Acne: tratar cedo e cuidado personalizado controlam e previnem cicatrizes
"Quando casar passa". É assim que, no passado, se respondia às queixas dos adolescentes sobre a avalanche de espinhas e cravos que apareciam em suas faces, costas e peito. Alguns deles se casaram, outros não, mas boa parte dessas pessoas podem ter chegado aos 30 anos com a mesma reclamação. O fato é que todo o incômodo (inclusive psicológico) causado pela inflamação da pele poderia ter sido minimizado com uma simples providência: uma consulta ao dermatologista.
Existem vários tipos de acne, que podem acometer a população em geral, inclusive recém-nascidos. A mais comum é a acne juvenil. Apesar de se manifestar com maior frequência na puberdade, ela também pode aparecer na idade adulta, especialmente entre as mulheres.
Nos homens, a enfermidade pode ser mais grave, e ainda está presente em 85% dos adolescentes. Um estudo observacional, realizado em São Paulo, concluiu que, na capital, esse percentual corresponde a 96%. A pesquisa foi publicada na revista médica Anais Brasileiros de Dermatologia.
A doença não é considerada preocupante, embora 20% dos pacientes possam ter uma modalidade mais intensa dela. Contudo, mesmo as formas leves a moderadas causam estresse e alterações na autoestima, principalmente porque podem ter como complicação cicatrizes permanentes.
Apesar disso, Alessandra Romiti, dermatologista coordenadora do Departamento de Cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) garante: "Quando o tratamento é bem conduzido, o controle da doença é possível, e os pacientes podem até se livrar dela de forma definitiva".
Entenda o que é acne
Trata-se de uma doença da pele caracterizada por um processo inflamatório das glândulas sebáceas e dos folículos pilosos. Em outras palavras, a acne decorre da interação entre as células mortas e a substância oleosa natural da sua pele (sebo), além das bactérias ali existentes, que bloqueiam os poros e levam à inflamação.
A depender de sua extensão, ela pode ser classificada como leve, moderada ou grave.
As regiões do corpo mais afetadas são aquelas onde há maior concentração de glândulas sebáceas: a face, a parte superior do tórax, costas e ombros.
Por que isso acontece?
O conhecimento sobre a origem da acne ainda está em evolução, mas até o momento os médicos sabem que, no período da puberdade ocorre o aumento de níveis hormonais sexuais (andrógenos e estrógenos) que estimulam as glândulas sebáceas a produzirem maior quantidade de sebo. Além disso, outras condições podem influenciar o aparecimento da acne. Confira:
- Genética
- Histórico familiar
- Uso de determinados medicamentos (exemplo: lítio, esteroides, anticonvulsivantes, corticoides, vitaminas do complexo B)
- Exposição excessiva ao sol
- Uso de itens que façam oclusão da área afetada (bandana ou mochila)
- Distúrbios endócrinos (síndrome do ovário policístico)
Fatores desencadeantes
Isoladamente, as situações abaixo descritas não têm relação com a origem da acne, mas podem desencadear sua manifestação. Saiba quais são elas:
- Cosméticos à base de óleo
- Ansiedade grave e raiva (provavelmente em razão da estimulação dos hormônios do estresse)
- Tensão pré-menstrual
- Uso do tabaco (especialmente entre adultos maduros)
O papel da dieta
O que você como pode influenciar sua saúde. No caso da acne, tem-se observado que, para alguns indivíduos, alimentos com alto índice glicêmico (produtos lácteos, alimentos processados, gordurosos, chocolate etc) podem agravar a acne.
A recomendação dos especialistas é que você fique atento aos itens que, para você, têm esse efeito. Assim que forem identificados, eles devem ser evitados.
Outros fatores associados à acne
São também associados os seguintes quadros:
- Seborreia
- Hiperandrogenismo (hirsutismo, entre mulheres; uso de anabolizantes entres os homens)
- Acantose nigricans (doença de pele caracterizada pela resistência à insulina e hiperpigmentação)
- Períodos menstruais irregulares
- Aumento de peso
Quem está mais suscetível
A acne é mais comum na adolescência e pode acometer homens e mulheres igualmente, mas de modo diferente.
