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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Como curar azia? Bom é mudar hábitos, mas dor intensa deve ser investigada

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

09/03/2021 04h00Atualizada em 01/02/2024 17h35

Má digestão e sensação de queimação na região do peito ou na parte superior do estômago. Os sintomas da azia são claros e costumam afetar em quase 50% da população. Na maioria das vezes, a culpa é das refeições fartas ou ricas em gorduras, mas quando o problema se repete e atrapalha a vida, é preciso investigá-lo.

Quando a azia é persistente e intensa, a origem do problema é o refluxo gastroesofágico em 90% dos casos.

Mudanças de hábitos e estilo de vida resolvem esse desconforto, mas como outras enfermidades podem estar relacionadas, é sempre prudente submeter-se a uma avaliação médica para evitar complicações.

E os médicos advertem: seja lá qual for a causa do incômodo, é preciso evitar a automedicação.

O que é azia?

Trata-se de uma sensação desconfortável de queimação, que é também conhecida como pirose (a origem da palavra é grega —pyrós, significa fogo) ou dispepsia.

Ela tem localização imprecisa, mas pode se manifestar em algum local entre a boca do estômago e a garganta. Frequentemente, se manifesta no peito.

É um sintoma que tem origem específica: a parte mais baixa do esôfago. Mas, que abrange outras manifestações, como dor ou queimação no estômago, distensão e vontade de arrotar, sensação de estar muito cheio. Envolve ainda o esôfago e até o duodeno.

Por que isso acontece?

Quando você come, o alimento passa por um tubo que conecta a sua boca ao estômago. Esse tubo é o esôfago. Em sua parte inferior, existe um músculo, o esfíncter esofágico inferior, que funciona como uma porta que está sempre fechada para evitar que o ácido estomacal não volte para o esôfago.

Em 90% dos casos, o incômodo decorre da estimulação química da mucosa dessa parte mais baixa do esôfago. Em outras palavras, o ácido avança para o esôfago.

A esse fenômeno se dá o nome de refluxo gastroesofágico, que é considerado normal (fisiológico), principalmente quando ele aparece após uma refeição farta.

"Pode ser até que a pessoa seja mais sensível ao próprio ácido estomacal. Nesse caso, a azia será incomodativa e aparecerá só de forma ocasional", explica Luiz Ernesto de Almeida Troncon, professor titular do Departamento de Clínica Médica - Gastroenterologia, da FMRP-USP.

Quando a sensação é muito frequente e intensa, pode estar associada a uma lesão orgânica —em geral, no esôfago, mas pode ser também nos brônquios, pulmão, ouvido e até nos dentes.

Outras possíveis causas

Várias situações são consideradas fatores de risco para o refluxo gastroesofágico e, portanto, para a azia. Confira:

Como reconhecer os sintomas

A manifestação mais comum da azia é a sensação de queimação na região superior do abdome ou no peito, que pode durar de alguns minutos a horas. Mas você também pode observar as seguintes situações:

  • Dor quando você dobra o corpo ou deita
  • Gosto amargo, ácido ou salgado na garganta
  • Ardor na garganta
  • Tosse ou pigarro
  • Distúrbio do sono
  • Dificuldade para engolir

Quando é a hora de procurar ajuda

Toda vez que perceber a presença de um sintoma que não existia antes, procure ajuda médica para uma investigação preventiva.

"Por vezes, o incômodo é até leve, mas se você identifica em si fatores de risco [como tabagismo, obesidade etc.], vale a pena conversar com um especialista", sugere Sergio Alexandre Liblik, gastroenterologista e professor de gastroenterologia clínica da Escola de Medicina da PUC-PR.

Para aqueles que protelam a visita médica, o sinal de alerta é o seguinte: se toda vez que o sintoma aparece você tem se automedicado, é preciso falar com um clínico geral ou um gastroenterologista. Esses profissionais são treinados para avaliá-lo e orientá-lo sobre o melhor tratamento, no seu caso.

Importante lembrar que, embora existam vários remédios que aliviam os sintomas, eles não tratam a origem do problema. Além disso, há o perigo dos efeitos colaterais.

