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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Clamídia é IST que pode causar sérios danos ao sistema reprodutivo feminino

Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

23/02/2021 04h00

Doença oculta. É assim que a literatura médica se refere à clamídia, infecção bacteriana mais comum em todo o mundo, e que é também classificada como uma das mais frequentes entre as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis). Ela ainda é a causa de infecção ocular que pode levar à cegueira.

Desde a década de 1990, a clamídia é a IST mais relatada nos Estados Unidos e na Europa. Dados da Febrasgo indicam que ela pode acometer de 5% a 25% de mulheres com idades entre 15 a 24 anos de idade.

Os homens, igualmente, podem ser infectados e, para eles, a maior ocorrência se dará entre os 20 e 24 anos. O maior risco, porém, é que, no grupo feminino, o não-tratamento pode levar à infertilidade.

Ao contrário de outros países, até o momento, o Brasil não faz o rastreio da doença. Assim, ela ainda não é contemplada nos exames de rotina ginecológicos. Apesar de ser possível preveni-la, caso você se identifique como integrante do grupo de risco, é importante saber que quanto mais rápido for feito o diagnóstico e o tratamento - que em boa parte dos casos é medicamentoso— maiores são as chances de evitar suas complicações.

Entenda o que é clamídia

Trata-se de uma bactéria, a Chlamydia trachomatis, de transmissão sexual, que pode causar infecções em homens e mulheres. Além dos órgãos genitais, ela pode afetar a garganta e os olhos.

Quem precisa ficar atento

Toda pessoa que tem vida sexual ativa pode ser infectada pela clamídia por meio da prática não protegida de sexo vaginal, anal ou oral.

A infecção pode ocorrer também por meio do contato com o genital do parceiro, sem que haja penetração, ou através do contato do fluído vaginal ou sêmen, e mesmo durante o compartilhamento de objetos sexuais (sem a devida higiene e uso de preservativos).

Além disso, há possibilidade de infecção vertical —da gestante para o bebê, durante o parto.

Os grupos mais suscetíveis são os seguintes:

  • Indivíduos que praticam sexo não protegido
  • Jovens entre 15 a 24 anos (independentemente de sua sexualidade)
  • Jovens ou adultos maduros que tenham múltiplos parceiros (mais de 2 no período de 1 ano)
  • Jovens ou adultos maduros com parceiros novos
  • Jovens ou adultos que tenham parceiros que praticam sexo com mais de uma pessoa
  • Pessoas que já tiveram ou têm IST

Como reconhecer os sintomas

A clamídia é considerada uma infecção oligossintomática, isto é, apresenta pouco ou nenhum sintoma e pode até ser confundida com algum problema do trato urinário.

Por ser, geralmente, silenciosa, ela é facilmente transmissível, e mesmo que você não perceba sinais, ainda assim, a clamídia não tratada pode prejudicar seu sistema reprodutivo.

Caso os sintomas apareçam, você poderá notar as seguintes manifestações:

Mulheres

  • Dor ao urinar
  • Secreção (corrimento) vaginal ou retal
  • Dor pélvica
  • Sangramento após as relações sexuais
  • Sangramento entre os períodos menstruais
  • Irritação na garganta

Homens

  • Secreção no pênis ou no reto não purulenta
  • Incômodo ao urinar (ardor)
  • Dor ou inchaço nos testículos
  • Irritação na garganta

Quando devo procurar ajuda?

O médico Júlio José Maximo de Carvalho, urologista e coordenador de IST da SBU-SP, diz que, em 80% dos casos, quem dá o sinal de alerta é o homem: "Alguns dias ou semanas após a infecção ele perceberá ardor e uma secreção clarinha no pênis. Como esta situação logo incomoda, em geral, ele não demora a buscar ajuda".

Entre as mulheres, os sintomas podem demorar a aparecer, mas aquelas que se identificam como integrantes de algum dos grupos de risco devem solicitar ao médico o rastreio da doença.

Os especialistas treinados para avaliar e tratar a clamídia são o ginecologista ou o urologista.

