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Blog da Sophie Deram

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Estudo indica que vacina de mRNA contra covid-19 é segura para lactantes

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

18/08/2021 04h00

Como sabemos, o leite materno é o melhor alimento para o bebê até os seus seis meses de vida, por isso temos tantas campanhas de incentivo à amamentação, como o agosto dourado, mês no qual se intensificam as ações de promoção ao aleitamento materno.

No entanto, amamentar é desafiante para muitas mulheres, que podem apresentar dúvidas, medos e angústias. Com a covid-19, os desafios podem ser intensificados, outros cuidados podem ser necessários e outras desconfianças surgem.

Por exemplo, nem todas as mães estão seguras quanto a amamentar após a vacinação contra a covid-19. Mas um pequeno estudo da Universidade da Califórnia, publicado na revista JAMA Pediatrics, traz resultados tranquilizadores. Os pesquisadores mostram que as vacinas de RNA mensageiro (mRNA), aprovadas recentemente e com poucos dados sobre a segurança de seu uso em gestantes e lactantes, não são detectadas no leite materno.

Tipos de vacina contra covid-19 e aleitamento

Foram desenvolvidas vacinas contra o coronavírus a partir de diversas tecnologias, cujas diferenças dizem respeito a usarem o vírus inteiro, apenas uma parte dele ou somente o material genético.

Por exemplo, a vacina CoronaVac, da Sinovac, e produzida também pelo Instituto Butantan aqui no Brasil, é uma vacina de vírus atenuado, ou seja, sua tecnologia utiliza um vírus enfraquecido para gerar resposta imunológica.

A vacina da Oxford, em parceria com a AstraZeneca, utiliza um adenovírus, um tipo de vírus que recebe uma proteína do coronavírus, de chimpanzé, permitindo uma resposta imune sem que ocorra replicação viral no corpo humano.

Já as vacinas da Moderna e da Pfizer são conhecidas como vacinas de RNA mensageiro. O RNA é uma molécula responsável por carregar instruções para a síntese proteica. Nesse caso, as vacinas de mRNA permitem que essas instruções sejam levadas ao organismo, proteínas específicas do coronavírus são produzidas e a imunidade acontece.

As vacinas que utilizam esse tipo de tecnologia foram aprovadas sob autorização de uso emergencial e apresentam poucos dados sobre a segurança de seu uso em gestantes e lactantes. Devido a isso, muitas mães decidiram não se vacinar ou interromper a amamentação, apesar de a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendar a vacinação de lactantes e não aconselhar a interrupção da amamentação.

A Academy of Breastfeeding Medicine (Academia de Medicina da Amamentação) afirmou que há um risco muito pequeno de que partículas de mRNA da vacina entrem no tecido mamário e sejam transferidos para o leite materno, o que, teoricamente, poderia afetar a imunidade da criança.

Considerando a ausência de dados diretos sobre a segurança desse tipo de vacina em lactantes, os pesquisadores da Universidade da Califórnia decidiram resolver essa lacuna, analisando amostras de leite materno para investigar a presença de mRNA relacionado à vacina.

Analisando a presença de mRNA no leite materno

O estudo foi realizado no período de dezembro de 2020 a fevereiro de 2021. A idade média das mães era de 37,8 anos e a idade dos filhos variava de um mês a três anos. Amostras de leite foram coletadas antes da vacinação e de 4 a 48 horas após a vacinação.

A análise de 13 amostras de leite humano, coletadas 24 horas após a vacinação, revelou que nenhuma apresentou níveis detectáveis de mRNA proveniente da vacina.

Os pesquisadores alertam ainda que qualquer mRNA residual abaixo dos limites de detecção no ensaio sofreria degradação pelo sistema gastrointestinal do bebê.

Este estudo apresenta limitações por ter sido realizado com uma amostra pequena, sendo necessários dados clínicos de populações maiores para estimar melhor o efeito dessas vacinas sobre os resultados da lactação. No entanto, seus resultados fornecem evidências iniciais importantes para fortalecer as recomendações atuais de que o mRNA relacionado à vacina não é transferido para o lactente pelo leite materno e que as mães que recebem esse tipo de vacina não devem interromper a amamentação.

A criança estará protegida contra a covid-19?

Outro questionamento diz respeito à aquisição de imunidade pela criança através da amamentação.

Sabemos que o leite materno possui anticorpos que podem ajudar na imunidade da criança e garantir certa defesa. Além disso, a passagem dos anticorpos também acontece de forma transplacentária. A vacinação contra a difteria, o tétano e a coqueluche, por exemplo, pode proteger os recém-nascidos contra essas doenças.

Quanto à covid-19, outro estudo também publicado na JAMA foi realizado com 103 mulheres com idade entre 18 e 45 anos que receberam uma vacina de mRNA (Moderna e Pfizer/BioNTech). Entre as participantes, 30 estavam grávidas, 16 eram lactantes e 57 não estavam grávidas nem amamentando.

Todas as participantes desenvolveram resposta imunológica e os anticorpos produzidos pela vacina foram encontrados no sangue do cordão umbilical infantil e no leite materno.

Essa detecção de anticorpos no cordão umbilical e no leite materno sugere que a vacinação materna pode conferir benefícios aos recém-nascidos.

Mas vale lembrar que a quantidade no leite materno foi pequena e mais estudos são necessários, pois não há comprovação de que realmente as crianças adquiram imunidade, nem por quanto tempo.

Vacine-se e amamente!

Como podem ver, a ciência ainda tem muito o que descobrir. Mas de qualquer forma, até o momento, as pesquisas têm mostrado que todas as vacinas são seguras para lactantes, não sendo recomendado evitar a vacinação, nem parar o aleitamento materno.

Também vale lembrar que, se a mãe testou positivo para covid-19, não é necessário evitar a amamentação.

A lactação deve prosseguir, pois não há risco e infecção pelo leite materno, mas devem ser utilizadas medidas, como o uso de máscaras durante a amamentação e higienização das mães antes do contato com o bebê.

Por fim, desejo que as mães tenham a amamentação como uma escolha, e não como uma obrigação.

Se amamentar é um desejo seu, busque familiares e profissionais de saúde que possam dar apoio e orientações para tornar este um momento muito especial e sem estresse, para você e seu bebê usufruirem efetivamente dos diversos benefícios do aleitamento materno.

Depois, é só continuar com uma alimentação infantil em paz com a comida!

Bon appétit!

Sophie Deram