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OPINIÃO

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Quando ocorre uma morte traumática, como ajudar um enlutado?

Creche em Blumenau (SC) em que ocorreu ataque a crianças - Hygino Vasconcellos/UOL
Creche em Blumenau (SC) em que ocorreu ataque a crianças Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

Colunista do UOL

06/04/2023 04h00

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Nos últimos dias, vivenciamos a triste notícia de ataques a escolas. Um tipo de violência que infelizmente vem aumentando no Brasil e no mundo.

Para os sobreviventes e os familiares, o que vem pela frente é uma longa caminhada de luto.

Conversei com o Alan Wolfelt, educador e conselheiro de luto do Center for Loss and Life Transition, para tentar entender como se dá essa trajetória.

"Nos primeiros dias da jornada de luto, provavelmente os envolvidos ainda estão se sentindo entorpecidos pelo choque e pela descrença. Este é um passo normal e necessário, pois é a forma como a natureza nos protege da força total da perda", diz Wolfelt.

A realidade, segundo ele, vai se apresentar em doses e ao longo do tempo, conforme a regulagem interna de cada pessoa. "Os envolvidos podem estar lutando contra uma raiva profunda, desespero e outras emoções. Esses sentimentos também são normais. Na verdade, os sentimentos não são certos ou errados —eles simplesmente são. Abraçá-los e expressá-los é uma tarefa no caminho que leva ao ajustamento."

Trauma: uma lesão; algo doloroso. O ferimento das emoções, do espírito, das crenças sobre si mesmo e sobre o mundo, da vontade de viver, da dignidade e da sensação de segurança.

O trauma pode ser definido como um evento de tal intensidade, brutalidade ou magnitude de horror que superaria a capacidade de enfrentamento de qualquer ser humano. Ficar traumatizado é uma resposta normal a um evento extremo.

Segundo Wolfelt, os enlutados traumatizados muitas vezes se veem repetindo e reconsiderando continuamente as circunstâncias da morte. Essa repetição ajuda a começar a reconhecer a realidade da morte e a integrá-la à vida. É como se a mente precisasse dedicar tempo e energia para compreender as circunstâncias da morte antes de poder enfrentar o fato de que alguém que você ama morreu e nunca mais estará presente para você.

Transtorno de estresse pós-traumático, ou TEPT, é um termo usado para descrever a condição psicológica que os sobreviventes de morte violenta às vezes experimentam.

As pessoas nessa condição costumam ter pesadelos ou pensamentos assustadores sobre a experiência pela qual eles ou seus entes queridos passaram. Eles tentam ficar longe de qualquer coisa que os lembre dessa experiência assustadora. Muitas vezes sentem raiva e são incapazes de se importar ou confiar em outras pessoas.

Quem sofre de estresse pós-traumático costuma estar atento ao perigo e pode ficar muito abalado quando algo acontece sem avisar. O nível de ansiedade é continuamente alto. Nesse caso, o conhecimento é um dos melhores antídotos. Quanto mais se aprender sobre trauma e TEPT, maior é o senso de controle.

A resposta ao trauma e o possível aparecimento de sintomas de TEPT têm mais a ver com a intensidade e a duração do evento estressante do que com a personalidade da pessoa. É normal sentir fraqueza ou vergonha, porque esse evento traumático e suas repercussões sobrecarregam nossos recursos de enfrentamento. Porém, muitas vezes, é reconhecendo nosso desamparo que, em última análise, tornamo-nos úteis para nós mesmos.

Wolfelt faz algumas sugestões sobre como ajudar um enlutado que tenha vivido uma perda traumática.

  • Segurança e conforto

Após uma experiência traumática, é natural se sentir vulnerável, inseguro e ansioso. É como se o nosso sistema nervoso estivesse dizendo ao cérebro que o mundo não é um lugar seguro agora. Algo violento aconteceu e pode acontecer de novo.

Para superar o trauma, é importante se colocar entre pessoas e lugares que tragam segurança.

  • Permitir a dormência

Sentimentos de choque, dormência e descrença são a maneira da natureza de nos proteger temporariamente da realidade total de uma morte repentina e violenta. Eles nos ajudam a sobreviver ao luto inicial. Muitas vezes pensamos: "Vou acordar e isso não terá acontecido". O luto pode parecer um sonho. As emoções simplesmente precisam de tempo para acompanhar o que a mente viu e ouviu.

A perda por trauma geralmente vai além do que consideramos um choque "normal". Na verdade, pode-se experimentar o que é chamado de "entorpecimento psíquico" —o amortecimento ou desligamento das emoções. A sensação de que "isso não está acontecendo comigo" pode persistir por meses, às vezes até anos. É importante não estabelecer expectativas rígidas para si mesmo e sua capacidade de funcionar "normalmente" no mundo ao seu redor.

Podemos pensar no choque e no entorpecimento como um curativo que a psique colocou sobre a ferida. A bandagem protege a ferida até que ela se torne menos aberta e crua. Somente após o início da cicatrização e a formação de uma crosta é que o curativo é removido e a ferida exposta abertamente ao mundo.

  • Cuidados emocionais intensivos

Assim como não se pode esperar que o corpo se recupere imediatamente de um ataque brutal, a psique também não.

É como se a pessoa tivesse sofrido uma lesão física grave e está na UTI de um hospital. Amigos e familiares o cercam com sua presença e amor. A equipe médica o atende constantemente. O corpo descansa e se recupera.

Este é o tipo de cuidado que se precisa e se merece neste momento. O golpe sofrido não é menos devastador do que essa lesão física imaginária. É importante receber ajuda. Dar a si mesmo o máximo de tempo de descanso possível. Nas primeiras semanas e meses após a morte, não esperar que a pessoa continue com sua rotina normal.

A dor afeta o corpo, coração, mente, personalidade e espírito.

O luto é fisicamente exigente. Isso é especialmente verdadeiro com o luto traumático. O corpo responde ao estresse e o sistema imunológico pode enfraquecer.

O custo emocional do luto é complexo e doloroso. Basicamente, a dor pode afetar todos os aspectos da vida. Para quem está nessa jornada, e a todos nós, resta apenas confiar que, com o tempo, se encontrará paz e conforto novamente.