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico vai levantar seu histórico de saúde, ouvir sua queixa e fazer o exame físico. No caso dos homens, e dadas as características dos possíveis sintomas, o diagnóstico é clínico, ou seja, decorre das informações obtidas nesse processo.

Apesar disso, o profissional solicitará uma análise da secreção, da urina, da mucosa da boca ou da região anal, que poderá ser coletada no consultório ou em laboratório.

"O mesmo ocorrerá entre as mulheres. Caso ainda não hajam sinais visíveis da clamídia, a única forma de diagnóstico é por meio de exame de cultura [que também é feito com uma amostra do material coletado da região possivelmente infectada] para identificação da bactéria", esclarece Antonio Paulo Mallmann, ginecologista e obstetra, professor da Escola de Medicina da PUC-PR.

Outros possíveis exames são o de imunofluorescência direta (DFA), o enzimaimunoensaio (EIA), além dos de biologia molecular, como a captura híbrida (consta da relação de procedimentos do SUS) e os testes de amplificação de ácido nucleico (NAAT).

Como é feito o tratamento?

O objetivo do tratamento é quebrar a cadeia de transmissões, resolver os sintomas e prevenir complicações.
Como se trata de uma infecção bacteriana, a estratégia terapêutica prevê o uso de antibióticos específicos, que podem até ser indicados antes mesmo do resultado do exame. Para mais de 9 entre 10 pessoas, o tratamento levará à cura do problema.

Um vez confirmada a suspeita diagnóstica, o médico indicará o tratamento também para seu atual parceiro, bem como para as pessoas com quem você manteve contato sexual recentemente. Caso elas não sejam tratadas, a infecção se repetirá e se transmitirá facilmente.

A clamídia pode ser transmitida mesmo durante o tratamento. Assim, seu médico irá orientá-lo sobre o momento certo de retomar as atividades sexuais, que devem ocorrer somente após a finalização do ciclo da medicação.

Possíveis complicações em homens

Quando não tratada, a clamídia pode afetar o testículo e o duto pelo qual passam os espermatozoides (epidídimo), bem como a próstata.

Além disso, a IST é considerada a principal causa de artrite reativa: juntas, olhos e uretra ficam inflamadas. Tais circunstâncias, embora possíveis, não são comuns.

Complicações em mulheres

No grupo feminino, a infecção por clamídia pode avançar para o útero, ovários e as trompas. Tal situação pode ter como consequência as seguintes condições:

  • Infertilidade
  • Dor pélvica
  • Dor durante as relações sexuais
  • Gravidez tubária (nas trompas)
  • Complicações na gestação (partos prematuros, baixo peso do bebê, aborto)

"A maior preocupação é que esta IST pode evoluir para um quadro infeccioso com febre, prostração, abcesso tubário e ovariano, o que pode gerar o que chamamos de abdome agudo [dor abdominal súbita e intensa] que, em geral, tem solução cirúrgica e ainda pode levar à perda das trompas", explica Patrícia Pereira dos Santos Melli, médica assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP-USP e secretária da Comissão Nacional de Especialistas de IST da Febrasgo.

Entre as gestantes, o risco é a infecção vertical. Uma grávida com clamídia não tratada pode passar a IST para o bebê, que poderá desenvolver conjuntivite ou pneumonia.

Dá para prevenir?

Sim, por meio do uso de preservativo. A clamídia é curável, mas caso o contato sexual seja desprotegido, podem ocorrer novas infecções.

Fontes: Patrícia Pereira dos Santos Melli, médica assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), diretora técnica do HC-Criança, secretária da Comissão Nacional de Especialistas de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Júlio José Maximo de Carvalho, urologista e coordenador de IST da SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia, Seccional São Paulo); Antonio Paulo Mallmann, ginecologista e obstetra, professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e diretor do Hospital e Maternidade Santa Brígida, em Curitiba. Revisão técnica: Júlio José Máximo de Carvalho.

Referências: Ministério da Saúde; Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; ACOG (Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia); Mohseni M, Sung S, Takov V. Chlamydia. [Updated 2020 Nov 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537286/.

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