Hipoglicemia é mais comum entre diabéticos e se associa a dieta irregular
Glicose na veia. A maioria das pessoas já ouviu falar desse tratamento oferecido a pessoas que exageram na bebida e acabam provocando um desequilíbrio no sistema orgânico que leva à hipoglicemia, ou seja, baixas concentrações de glicose (açúcar) no sangue.
Apesar disso, essa condição é mais comum em pacientes com diabetes do tipo 1, especialmente entre os que fazem uso intensivo de insulina.
A queda nas taxas de glicose pode ocorrer entre homens e mulheres de todas as idades, inclusive em crianças e jovens mas, nessas situações, as principais causas serão o uso de determinados medicamentos e álcool, doenças em estado avançado, deficiências hormonais e até tumores, entre outras situações.
Na maioria das vezes, a hipoglicemia pode ser prevenida facilmente por meio do monitoramento constante dos níveis de açúcar no sangue, mudanças no estilo de vida ou dos medicamentos utilizados, bem como o tratamento de eventual doença a ela relacionada.
A educação sobre os potenciais efeitos adversos, que incluem o coma e até morte, além da maior atenção aos sintomas pessoais da condição também previnem e controlam o distúrbio.
Entenda o papel da glicose
O seu organismo mantém níveis equilibrados de concentração de glicose para o funcionamento de muitos de seus sistemas. São considerados normais valores entre 70 a 99mg/dL em jejum, e de 70 a 140mg ao longo do dia. Taxas abaixo de 70 já são consideradas hipoglicemia e pessoas com diabetes devem ficar alertas a esses níveis glicêmicos, especialmente quando essa queda ocorre com frequência.
A glicose sanguínea, também chamada de açúcar do sangue, é o principal "combustível" do cérebro, que precisa de um suprimento constante dela para cumprir suas funções. O principal órgão que controla o açúcar do sangue é o pâncreas. Este, produz a insulina que estimula a captação de açúcar pelas células. Além disso, ele também produz o glucagon que estimula o fígado a produzir açúcar para o sangue.
Por que isso acontece?
Em indivíduos com diabetes, as principais causas da hipoglicemia são as seguintes:
- Efeitos de medicamentos (insulina, sulfonilureias, glinidas etc.)
- Alimentação irregular ou falta dela (jejum)
- Exercício intenso sem dieta adequada
- Consumo de álcool
Em pacientes sem diabetes, a condição é menos frequente, mas pode se manifestar pelos mesmos motivos. Apenas que o medicamento não será a insulina, mas outros como a pentamidina (usado na terapia da pneumonia) e a quinina (analgésico, antitérmico e antimalária).
Há ainda quadros raros nos quais a hipoglicemia se relaciona a tumores no pâncreas, distúrbios autoimunes e glandulares, insuficiências renal ou cardíaca e câncer.
Saiba reconhecer os sintomas
As manifestações da hipoglicemia variam de pessoa a pessoa porque são dependentes da velocidade com que os níveis caem na circulação sanguínea. A explicação é de Márcio Krakauer, médico endocrinologista e diretor da SBEM-SP. Além disso, elas podem mudar ao longo do tempo.
Krakauer esclarece que os sintomas podem ser classificados como neuroglicopênicos (decorrem de efeitos diretos do SNC - Sistema Nervoso Central) e neurogênicos (Sistema Simpatoadrenal). Estes últimos são mais comuns nos casos mais graves. Conheça suas características:
Neurogênicos
- Tremor
- Nervosismo
- Palpitação
- Transpiração
- Desfalecimento
- Palidez
Neuroglicopênicos
- Náuseas
- Cansaço
- Fraqueza
- Visão turbada
- Dificuldade para falar
- Confusão
- Sonolência
- Desmaio
- Coma
- Convulsão
"Pessoas com diabetes, que apresentem episódios frequentes de hipoglicemia, podem ter menos sintomas, e nada perceberão. Esta é uma situação séria e grave —que pode representar a perda da capacidade de responder à queda da glicose. Daí a importância do controle constante do diabetes", adverte Krakauer.
Outra situação são os sintomas que podem aparecer durante o sono. Nesse caso, você poderá acordar ao longo da noite, ter pesadelos ou dores de cabeça, bem como despertar com o lençol úmido devido ao suor excessivo. Esse quadro é chamado de hipoglicemia noturna.
Quem precisa ficar atento?
A hipoglicemia pode se manifestar em homens e mulheres de todas as idades, inclusive jovens e crianças. Contudo, ela é mais frequente nos seguintes grupos e condições:
- Pessoas com diabetes
- Praticantes de atividade física que não têm dieta adequada
- Alterações renais ou do fígado
- Idosos (especialmente os que fazem uso de muitos remédios ao mesmo tempo)
- Alteração cognitiva ou grau de demência
- Usuários de betabloqueadores
- Indivíduos que bebem sem se alimentar
- Grávidas
- Pacientes submetidas a cirurgia bariátrica
Quando é hora de procurar ajuda?
