Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Arlequim chora pelo amor da Colombina: como administrar coração partido?
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A vida pode ser ao mesmo tempo maravilhosa e devastadora. O que nos presenteia com alegrias e também quebra nossos corações. Assim como a dualidade da famosa marchinha de Carnaval: em meio a festa da alegria alguém chora por ter o coração partido.
Por que nossos corações são tão quebráveis? Porque os corações humanos são feitos para se apegarem.
Se tivermos sorte, é isso.
Se tivermos sorte, amamos. Se tivermos sorte, tornamo-nos apegados.
Nossos amores e apegos são o que dão significado e alegria às nossas vidas fugazes e desafiadoras.
Mas —e este pode ser o maior problema em toda a existência humana!— há um outro lado inevitável da alegria da conexão: sempre que nossos amores e apegos são ameaçados ou interrompidos, nossos corações começam a se partir.
Nossos corações se partem quando amamos alguém e essa pessoa morre, quando nos separamos, quando uma pessoa próxima adoece, quando perdemos o emprego, e talvez por mais uma centena de motivos.
Ao longo de nossas décadas de vida, cada um de nós tem ou terá um coração partido demais para suportar.
O quanto nossos corações se partem cada vez que perdemos algo geralmente é uma medida de duas variáveis: a força do vínculo de apego e a gravidade da ameaça ao vínculo.
Claro, o coração partido não pode realmente ser quantificado. Como acontece com todas as experiências emocionais e espirituais, não existe uma unidade de medida objetiva. Não podemos pesá-lo em uma balança ou medi-lo com uma fita métrica.
Entretanto, embora não se possa atribuir um número preciso ao coração partido, sabemos instintivamente o quanto nos sentimos quebrados por dentro.
Algumas perdas doem apenas uma pontada. Outras são dolorosas, mas administráveis. E algumas perdas nos derrubam e arrancam o coração do peito.
Usando a citação de Earl Grollman:
"A pior dor é aquela pela qual você está passando agora".
Amor e apego são realmente maravilhosos, mas as circunstâncias da vida são impermanentes. Não importa o quão devotadamente amamos e tentamos proteger nossos apegos, a Terra gira. Os anos passam. As coisas mudam.
A vida é uma mudança constante, isso significa que as circunstâncias nas quais amamos e nos apegamos também estão mudando constantemente. Não importa o quanto tentemos administrar os riscos e controlar nossos destinos, inevitavelmente acontecem coisas que podem transformar as nossas vidas.
A menos que não amemos ou nos apeguemos, é claro. Mas que tipo de vida seria essa?
Quem tem um coração partido sofreu uma lesão. Mas não está doente. O luto não é uma doença ou enfermidade. Também não é um transtorno. Não há nada intrinsecamente "errado" com você. Em vez disso, algo externo o afetou.
Vamos também concordar que nossos corações podem ser partidos e felizes ao mesmo tempo?
Algumas perdas são simultaneamente ganhos. Por exemplo, um divórcio pode ser uma perda dolorosa e um recomeço esperançoso.
E às vezes uma perda significativa acompanha uma alegria profunda, como quando uma família vivencia a morte de um idoso e o nascimento de um bebê no mesmo mês.
A palavra "ambivalência" significa sentir duas forças opostas ao mesmo tempo.
Se você é ambivalente agora, se seu coração está triste e alegre, você também precisa e merece os primeiros socorros.
Digamos que você caia de uma escada e quebre o braço. Você ouve o barulho. Sente a dor. Você vê que seu braço agora se dobra para o lado errado. O que você faz? Ignora a lesão e continua com seu dia e sua vida da melhor maneira possível? Finge que nada aconteceu? Ou corre para o pronto-socorro porque é uma emergência?
Muitas pessoas com o coração partido tentam ignorar seus ferimentos e continuar suas vidas em busca da normalidade. Não recebem atendimento imediato. Não procuram primeiros socorros.
A trajetória do luto não deve ser uma jornada solitária. Afinal tem mais de mil palhaços no salão, e você pode chorar no meio da multidão.
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