Anemia: veja o que é, quais os sintomas, causas, remédios e tratamentos
A anemia é uma condição caracterizada pela queda no conteúdo de hemoglobina, o pigmento que dá cor aos glóbulos vermelhos no sangue. Isso pode ocorrer pela carência de um ou mais nutrientes essenciais, como ferro (de longe o mais comum), zinco, vitamina B12 e proteínas. Também pode ser consequência da perda de sangue ou de diferentes doenças ou condições adquiridas ou hereditárias.
Os glóbulos vermelhos, também chamados de hemácias ou eritrócitos, têm a nobre função de transportar oxigênio dos pulmões para todas as células do corpo. Daí que, com pouca hemoglobina, todo o organismo fica deficitário, embora o sofrimento seja mais pronunciado para músculos, coração e sistema nervoso central.
A queda de hemoglobina no sangue pode ser aguda, quando há perda de sangue ou destruição de glóbulos vermelhos por alguma doença, ou pode ser crônica, o que ocorre lentamente e pode ter várias causas.
Prevalência
A anemia é um problema extremamente comum. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 30% da população mundial é anêmica, em especial crianças abaixo de 2 anos e mulheres de diferentes faixas etárias, embora também possa ocorrer em homens e idosos. Além disso, estima-se que de 27% a 50% da população seja afetada pela deficiência de ferro, principalmente em populações com menor renda e desenvolvimento.
No Brasil, os dados variam de acordo com o estudo e o grupo populacional analisado. Mas, de modo geral, estima-se que 40% a 50% das crianças tenham anemia.
Tipos de anemia
1. Anemias por carências nutricionais
- Anemia ferropriva: Causada pela deficiência de ferro, representa cerca de 90% de todos os casos de anemia. É que esse mineral, presente em carnes, leguminosas e vegetais verde-escuros, atua na fabricação de células vermelhas e no transporte de oxigênio. A cor vermelha do sangue, por sinal, se deve à reação química que acontece entre o oxigênio e o ferro contidos na hemoblobina. Esse tipo de anemia pode ocorrer devido à má absorção do mineral, restrições alimentares ou por hemorragias.
- Anemia megaloblástica: Provocada pela carência de vitamina B12 e ácido fólico, importantes para o sistema nervoso. A falta de B12, encontrada em alimentos de origem animal, pode ocorrer devido a restrições na dieta ou por alterações intestinais que impedem sua absorção --como as doenças de Crohn ou celíaca, a proliferação anormal de bactérias ou a cirurgia da obesidade. Muitas vezes, a deficiência ocorre pela ausência de uma proteína secretada no estômago que se chama "fator intrínseco" e nesse caso é chamada de anemia perniciosa. A condição pode estar ligada a características hereditárias ou reações autoimunes. A deficiência de ácido fólico (ou folato), presente em frutas e vegetais com folhas verdes, também pode ser ligada a restrições na dieta, doenças intestinais, cirurgia de obesidade ou uso de álcool ou certos medicamentos, entre outros motivos. Sua demanda aumenta bastante na gravidez e amamentação, por isso a suplementação é indicada nessa fase.
2. Anemia provocada por perdas sanguíneas
- O quadro é provocado pela perda crônica ou aguda de sangue em situações diversas, como período menstrual, verminoses, cirurgias, ferimentos hemorrágicos, sangramentos gastrointestinais (muitas vezes imperceptíveis), entre outras.
3. Anemia provocada por doenças
- Anemia ou doença falciforme: Condição genética que leva a uma mudança no formato das células vermelhas, que assumem a forma de foice e perdem flexibilidade. Com isso, elas tendem a morrer mais rapidamente, gerando um quadro frequente de anemia e crises dolorosas. É uma das doenças hereditárias mais comuns no Brasil, devido à presença de afrodescendentes.
- Talassemia: É outra doença genética que causa anemia crônica, devido à produção diminuída de um tipo de cadeia que forma a molécula de hemoglobina. A condição faz parte de um grupo de doenças do sangue (hemoglobinopatias) e pode provocar problemas ósseos, crescimento inadequado e aumento do baço e do fígado.
- Doenças da medula óssea: Leucemias e tumores na medula podem ocasionar anemias frequentes.
- Anemia aplástica: Doença rara da medula óssea caracterizada pela produção insuficiente não só de glóbulos vermelhos, mas também de glóbulos brancos e plaquetas, que pode ter causas diversas, como infecções, condições autoimunes e até pela exposição a produtos químicos.
- Anemia hemolítica: Neste caso, os glóbulos vermelhos são destruídos mais rapidamente do que deveriam, e a medula óssea não consegue repô-los.
- Outras doenças: Outras enfermidades crônicas podem causar anemia, como a doença renal ou hepática, doenças reumatológicas e câncer, entre outras, porque a inflamação altera o metabolismo de ferro e a produção de glóbulos vermelhos diminui.
Perfis de risco
- Mulheres em idade fértil, por causa da menstruação (aquelas que possuem fluxo intenso ou miomas podem ser mais propensas a ter anemia pela perda de sangue)
- Gestantes ou em fase de amamentação
- Crianças durante períodos de crescimento
- Adolescentes em fase de crescimento
- Idosos (que tenham a alimentação prejudicada por doenças ou dificuldades de mastigação, por exemplo)
- Pacientes submetidos à cirurgia da obesidade
- Indivíduos com doenças que causam perda sanguínea
- Indivíduos que seguem dietas restritivas ou desbalanceadas (como pessoas com transtornos alimentares, veganos que não suplementam a vitamina B12, populações de baixa renda etc.)