Entre os homens ela tende a ser mais grave; no grupo feminino, os quadros costumam ser intermitentes devido à ação hormonal ou o uso de determinados cosméticos.
A maioria das pessoas pode ter de lidar com a acne por anos, até que ela melhora, naturalmente, conforme amadurecem. Outros indivíduos terão acne mesmo na vida adulta. Nas mulheres, fatores genéticos e hormonais contribuem para a persistência da acne, sendo necessário tratamento de manutenção em longo prazo.
Além disso, fique atento caso você tenha histórico pessoal ou familiar de distúrbios de pigmentação e/ou de cicatrização.
Como reconhecer os sintomas
A acne é facilmente reconhecível. Ela se manifesta por meio de "espinhas" que podem ou não ter inflamação. Em um estágio mais avançado pode-se observar o folículo dilatado, que poderá se romper.
Os médicos classificam os sintomas por graus, nas formas a seguir descritas:
Grau 1
Comedão - é o cravo. E ele pode ser um microcomedão, aberto ou fechado. É chamada de acne comedoniana;
Grau 2
Pápula - trata-se de uma lesão sólida, arredondada e avermelhada (eritematosa) - é a acne papulopustulosa;
Grau 3
Nódulo ou cisto - o primeiro é uma lesão caracterizada por inflamação, que se expande por camadas mais profundas da pele e pode levar à destruição de tecidos, causando cicatrizes. Já o cisto, maior que a pústula (lesão com pus), é inflamado e se expande por camadas mais profundas da pele. Costuma ser muito doloroso e ainda deixa cicatriz. São também definidos como acne nódulo-cística.
Grau 4
Comedões, pápulas, pústulas, nódulos, múltiplos cistos, abcessos e cicatrizes irregulares - revelam uma forma severa de acne, e são mais comuns entre os homens. As lesões aparecem na face, no pescoço, no tronco e até nos membros superiores. Podem ser chamados de acne conglobata.
Quando é hora de procurar ajuda médica?
O ideal é procurar um dermatologista tão logo a acne apareça e comece a incomodar. Isso porque quanto mais cedo ocorrer o aprendizado de como lidar com a sua pele, e mais precoce for o tratamento, maiores são as chances de controle do problema.
A medida também evita complicações como cicatrizes permanentes, além do uso de produtos inadequados que poderiam agravar, ainda mais, o quadro.
Como é feito o diagnóstico?
Adriane Reichert Faria, dermatologista e professora da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) explica que ele é clínico, ou seja, decorre da coleta do seu histórico de saúde e da sua queixa, além do exame físico.
Alguns exames complementares, de sangue ou ultrassom, poderão ser solicitados para identificar a possível origem da acne. Faria cita como exemplo os testes hormonais, que podem ser úteis entre as mulheres em idade reprodutiva [níveis de testosterona, do hormônio folículo estimulante (FSH), dehidroepiandrosterona (DHEA) etc].
"A ideia é identificar algum problema para que ele possa ser corrigido. Nesses casos, tratamos conjuntamente a causa do problema e as lesões", acrescenta a médica.
Como é feito o tratamento?
Ele se fundamenta em diretrizes clínicas para a abordagem racional, segura e efetiva da acne. O objetivo do tratamento é reduzir ou evitar as lesões, atenuar o estresse psicológico, além de prevenir cicatrizes.
A estratégia terapêutica começa com a educação do paciente sobre a doença, sua própria pele, além de orientações específicas e individualizadas sobre como lidar com ela.
A dermatologista Kátia Sheylla Malta Purim, professora de dermatologia do curso de medicina da Universidade Positivo (PR), esclarece que as práticas clínicas e decisões terapêuticas são sempre personalizadas porque o médico deve considerar o histórico do paciente e as características de sua pele, inclusive quanto à cicatrização.
"Além disso, o tratamento deve basear-se na gravidade e na extensão da acne", diz.
Mas não espere resultados rápidos. Por vezes, é preciso esperar até 3 meses para observar a melhora desejada. A boa notícia é que, de modo geral, caso o paciente siga as instruções médicas, o resultado é positivo e o tratamento pode levar ao desaparecimento dos sintomas.