O sinal de alerta para marcar uma consulta é observar em si, de vez em quando, a presença, ao mesmo tempo, de alguns dos sintomas descritos (1 a 4 deles), principalmente quando, antes, tudo parecia normal.
A sugestão dos especialistas é que você não despreze tais circunstâncias porque a queda dos níveis glicêmicos pode ter início lento ou repentino, e ainda pode evoluir em poucos minutos.
"Um sinal importante, que revela a gravidade do quadro, é a alteração de consciência na qual a pessoa não consegue se ajudar e precisa do auxílio de terceiros", destaca Cássio Slompo Ramos, professor da disciplina de endocrinologia da Escola de Medicina da PUC-PR.
Ele acrescenta que todos os médicos são treinados para avaliar, investigar as possíveis causas e tratar a hipoglicemia. Para os pacientes com diabetes, entretanto, o endocrinologista é especialista mais indicado.
Como é feito o diagnóstico
Na hora da consulta, o médico deve levantar seu histórico de saúde e sua queixa, e ainda fará o exame físico. Entre os indivíduos com diabetes, a confirmação da suspeita diagnóstica é mais simples porque decorrerá da presença dos sintomas e do teste sanguíneo.
Já entre pessoas sem diabetes, o especialista pode valer-se da observação da presença da chamada tríade de Whipple, que consiste em identificar os sintomas típicos da hipoglicemia, medir os níveis glicêmicos (teste do dedo ou sanguíneo) e constatar a melhora do problema após intervenção (ingestão de açúcar).
Quando a causa do desequilíbrio não é clara, testes complementares podem ser solicitados, e eles vão desde exames de sangue simples, até os de imagem, como a ressonância do pâncreas.
Como é feito o tratamento?
Livia Sissi Gonçalves Souza Piechnik, médica preceptora na UBS Visitação, da secretaria municipal de Curitiba e professora do curso de medicina da Universidade Positivo, diz que a terapia de combate à hipoglicemia dependerá da causa. Ela esclarece que, em situações emergenciais, indica-se glicose pela via intravenosa, cuja resposta é rápida.
Nos casos em que a queda da glicemia se deu por alimentação irregular, o paciente é orientado a mudar hábitos de vida como manter uma dieta adequada e comer pequenas refeições durante o dia, em vez dos clássicos café da manhã, almoço e jantar.
Indivíduos com diabetes deverão ser avaliados para adequação da medicação e orientações para maior adesão ao controle da glicemia por meio da frequente medição, além de maior atenção à alimentação, que também deve ser fracionada.
Quando houver uma doença de base, esta deverá ser tratada adequadamente.
Dá para prevenir?
Você pode reduzir as chances de ter hipoglicemia, adotando as medidas abaixo descritas Elas são mais indicadas para pessoas com diabetes. Contudo, mesmo que este não seja o seu caso, e você seja apenas predisposto à queda glicêmica, essas práticas também podem ser úteis. Confira:
- Controle os níveis de açúcar no sangue regularmente;
- Aprenda a observar em si os sintomas da queda da glicemia;
- Tenha sempre com você algum alimento para comer caso seja necessário. Caso você tenha diabetes tenha sempre consigo algum item que tenha carboidrato, como por exemplo um envelope pequeno de mel;
- Evite pular refeições;
- Esteja atento às bebidas alcoólicas, evitando o uso abusivo. Se beber, não esqueça de comer carboidratos;
- Coma algum tipo de carboidrato antes dos exercícios. Caso tenha diabetes, fale com seu médico para que ele possa orientá-lo sobre o uso de seu medicamento antes dessas práticas;
- Faça um pequeno lanche antes de dormir, comendo uma torrada, por exemplo, caso você tenha hipoglicemia noturna;
- Pare o carro se estiver dirigindo e desligue o veículo ao sentir algum sintoma;
- Considere portar consigo algum tipo de identificação que você tem diabetes.
Fontes: Márcio Krakauer, médico endocrinologista especializado pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), diretor da SBEM-regional SP e coordenador do Departamento de Saúde Digital de Medicina e Tecnologia da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes); Cassio Slompo Ramos, médico endocrinologista especializado pela SBEM, professor da disciplina de endocrinologia da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Livia Sissi Gonçalves Souza Piechnik, mestre em saúde da família pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), médica especialista em saúde coletiva com ênfase em estratégia de saúde da família pela Universidade Positivo e professora do curso de medicina da mesma instituição. É médica e preceptora na UBS Visitação, da secretaria municipal de Curitiba. Revisão técnica: Cassio Slompo Ramos.
Referências: Ministério da Saúde; SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Mathew P, Thoppil D. Hypoglycemia. [Updated 2020 Dec 3]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534841/; Lamounier, Rodrigo Nunes et al. "Hypoglycemia incidence and awareness among insulin-treated patients with diabetes: the HAT study in Brazil." Diabetology & metabolic syndrome vol. 10 83. 21 Nov. 2018, doi:10.1186/s13098-018-0379-5.
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