- Indivíduos com doenças crônicas, como câncer, doença renal ou hepática, alterações da tireoide, doença inflamatória intestinal (como Crohn ou colite ulcerativa), artrite reumatoide e outras condições autoimunes (que podem afetar os glóbulos vermelhos ou envolver tratamentos que tenham esse efeito colateral)
Sintomas de anemia
Os sintomas da anemia são inespecíficos, por isso às vezes podem ser confundidos com outras doenças. Veja algumas manifestações possíveis:
- Cansaço generalizado
- Falta de apetite
- Palidez de pele e mucosas (parte interna dos olhos e gengivas)
- Tontura
- Falta de ar
- Coração acelerado
- Dor de cabeça
- Mãos e pés frios
- Dor no peito
- Desejo de comer coisas estranhas, como terra, tijolo ou gelo
Algumas pessoas com anemia leve podem até não apresentar qualquer sinal e descobrir a condição numa consulta de rotina. Quanto os níveis de hemoglobina ainda não estão muito baixos, sinais como cansaço e palpitação podem aparecer somente se a pessoa realiza algum esforço. Já nos casos mais intensos as manifestações aparecem mesmo em repouso.
Possíveis consequências da anemia ferropriva
- Comprometimento do sistema imune, com aumento da predisposição a infecções
- Aumento do risco de doenças e mortalidade de mães e recém-nascidos
- Redução do crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor e dificuldades de aprendizagem das crianças
- Redução da produtividade em adultos
Diagnóstico
A partir da conversa com o paciente, análise do histórico médico e familiar e exame físico, o médico deve solicitar um exame de sangue com realização de hemograma, que permite identificar a quantidade de glóbulos vermelhos e avaliar seu formato, o que já ajuda a estabelecer possíveis causas. Outros exames podem ser solicitados para determinar outras possíveis causas, como dosagem de ferro e vitamina B12, entre outros.
Valores de referência
Os valores para concentração de hemoglobina considerados normais são de:
- 13 g/dL para homens
- 12 g/dL para mulheres
- 11 g/dL para gestantes e crianças entre 6 meses e 6 anos
Como tratar a anemia
Quando a anemia é causada por carência de nutrientes, eles são repostos por meio de suplementos (como sulfato ferroso, vitamina B12 e folato) e correção da dieta. Doenças que provocam perda de sangue terão tratamento específico, bem como as que afetam diretamente a produção de glóbulos vermelhos.
Condições autoimunes demandam uso de imunossupressores, mulheres com fluxo menstrual intenso podem ser orientadas a adotar métodos contraceptivos e portadores de anemias hereditárias devem ser acompanhados para eventuais reposições de sangue e suplementação, para citar alguns exemplos.
Como deve ser a dieta de quem tem anemia?
As recomendações dietéticas dependem da causa da anemia. Na mais comum, a ferropriva, é sugerido o consumo de carnes vermelhas, vísceras (fígado, coração e miúdos), aves, peixe, carne suína, leguminosas (como feijão e lentilha) e hortaliças verde-escuras. Alguns alimentos industrializados são enriquecidos com ferro (como leite e as farinhas de trigo e milho), com o objetivo de minimizar o problema.
Alimentos de origem animal são as únicas fontes de vitamina B12, por isso veganos devem receber a suplementação. Já o ácido fólico é encontrado em alimentos como espinafre e outras folhas verde-escuras, feijão branco, aspargos, soja e derivados, laranja, melão e maçã.
Ferro heme e não heme
Existem dois tipos de ferro nos alimentos: o heme está presente nas carnes e subprodutos e é melhor aproveitado pelo organismo. O ferro não heme é encontrado nos alimentos de origem vegetal, e sua absorção depende de alguns fatores, como a ingestão (na mesma refeição) de alimentos ricos em vitamina C e A. Deve-se evitar, também, o consumo de chá, lácteos ou café na refeição rica em ferro, pois esses itens dificultam sua absorção.
Como prevenir a anemia
- Procure ter uma alimentação balanceada e variada, rica em frutas, legumes, verduras, cereais integrais, leguminosas, leite, carnes e ovos. Veganos devem ter acompanhamento nutricional para evitar carências de ferro e vitamina B12.
- Ao consumir fontes vegetais de ferro (como feijão e lentilha), consuma junto alguma fonte de vitamina C, como laranja, para otimizar a absorção do mineral.
- Evite o excesso de álcool, que também pode levar à anemia.
- Não exagere no consumo de medicamentos com ácido acetilsalicílico, que podem causar sangramentos gastrointestinais.
- Mulheres com fluxos menstruais intensos devem ter acompanhamento médico periódico para monitorar os níveis de hemoglobina.
Fontes: Alex Freire Sandes, hematologista do Fleury Medicina e Saúde; Elisabete Rocha, nutricionista do Centro Terapêutico Equilybrium; American Society of Hematology; Ministério da Saúde
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