Como é feito o diagnóstico

Na hora da consulta, o médico vai ouvir sua queixa e levantar seu histórico de saúde, além de fazer o exame físico. O diagnóstico será feito com base nessas informações. Por isso se diz que ele é clínico.

A depender de fatores como idade, persistência e intensidade dos sintomas, poderá ser solicitado um exame complementar chamado endoscopia digestiva alta, que trará ao médico dados sobre a mucosa do esôfago, estômago e duodeno.

O que esperar do tratamento

Uma vez entendida a causa do problema —e na maioria das vezes se trata de refluxo gastroesofágico— o objetivo do tratamento é aliviar os sintomas e evitar complicações, como a esofagite erosiva, uma irritação crônica da mucosa do esôfago, que leva à formação de pequenas feridas, as erosões.

A estratégia terapêutica tem como primeira medida orientar o paciente sobre mudanças no estilo de vida (dieta, perda de peso, uso de tabaco etc.), e de outros fatores que possam desencadear a azia.

Além disso, podem ser indicados medicamentos capazes de reduzir a acidez estomacal, que também facilitam a cicatrização de alguma eventual lesão, como os inibidores de bomba de prótons. As explicações são de Wagner Sobottka, cirurgião do aparelho digestivo do CHC-UFPR.

Mais cuidado com a dieta

Hábitos de vida e situações do seu dia a dia podem desencadear ou agravar a azia. Comer refeições fartas, deitar-se logo após o almoço ou o jantar, e consumir alguns tipos de alimentos são alguns exemplos. Veja, a seguir, itens que devem ser evitados na sua dieta:

  • Cebola
  • Frutas e sucos cítricos
  • Alimentos ricos em gordura
  • Tomate (ou produtos à base dele)
  • Álcool
  • Café e bebidas à base de cafeína
  • Bebidas gaseificadas
  • Chocolate

Dá para prevenir?

Nem sempre. Em alguns quadros como nos distúrbios de motilidade, caracterizado por sintomas gastrointestinais repetidos e crônicos, ou mesmo hérnia de hiato, um defeito do diafragma, não há como prevenir a azia.

Nas demais situações, a prevenção é possível por meio de mudanças nos hábitos de vida. Além de colocar em prática as orientações de seu médico, invista também nas seguintes práticas:

  • Informe seu médico sobre o uso contínuo de outros medicamentos. Eles podem agravar seus sintomas;
  • Prefira fazer refeições mais frequentes, com menores quantidades de alimentos, em vez dos clássicos café da manhã, almoço e jantar;
  • Evite comer ou beber 3 ou 4 horas antes de ir para a cama;
  • Organize-se para que a maior refeição do dia não seja o jantar;
  • Levante a cabeceira da cama utilizando um pedaço de madeira ou tijolo. Coloque-o abaixo dos pés da cama. Não adianta usar mais travesseiros. Esta medida aumentaria a tensão abdominal;
    Aprenda a reconhecer os alimentos que desencadeiam seus sintomas;
  • Evite roupas muito apertadas na região da barriga;
  • Experimente várias técnicas de relaxamento, até encontrar a mais eficaz para você. Pratique-a com regularidade e toda vez que se sentir muito estressado;
  • Mantenha um peso saudável. Caso seja necessário, converse com seu médico sobre as melhores formas de perder peso para reduzir seus sintomas;
  • Evite fumar.

Fontes: Luiz Ernesto de Almeida Troncon, professor titular do Departamento de Clínica Médica - Gastroenterologia, da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Sergio Alexandre Liblik, gastroenterologista e professor de gastroenterologia clínica da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Wagner Sobottka, cirurgião geral, do aparelho digestivo e bariátrica do CHC-UFPR (Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná) e coordenador do Serviço de Cirurgia Geral de Urgência do Hospital Marcelino Champagnat. Revisão técnica: Luiz Ernesto de Almeida Troncon.

Referências: FBG (Federação Brasileira de Gatroenterologia); AAFP (American Academy of Family Physicians); InformedHealth.org [Internet]. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. Heartburn and GERD: Overview. 2012 Jul 19 [Updated 2018 Dec 13]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279254/.