Como curar azia? Bom é mudar hábitos, mas dor intensa deve ser investigada
Má digestão e sensação de queimação na região do peito ou na parte superior do estômago. Os sintomas da azia são claros e costumam afetar em quase 50% da população. Na maioria das vezes, a culpa é das refeições fartas ou ricas em gorduras, mas quando o problema se repete e atrapalha a vida, é preciso investigá-lo.
Quando a azia é persistente e intensa, a origem do problema é o refluxo gastroesofágico em 90% dos casos.
Mudanças de hábitos e estilo de vida resolvem esse desconforto, mas como outras enfermidades podem estar relacionadas, é sempre prudente submeter-se a uma avaliação médica para evitar complicações.
E os médicos advertem: seja lá qual for a causa do incômodo, é preciso evitar a automedicação.
O que é azia?
Trata-se de uma sensação desconfortável de queimação, que é também conhecida como pirose (a origem da palavra é grega —pyrós, significa fogo) ou dispepsia.
Ela tem localização imprecisa, mas pode se manifestar em algum local entre a boca do estômago e a garganta. Frequentemente, se manifesta no peito.
É um sintoma que tem origem específica: a parte mais baixa do esôfago. Mas, que abrange outras manifestações, como dor ou queimação no estômago, distensão e vontade de arrotar, sensação de estar muito cheio. Envolve ainda o esôfago e até o duodeno.
Por que isso acontece?
Quando você come, o alimento passa por um tubo que conecta a sua boca ao estômago. Esse tubo é o esôfago. Em sua parte inferior, existe um músculo, o esfíncter esofágico inferior, que funciona como uma porta que está sempre fechada para evitar que o ácido estomacal não volte para o esôfago.
Em 90% dos casos, o incômodo decorre da estimulação química da mucosa dessa parte mais baixa do esôfago. Em outras palavras, o ácido avança para o esôfago.
A esse fenômeno se dá o nome de refluxo gastroesofágico, que é considerado normal (fisiológico), principalmente quando ele aparece após uma refeição farta.
"Pode ser até que a pessoa seja mais sensível ao próprio ácido estomacal. Nesse caso, a azia será incomodativa e aparecerá só de forma ocasional", explica Luiz Ernesto de Almeida Troncon, professor titular do Departamento de Clínica Médica - Gastroenterologia, da FMRP-USP.
Quando a sensação é muito frequente e intensa, pode estar associada a uma lesão orgânica —em geral, no esôfago, mas pode ser também nos brônquios, pulmão, ouvido e até nos dentes.
Outras possíveis causas
Várias situações são consideradas fatores de risco para o refluxo gastroesofágico e, portanto, para a azia. Confira:
- Tabagismo
- Uso de álcool
- Hérnia de hiato
- Obesidade
- Uso de determinados medicamentos (anti-hipertensivo, por exemplo)
- Gravidez
- Altos níveis de estresse
- Hábitos de vida (tipos de alimentos/quantidade e horário das refeições etc.)
Como reconhecer os sintomas
A manifestação mais comum da azia é a sensação de queimação na região superior do abdome ou no peito, que pode durar de alguns minutos a horas. Mas você também pode observar as seguintes situações:
- Dor quando você dobra o corpo ou deita
- Gosto amargo, ácido ou salgado na garganta
- Ardor na garganta
- Tosse ou pigarro
- Distúrbio do sono
- Dificuldade para engolir
Quando é a hora de procurar ajuda
Toda vez que perceber a presença de um sintoma que não existia antes, procure ajuda médica para uma investigação preventiva.
"Por vezes, o incômodo é até leve, mas se você identifica em si fatores de risco [como tabagismo, obesidade etc.], vale a pena conversar com um especialista", sugere Sergio Alexandre Liblik, gastroenterologista e professor de gastroenterologia clínica da Escola de Medicina da PUC-PR.
Para aqueles que protelam a visita médica, o sinal de alerta é o seguinte: se toda vez que o sintoma aparece você tem se automedicado, é preciso falar com um clínico geral ou um gastroenterologista. Esses profissionais são treinados para avaliá-lo e orientá-lo sobre o melhor tratamento, no seu caso.
