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Victor Machado

Para o seu próprio bem-estar, não seja refém de dietas em 2021

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

04/01/2021 04h00

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Talvez você, assim como outras milhares de pessoas, já optou por fazer alguma dieta muito rígida para emagrecer. É possível também que essa fosse uma das suas resoluções para o ano passado.

Algo importante para se questionar é por que para atingir qualquer objetivo relacionado à saúde nossas atitudes precisam sempre ser rígidas? De onde vem essa ideia? A boa notícia é que rigidez não é a única maneira eficaz para atingir o emagrecimento ou ser uma pessoa mais saudável.

As escolhas alimentares têm mais relação com ter discernimento correto e clareza do que queremos para nossa saúde. Quando pensamos no que comer, precisamos saber o que de fato gostamos, ter consciência de quais alimentos devem aparecer no prato com mais frequência e como podemos equilibrar tudo sem ter nenhum prejuízo na saúde.

A busca pelas dietas restritas tem relação com querer aliviar rápido uma dor de estar em um corpo do qual a pessoa não gosta. Hoje em dia é comum encontrarmos pessoas com transtorno de imagem corporal, quadro caracterizado, entre outras coisas, pela constante insatisfação com a imagem.

No anseio de uma mudança imediata, a dieta restrita cai como uma luva, já que quanto mais difícil e mais rígido é o método, supostamente mais rapidamente a pessoa vai emagrecer.

Mas o que esquecemos é que nosso corpo não representa quem somos, nossas capacidades e o quão significativa nossa vida é para pessoas ao nosso redor. Pense nas pessoas que você ama e que são importantes para você. Repare que elas te amam de forma recíproca e não é por causa do formato do seu corpo, mas sim pelo que você representa na vida delas.

Na busca pelo corpo perfeito, esquecemos nossos valores e buscamos estratégias agressivas para estar dentro de um padrão digno de receber amor e respeito. Além de ter que atingir um corpo magro, também é importante ter força para resistir aos alimentos que são considerados proibidos socialmente, aqueles que costumam ser mais calóricos e palatáveis.

Por isso na hora de fazer uma dieta muito restrita é comum deixar de comer todos aqueles alimentos que você gosta considerando que eles não devem estar presentes. Como consequência, temos as pessoas que abandonam a dieta por não terem mais forças, resultando em frustração, ou aquelas que vivem com medo de comer o que estiver fora do programado.

Com o excesso de informação na área da saúde, é fato que muitos perderam a conexão com o próprio corpo e por isso não temos mais noção do que ele está sinalizando, quanto precisamos comer e consequentemente perdemos os sinais de fome e saciedade ficando preso em um ciclo de restrição severa e comer exagerado.

Temos atualmente uma abordagem da nutrição em que não existe a prescrição dietética, mas sim a reconexão desses sinais que o corpo envia mas que há muito tempo foram ignorados pelo excesso de tentativas de dietas. Encontramos também análises na literatura médica comprovando a ineficácia das dietas restritivas, já que em 90 a 95% dos casos, as pessoas ganham o peso de volta.

Entretanto, é comum encontrarmos na ciência e nos consultórios de nutrição profissionais que defendem o uso das dietas, feitas de forma individualizada respeitando a inserção de todos os alimentos que a pessoa deseja a fim de atingir um equilíbrio dentro de um plano alimentar. Tudo bem que ainda exista essas diferenças na nutrição, pois a ciência está em constante mudança. Mas é importante entender como cada pessoa funciona e qual a história por trás daquelas que já tentaram várias dietas.

Muitas vezes o simples fato de pegar um papel dizendo especificamente as quantidades ideias de um determinado alimento já é o suficiente para desequilibrar alguém emocionalmente. Dando a sensação de que existe a chance de não seguir de acordo com o planejado e que portanto a pessoa estará fadada ao fracasso. Mas a verdade é que se alimentar não precisa ser difícil e o caminho pode ser o de descobrir como é possível ter autonomia com a comida sem sentir culpa pelo que come, aprendendo assim a lidar com as reais necessidades do seu corpo.

Com ou sem prescrição dietética, é importante frisar que escolhas alimentares não precisam ser feitas na base da dor e da rigidez, mas sim com autocompaixão e discernimento do que faz sentido para você de acordo com necessidades internas e não influenciadas por motivações externas.

Por isso, deixo o convite para que nesse ano você possa aprender a comer tudo o que você gosta, que tenha noção de quanto de fato é fome emocional e quando é fome física e que você aprenda a lidar com os eventuais exageros alimentares, que tenha mais amor ao seu corpo e assim você aprenda se cuidar sem ser refém de nenhuma regra nutricional. Entenda que o profissional de saúde está aqui para orientá-lo, não para ditar regras.