Tratamento medicamentoso
Além das orientações médicas sobre como lidar com a sua própria pele, seu médico usará alguns medicamentos específicos, geralmente em conjunto. Confira:
- Medicações tópicas (géis, cremes, loções, sabonetes. São exemplos os retinoides, antibióticos, ácido azelaico etc)
- Medicações sistêmicas (por exemplo, antibióticos orais)
- Terapias hormonais (anticoncepcionais)
A isotretinoína é útil no tratamento da acne, mas seu uso requer acompanhamento médico. A razão para isso é que seus eventuais efeitos colaterais são considerados graves e não devem ser banalizados.
Tratamentos não farmacológicos
Eles não são considerados práticas de rotina, e podem não funcionar para todos. Conheça as opções disponíveis:
- Esfoliação química
- Terapia fotodinâmica
- Luz intensa pulsada
- Laser
- Microdermoabrasão
- Limpeza de pele (em casos específicos)
Acne tem prevenção?
Sim. E ela começa a partir de cuidados com a saúde geral e da pele. É possível controlar a acne com medidas indicadas para você, o que inclui o uso de sabonetes e cosméticos adequados, e demais tratamentos prescritos pelo seu médico.
Estilo de vida saudável, alimentação equilibrada, higiene do sono, exercícios físicos e adoção de técnicas para controle do estresse também são recomendadas.
Possíveis complicações
Mesmo com o sucesso do tratamento, os efeitos psicológicos da acne podem durar no tempo, e ainda podem levar à depressão, à ansiedade, à baixa autoestima. Entretanto, os especialistas afirmam que as consequências mais desafiadoras da acne são as cicatrizes, principalmente porque, para algumas delas, pode não haver solução. Daí a importância do tratamento precoce para prevenir esse desfecho.
É importante lembrar que as cicatrizes devem ser tratadas por profissional habilitado e experiente. Isso porque é ele quem deverá fazer uma análise criteriosa de cada caso, das lesões, bem como das técnicas que podem beneficiar cada paciente.
Além da proteção solar, a estratégia de tratamento delas pode incluir procedimentos cirúrgicos, peelings, dermoabrasão, microagulhamento, laser, preenchedores etc. Apesar dessas várias opções, os resultados variarão de pessoa a pessoa.
Saiba como colaborar com o tratamento
Confira as dicas dos especialistas para potencializar, ainda mais, os efeitos da terapia contra a acne:
- Faça visitas regulares ao dermatologista;
- Evite lavar as regiões afetadas mais de 2 vezes ao dia. Lavar demais pode irritar a pele e piorar os sintomas;
- Prefira água morna ao lavar-se. Extremos de temperatura agravam os sintomas;
- Reduza o uso de cosméticos e maquiagem. Dê preferência a produtos à base de água. Aprenda a identificar nas embalagens a informação de que ele é ou não comedogênico. Isso significa que o item tem menor chance de bloquear os poros da sua pele, o que facilitaria o aparecimento de acne;
- Retire a maquiagem antes de dormir;
- Exercite-se regularmente. A prática física não melhora a acne, mas melhora a autoestima e o humor. Banhe-se o mais rápido possível. O suor pode ser irritante para sua pele;
- Lave o cabelo com maior frequência e evite que os fios caiam sobre seu rosto;
- Resista à tentação de "cutucar" ou espremer as lesões. Elas podem levar a cicatrizes permanentes;
- Fale com seu médico caso faça uso de suplemento protéico-calórico. Ele tem sido relacionado ao agravamento da acne.
Fontes: Alessandra Romiti, dermatologista coordenadora do Departamento de Cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Adriane Reichert Faria, dermatologista e professora da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Kátia Sheylla Malta Purim, dermatologista, professora de dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Positivo (PR). Revisão técnica: Kátia Sheylla Malta Purim.
Referências: Ministério da Saúde; SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); AAD (American Academy of Dermathology Association) - Acne Clinical Guideline; Heng, A.H.S., Chew, F.T. Systematic review of the epidemiology of acne vulgaris. Sci Rep 10, 5754 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-62715-3; Sutaria AH, Masood S, Schlessinger J. Acne Vulgaris. [Atualiado em 2020 Aug 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459173/;
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