Pediculose: tratamento do piolho evoluiu, mas não livra de todas as lêndeas
Presente entre os humanos há milhares de anos, a pediculose, também conhecida como piolho, ainda causa estresse e angústia entre aqueles que têm uma infestação porque, no imaginário popular, ela se relaciona com a má higiene. Apesar disso, a mais comum delas, a que afeta o couro cabeludo, leva a fama de outros tipos de piolho, e nada (ou pouco) tem a ver com hábitos de limpeza.
Esse inseto é conhecido pelos médicos como Pediculus humanus capitis, pode infestar homens e mulheres em qualquer idade e classe social, mas afeta mais crianças com idades entre 3 e 12 anos —em especial as meninas.
As epidemias geralmente acontecem em ambientes escolares, onde o contato social facilita a transmissão, principalmente em meses de altas temperaturas ou maior umidade.
No passado, o tratamento era feito por meio da retirada manual dos piolhos, da raspagem dos cabelos e pela remoção das lêndeas com um pente. Embora tais estratégias ainda sejam utilizadas, exceto o corte radical, já existem medicações tópicas e sistêmicas efetivas que agregam velocidade à terapia. No entanto, ela ainda requer um trabalho que envolve toda a família.
O que é pediculose?
Trata-se de uma infestação por parasitas que vivem fora do corpo (ectoparasitas), mas precisam estar em contato com ele para sobreviverem. Esses insetos são conhecidos como piolhos, não têm asas e são difíceis de serem visualizados.
Conheça os tipos de piolhos
Existem três espécies desses insetos e eles se instalam em partes diferentes do corpo. Confira:
Pediculus humanus corporis - infestam o corpo e geralmente se relacionam a más condições de higiene, é mais frequente entre pessoas que vivam em situação de vulnerabilidade ou em espaços limitados. Podem aparecer nas roupas e lençóis;
Phthirus púbis - se fixam na área genital e são transmitidos por meio do contato sexual. Alojam-se ainda nos pelos do peito, das axilas, barba e até nos cílios. São conhecidos popularmente como chato;
Pediculus humanus capitis - este é o piolho da cabeça, o mais comum entre todos.
Como se dá a transmissão do piolho da cabeça?
Esses insetos não pulam nem voam. Assim, a transmissão ocorre por meio do contato pessoal (cabeça com cabeça) com uma pessoa com piolhos, e também pelo contato indireto com objetos de seu uso como pente, escova, echarpes, bonés e até mesmo uma tiara, entre outros.
Piolho é a mesma coisa que lêndea?
Não. Maria Celia Cervi, professora do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP-USP, esclarece que o piolho é o parasita cuja fêmea é encarregada de depositar os ovos, que são chamados de lêndeas. Brilhantes, têm cor branco-acizentado e são capazes de "grudar" próximas à raiz do cabelo.
No período de 7 a 9 dias esses ovos se tornarão maduros para, então, começarem a sugar o sangue do couro cabeludo.
Por quanto tempo vive o piolho?
Quando ele está fora do seu corpo e sem alimento (sangue), ele sobrevive cerca de 6-24 horas (a média é de 12-15 horas).
Quem tem maior risco de pegar piolho?
A pediculose pode se manifestar entre homens e mulheres, em qualquer idade, independentemente de seus níveis socioeconômicos, mas é mais comum entre as crianças, em especial as meninas (por terem cabelos com maior volume e comprimento), nas idades de 3 a 12 anos.
Pessoas com imunossupressão e idosos também são mais suscetíveis.
Saiba como reconhecer os sintomas
Há indivíduos que não têm manifestação alguma (são assintomáticos). No entanto, o mais frequente é que, após a exposição ao piolho, os seguintes sintomas apareçam no prazo de 2, 3 a 6 semanas em uma primeira exposição. Entre os que já tiveram piolho, esse prazo é reduzido para 1 a 2 dias. Confira:
- Coceira intensa no couro cabeludo
- Lesão da pele local (escoriação) e crostas na nuca e na parte de trás da orelha
- Infecção bacteriana secundária
- Sensação de que algo se movimenta na cabeça
Quando procurar ajuda médica?