Importante lembrar que, embora existam vários remédios que aliviam os sintomas, eles não tratam a origem do problema. Além disso, há o perigo dos efeitos colaterais.
Como é feito o diagnóstico
Na hora da consulta, o médico vai ouvir sua queixa e levantar seu histórico de saúde, além de fazer o exame físico. O diagnóstico será feito com base nessas informações. Por isso se diz que ele é clínico.
A depender de fatores como idade, persistência e intensidade dos sintomas, poderá ser solicitado um exame complementar chamado endoscopia digestiva alta, que trará ao médico dados sobre a mucosa do esôfago, estômago e duodeno.
O que esperar do tratamento
Uma vez entendida a causa do problema —e na maioria das vezes se trata de refluxo gastroesofágico— o objetivo do tratamento é aliviar os sintomas e evitar complicações, como a esofagite erosiva, uma irritação crônica da mucosa do esôfago, que leva à formação de pequenas feridas, as erosões.
A estratégia terapêutica tem como primeira medida orientar o paciente sobre mudanças no estilo de vida (dieta, perda de peso, uso de tabaco etc.), e de outros fatores que possam desencadear a azia.
Além disso, podem ser indicados medicamentos capazes de reduzir a acidez estomacal, que também facilitam a cicatrização de alguma eventual lesão, como os inibidores de bomba de prótons. As explicações são de Wagner Sobottka, cirurgião do aparelho digestivo do CHC-UFPR.
Mais cuidado com a dieta
Hábitos de vida e situações do seu dia a dia podem desencadear ou agravar a azia. Comer refeições fartas, deitar-se logo após o almoço ou o jantar, e consumir alguns tipos de alimentos são alguns exemplos. Veja, a seguir, itens que devem ser evitados na sua dieta:
- Cebola
- Frutas e sucos cítricos
- Alimentos ricos em gordura
- Tomate (ou produtos à base dele)
- Álcool
- Café e bebidas à base de cafeína
- Bebidas gaseificadas
- Chocolate
Dá para prevenir?
Nem sempre. Em alguns quadros como nos distúrbios de motilidade, caracterizado por sintomas gastrointestinais repetidos e crônicos, ou mesmo hérnia de hiato, um defeito do diafragma, não há como prevenir a azia.
Nas demais situações, a prevenção é possível por meio de mudanças nos hábitos de vida. Além de colocar em prática as orientações de seu médico, invista também nas seguintes práticas:
- Informe seu médico sobre o uso contínuo de outros medicamentos. Eles podem agravar seus sintomas;
- Prefira fazer refeições mais frequentes, com menores quantidades de alimentos, em vez dos clássicos café da manhã, almoço e jantar;
- Evite comer ou beber 3 ou 4 horas antes de ir para a cama;
- Organize-se para que a maior refeição do dia não seja o jantar;
- Levante a cabeceira da cama utilizando um pedaço de madeira ou tijolo. Coloque-o abaixo dos pés da cama. Não adianta usar mais travesseiros. Esta medida aumentaria a tensão abdominal;
Aprenda a reconhecer os alimentos que desencadeiam seus sintomas; - Evite roupas muito apertadas na região da barriga;
- Experimente várias técnicas de relaxamento, até encontrar a mais eficaz para você. Pratique-a com regularidade e toda vez que se sentir muito estressado;
- Mantenha um peso saudável. Caso seja necessário, converse com seu médico sobre as melhores formas de perder peso para reduzir seus sintomas;
- Evite fumar.
Fontes: Luiz Ernesto de Almeida Troncon, professor titular do Departamento de Clínica Médica - Gastroenterologia, da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Sergio Alexandre Liblik, gastroenterologista e professor de gastroenterologia clínica da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Wagner Sobottka, cirurgião geral, do aparelho digestivo e bariátrica do CHC-UFPR (Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná) e coordenador do Serviço de Cirurgia Geral de Urgência do Hospital Marcelino Champagnat. Revisão técnica: Luiz Ernesto de Almeida Troncon.
Referências: FBG (Federação Brasileira de Gatroenterologia); AAFP (American Academy of Family Physicians); InformedHealth.org [Internet]. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. Heartburn and GERD: Overview. 2012 Jul 19 [Updated 2018 Dec 13]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279254/.
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