anorexia nervosa, bulimia nervosa e compulsão alimentar).
É mais comum que os transtornos alimentares se desenvolvam durante a adolescência, no entanto, cada vez mais eles têm sido descritos em crianças. Além disso, ainda que não haja o desenvolvimento de um problema de saúde como esse, as dietas podem afetar de outras maneiras a qualidade de vida e o bem-estar das crianças e de toda a família.
No início, é comum que a perda de peso seja elogiada e reforçada pelos familiares, amigos e mesmo por profissionais da saúde. No entanto, essa preocupação excessiva com o peso logo no início da vida pode gerar isolamento social, irritação, dificuldade de concentração, um medo profundo de ganhar peso e problemas com a imagem corporal.
O que pode ser feito? Um novo olhar sobre a obesidade infantil
Se o caminho não é a restrição alimentar, o que pode ser feito? Sou adepta de um novo olhar sobre a obesidade, em qualquer idade, e há muita coisa que podemos fazer para trazer mais saúde para nossas crianças.
Abaixo eu trago 6 dicas que podem ajudar tanto os familiares quanto os profissionais de saúde.
1. Focar na saúde, e não no peso
É muito importante entender que o peso não é sinônimo de saúde. Na sociedade em que vivemos, a magreza se confunde com o saudável, mas isso não é verdade. Existem pessoas saudáveis de todos os tamanhos e formas, do mesmo jeito que as pessoas magras não necessariamente estão com a saúde em dia. Pense em alguém que emagreceu rapidamente devido a alguma doença. Concorda que ela não está saudável, não é mesmo?
Por isso, para combater a obesidade infantil é importante deixar o peso um pouco de lado e se concentrar na saúde da criança. O peso será consequência de seus bons hábitos alimentares e de vida.
2. Respeitar a fome do seu filho
Na infância temos uma boa conexão com os sinais de fome e saciedade. As crianças pedem comida quando sentem fome e a rejeitam quando estão satisfeitas.
Quando viramos adultos é comum que essas mensagens sejam deixadas de lado. Pulamos refeições, não comemos quando nossa barriga está roncando e a tendência é exagerar ainda que nosso corpo sinalize que já comemos o suficiente.
Por isso, é muito importante incentivar essa escuta do corpo. Muitas vezes a criança não quer comer nas refeições principais. Em vez de tentar forçar, respeite a fome do seu filho. Mas nada de oferecer em troca outros alimentos mais atrativos para ele. Aguarde o momento da próxima refeição, provavelmente ele estará com mais fome e irá se alimentar bem.
3. Comer em família
Sei bem que com o nosso ritmo de vida fica cada vez mais difícil realizar uma refeição em família. Uma possibilidade é planejar pelo menos uma refeição ao dia para comer juntos, como o jantar. Isso já ajudará bastante na saúde do seu filho.
Também é interessante levar as crianças para a cozinha no final de semana. Elas poderão ajudar no que são capazes, ter mais contato com os alimentos e, por fim, apreciarem uma refeição com todos reunidos.
Realizar refeições em família é uma prática associada a um consumo de alimentos de melhor qualidade, como os in natura, e pode fornecer oportunidades de melhorar a alimentação de toda a família.
Além disso, esse momento à mesa pode fornecer um tempo valioso para pais e filhos interagirem e socializarem.
4. Evitar comentários sobre o peso
Em vez de comentários sobre o corpo, do tipo "como você está gordinho (a)" ou "vamos fazer um esporte para emagrecer", foque na saúde do seu filho, em comer bem e no quanto pode ser divertido colocar o corpo em movimento.
Mesmo com boa intenção, comentários negativos podem ser recebidos como ofensas pelas crianças e contribuir para uma insatisfação corporal, tão comum em nossa sociedade e que nos pressiona a todo momento a termos um corpo perfeito.
Incentivar uma imagem corporal saudável desde a infância é muito importante, pois a insatisfação é um fator de risco para os transtornos alimentares. Pessoas mais satisfeitas com seus corpos tendem a ter uma alimentação mais saudável e menos preocupações e comportamentos inadequados relacionados ao peso.
5. Mudar o estilo de vida
Durante a infância, as crianças ainda não desenvolveram a autonomia no que se refere ao ato de se alimentar. Por esse motivo, os adultos precisam dar um grande apoio e serem responsáveis pelas escolhas alimentares das crianças.
Quando a família adota um estilo de vida mais saudável, todos ganham com isso e os filhos aprendem pelo exemplo.
Os pais podem tornar o acesso à comida caseira mais fácil e limitar a disponibilidade de alimentos ultraprocessados, como bebidas com excesso de açúcar. Mas um lembrete! Esses alimentos não precisam ser vistos como proibidos, apenas não devem ser a base da alimentação da criança (nem dos adultos).
Além disso, é importante que os filhos tenham uma rotina, com horários para suas atividades, inclusive para fazer as refeições, e que passem menos tempo diante das telas (computadores, tablets, televisão).
6. Pais, não se culpem pelo peso dos seus filhos
Minha dica final é que os pais não se sintam culpados. Nem pelo peso dos seus filhos, nem por adotarem práticas com consequências negativas. Tudo o que fazemos é com a melhor das intenções e sempre é tempo de reverter a situação.
Lembre-se que a obesidade não é simplesmente uma responsabilidade individual, mas sim uma condição multifatorial, envolvida com questões genéticas, psicológicas, biológicas e ambientais, que muitas vezes fogem ao nosso controle.
Se você está tendo problemas com o peso e a saúde do seu filho, a responsabilidade não é apenas sua.
Por isso, não hesite em procurar profissionais especializados e competentes, como médicos, nutricionistas e psicólogos que tenham um novo olhar sobre a obesidade e irão contribuir para que seu filho tenha uma relação de paz com a comida e com o corpo!
Bon appétit!
Sophie Deram
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