A dermatologista Carolina Contim Proença, assessora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da SBD, diz que embora a pediculose seja uma afecção bastante frequente na infância, e exista solução farmacêutica que não requer receita médica, é importante falar com um médico para que ele avalie as condições gerais da criança e oriente a terapia, já que ela requer atento acompanhamento dos pais e/ou responsáveis.
"Uma vez encontrado piolho em um membro da família, todos os membros devem ser examinados. Além disso, caso haja uma infecção secundária bacteriana, pode ser necessário o uso de antibióticos", acrescenta Proença. Os especialistas indicados para essa consulta são o pediatra ou o dermatologista.
Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta, o médico ouvirá a queixa do paciente, levantará seu histórico de saúde e fará o exame físico, dando especial atenção ao couro cabeludo.
Como não são necessários exames complementares, e o diagnóstico se baseia nesses dados, ele é chamado de diagnóstico clínico.
Como é feito o tratamento?
O objetivo dele é acabar com a infestação, o que se faz por meio de agentes antiparasitários usados por via tópica (loções ou xampus).
O paciente também será orientado para fazer a retirada manual das lêndeas com um pente fino, diariamente, até a completa remoção delas.
"A terapia evoluiu nos últimos anos e já temos um tratamento pela via oral (sistêmico), que é feito com a ivermectina. Geralmente ela é indicada quando as medidas tópicas não foram suficientes. Como as dosagens devem ser personalizadas, essa estratégia deve sempre ser guiada pelo médico", fala a dermatologista Ana Lúcia França da Costa, professora da UFPI.
Por que é preciso repetir o tratamento?
Porque os ovos podem eclodir em 7 dias, e não existe um tratamento considerado 100% eficaz contra eles. Daí a necessidade de "catar" as lêndeas. A explicação é da dermatologista Ludmila Corral, responsável pelo Ambulatório de Tricologia do HUOL-UFRN.
Para facilitar essa prática, o cabelo e o pente devem ser umedecidos com uma solução de água e vinagre (50% e 50%, ou seja, a mesma medida de água e vinagre).
O que esperar do tratamento?
Quando ele é feito de forma apropriada, a infestação é solucionada. No entanto, podem ocorrer falhas que geralmente decorrem do não atendimento às orientações médicas. Como o tratamento requer várias etapas, alguma delas podem ser falhas, seja no trabalho da retirada das lêndeas, no uso das medicações tópicas, no tratamento familiar, e até mesmo nas medidas de controle ambiental, como a higienização de roupas.
Como evitar a transmissão de piolho
Não é possível prevenir uma infestação, mas você pode controlar a transmissão adotando as seguintes medidas:
- Avise as pessoas com quem tem contato, o pessoal da escola ou da creche;
- Examine o couro cabeludo das crianças (e mesmo dos adultos) ao perceber que elas estão coçando a cabeça com maior frequência;
- Evite o quanto possível o contato físico e também o compartilhamento de roupas, bonés, tiara, toucas, pente e escova de cabelo, e até mesmo roupa de cama;
- Higienize escovas e pentes utilizados pelo paciente em um recipiente com água quente e vinagre; deixe de molho por cerca de 1 hora;
- Aspire piso, tapete e travesseiros. Ao final, descarte o saco do aspirador de pó;
- Lave a roupa de cama e toalhas com água quente. Quando possível, use a secadora;
- Mantenha o cabelo preso (no caso das meninas).
Fontes: Ana Lúcia França da Costa, dermatologista e professora da UFPI (Universidade Federal do Piauí) e integrante do corpo clínico do Hospital Universitário da mesma instituição, que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Carolina Contim Proença, dermatologista assessora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da SBD (Sociedade Brasileira da Dermatologia), médica assistente na área de Dermatologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo e coordenadora da equipe de Dermatologia do Hospital Infantil Sabará (SP); Ludmila Corral, dermatologista especialista em tricologia (doenças do couro cabeludo e cabelos), responsável pelo ambulatório de tricologia do HUOL-UFRN (Hopital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que integra a rede Ebserh; Maria Celia Cervi, professora do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP- USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto). Revisão médica: Ana Lúcia França da Costa.
Referências: SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria); AADA (American Academy of Dermatology Association); Bragg BN, Wills C. Pediculosis. [Atualizado em 2022 Feb 5]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470343/.
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