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Alimentação inflamatória pode diminuir a testosterona em homens
De acordo com estudo publicado na revista The Journal of Urology, homens que têm uma alimentação inflamatória, com excesso de carboidratos refinados, açúcares e gorduras, podem apresentar maior risco de desenvolver deficiência de testosterona.
O que é testosterona? O que é alimentação inflamatória?
A testosterona é um hormônio sexual masculino essencial para a reprodução e função sexual. Ela é produzida nos testículos pelas células de Leydig, mas o corpo das mulheres também produz testosterona, ainda que em menor quantidade, para formar o estradiol, hormônio sexual feminino.
Estima-se que 20% a 50% de homens norte-americanos apresentam deficiência de testosterona, caracterizada por: diminuição da libido, disfunção erétil e dificuldade em alcançar o orgasmo.
Outros sintomas não envolvidos com a função sexual incluem baixa energia do corpo, falta de concentração, mau humor, diminuição da musculatura, baixa densidade mineral óssea, e também pode ter relação com o desenvolvimento de doenças crônicas (obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares).
Já uma alimentação inflamatória é aquela que tem excesso de alimentos como carboidratos refinados, açúcares, frituras, refrigerantes, carnes vermelhas, embutidos e gorduras. É importante entender que esses alimentos, por si só, não são capazes de gerar inflamação, sendo necessário um consumo frequente e excessivo.
Esse tipo de alimentação é chamado assim pois parece induzir a liberação de citocinas inflamatórias, que são proteínas liberadas pelo organismo quando ocorrem lesões, infecções ou em resposta a fatores inflamatórios do ambiente.
A inflamação não é de todo negativa. Ela acontece pela ativação do nosso sistema imunológico quando reconhecemos um corpo estranho e, nesse caso, contribui para a proteção da nossa saúde.
No entanto, quando se torna persistente e acontece mesmo sem a ameaça de um invasor, a inflamação pode se tornar uma inimiga. É o que acontece em doenças como câncer, doenças cardíacas, diabetes e artrite.
Estudos em humanos e animais também têm mostrado que a inflamação pode estar presente em casos de deficiência de testosterona. Diante disso, os pesquisadores partem da hipótese de que uma alimentação inflamatória poderia estar associada à deficiência de testosterona em homens.
Alimentação inflamatória, deficiência de testosterona e obesidade
Para testar a hipótese, o grupo de pesquisadores utilizou dados da National Health and Nutrition Examination Survey, uma série de pesquisas projetadas para avaliar o estado de saúde e nutrição da população dos Estados Unidos, dos períodos de 2013-2014 e 2015-2016.
Um total de 4.151 participantes homens com mais de 20 anos de idade foi incluído no estudo. Eles forneceram informações sobre o consumo alimentar nas últimas 24 horas e foram submetidos a um teste de testosterona que mede a quantidade desse hormônio sexual no sangue.
A partir das informações sobre o consumo alimentar, foi calculado o índice inflamatório da alimentação, sendo os valores mais altos característicos de uma alimentação mais inflamatória e os mais baixos, de uma alimentação mais anti-inflamatória.
Quanto aos resultados, os pesquisadores observaram que um maior índice inflamatório da alimentação esteve associado a um risco 30% maior de deficiência de testosterona.
Também perceberam que o risco de deficiência de testosterona foi maior em homens com obesidade e que tinham uma alimentação com alto índice inflamatório.
Os participantes com obesidade e uma alimentação mais inflamatória apresentaram níveis mais baixos de testosterona e tiveram um risco 59% maior de deficiência desse hormônio em comparação àqueles participantes com obesidade que tinham uma alimentação mais anti-inflamatória.
Ou seja, os resultados sugerem que homens que aderem a uma alimentação mais inflamatória, particularmente os que convivem com a obesidade, parecem ter maior risco de deficiência de testosterona, indicando o importante papel da alimentação na saúde masculina.
O que explica a relação entre deficiência de testosterona e alimentação inflamatória?
Até onde se sabe, este é o primeiro estudo a avaliar uma associação entre o potencial inflamatório da alimentação e a deficiência de testosterona. Ele apresenta algumas limitações, como a impossibilidade de apresentar relações causais entre as variáveis estudadas, mas os pesquisadores sugerem algumas explicações para os resultados encontrados.
De acordo com eles, um possível mecanismo poderia ser o efeito da alimentação sobre marcadores inflamatórios como interleucinas e fator de necrose tumoral, que podem prejudicar a secreção de testosterona ao ativar a inflamação.
Além disso, homens com obesidade que apresentam excesso de gordura, principalmente gordura visceral (aquela depositada juntos aos órgãos e que visivelmente percebemos acumulada na região abdominal), podem apresentar inflamação crônica.
Isso acontece porque o tecido adiposo é a principal fonte de mediadores pró-inflamatórios e excesso de gordura em condições inflamatórias pode produzir a aromatase, uma enzima que age na conversão de hormônios sexuais masculinos em femininos, diminuindo assim os níveis de testosterona.
Como ter uma alimentação mais anti-inflamatória?
Antes de culparmos a alimentação inflamatória pela deficiência de testosterona, os autores apontam a necessidade de que mais pesquisas sobre o tema sejam desenvolvidas.
Mas enfatizam que os resultados encontrados são importantes para que os profissionais de saúde estejam atentos a características da alimentação que podem levar não apenas à deficiência de testosterona, como também a outras doenças relacionadas à inflamação, como diabetes e doenças cardiovasculares. E nesse sentido, buscar uma alimentação anti-inflamatória, que possa contribuir para a saúde das pessoas.
Uma alimentação anti-inflamatória nada mais seria que uma alimentação saudável de forma geral. Nada de alimentos milagrosos (eles não existem!), pois comer bem não precisa ser complicado.
A alimentação mediterrânea, por exemplo, é conhecida por seu alto potencial anti-inflamatório e caracteriza-se pelo consumo de frutas, vegetais, nozes, cereais integrais, azeite de oliva, peixes, laticínios e baixo consumo de carne vermelha e embutidos. Mas não precisa aderir a uma alimentação mediterrânea para aproveitar as propriedades anti-inflamatórias dos alimentos.
Para isso, você pode comer mais comida caseira e fresca e ter uma alimentação variada, composta por todos os grupos alimentares: cereais, feijões e outras leguminosas, frutas, legumes, verduras, raízes, tubérculos, laticínios, carnes, ovos.
Assim, é possível não apenas reduzir e prevenir a inflamação, como também tirar proveito de outros efeitos benéficos para a saúde física e mental, promover o bem-estar e a qualidade de vida e, claro, sempre buscando uma relação de paz com a comida e com o corpo.
Bon appétit!
Sophie Deram
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