Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Contratar chorões profissionais para velório não é tão absurdo assim
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Se velórios cheios são sinal de que o falecido foi muito amado, o que dizer dos vazios? Para evitar dar a impressão de que o morto em questão não era lá muito popular, uma agência inglesa oferece, desde 2012, profissionais especialistas em chorar em cerimônias fúnebres. O público-alvo da empresa são as famílias de imigrantes. Por serem de outros países, elas costumam ser mais reduzidas e, consequentemente, mostram-se mais dispostas a contratar figurantes em caso de velório.
Na Espanha, a figura da carpideira —nome que se dá a quem tem o choro como profissão— também começa a ressurgir. Mulheres frequentadoras assíduas de igrejas costumam ser solicitadas a rezar pela alma dos entes queridos de pessoas que nem mesmo conhecem. Pouco a pouco, alguns padres de comunidades mais pobres começaram a sugerir que elas cobrassem por esse serviço, podendo assim ajudar nas despesas de suas famílias.
Ironicamente, foi a própria Igreja Católica que, por volta de 1600, começou a condenar essa prática ancestral, popular em muitos países ocidentais até o início do século 21 e ainda hoje comum na parcela oriental do planeta.
Na Roma Antiga, os cortejos fúnebres eram puxados pelas choronas profissionais, que, como um chefe de orquestra, davam o tom do lamento coletivo. Na Grécia Antiga, quanto mais exagerado fosse o choro —com direito a gritos e socos no peito—, mais "bem encaminhado" seria o morto.
Até hoje, o povo Rudaali, da Índia, faz uso das carpideiras para representar nas despedidas as mulheres de famílias ricas e/ou nobres (as manifestações públicas de emoções são consideradas deselegantes pelas classes mais altas).
Os serviços da Rent a Mourner, a tal empresa inglesa, incluem uma entrevista com os familiares para garantir que o comportamento dos contratados não contraste muito com o dos enlutados "verdadeiros". Antes do funeral, os atores são informados sobre a vida do falecido e orientados sobre a intensidade que devem imprimir às suas manifestações de pesar. "Seguiremos sua orientação sobre como você gostaria que nos integrássemos aos seus outros convidados", afirma o site da empresa.
Pode parecer uma ideia absurda, mas, quem sabe, justamente essa encenação toda possa ajudar a tornar velórios e enterros menos impopulares? Nessas cerimônias, é comum que ninguém saiba como se comportar ou que as pessoas sintam vergonha de expressar a sua dor. Os atores poderiam ajudar a despertar ou a "guiar" as emoções da audiência.
Antes de considera-los uma má ideia, vale refletir sobre a nossa própria dificuldade em comparecer a esses eventos ou em compartilhar nossos sentimentos. Afinal, esse serviço só está em oferta porque existe quem compre.
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