Conteúdo de Marca

Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para Hospital Israelita Albert Einstein e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL. Publicado em dezembro de 2023

oferecido por Selo Publieditorial
  • Além da quimioterapia, imunoterapia e terapias-alvo oferecem novas possibilidades de cura e controle dos cânceres de cólon e de pulmão e de forma menos invasiva.
  • Tanto os tumores de cólon como os de pulmão têm tido um aumento de incidência na população atual, que pode ser ligado aos hábitos de vida ruins (como tabagismo e alimentação rica em ultraprocessados).
  • O avanço dos últimos anos no sequenciamento genético dos tumores permitiu descobrir a "assinatura" de vários tipos de câncer e, com isso, desenvolver novos e menos invasivos tratamentos para controle e até cura da doença.
  • As cirurgias também evoluíram e, hoje, é possível utilizar tanto a robótica como modelos em 3D para auxiliar e facilitar a remoção de tumores de forma mais precisa e menos agressiva.
  • Embora os tratamentos tenham avançado, a descoberta precoce continua sendo um importante aliado para aumentar a chance de prognósticos positivos e, por isso, esses exames têm sido ampliados na população de vários países.

Por muito tempo, a quimioterapia e a radioterapia eram as únicas alternativas para tratar os cânceres de pulmão e colorretal, os dois tipos de câncer que mais matam em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). O avanço da ciência e, especificamente, do sequenciamento genético dos tumores, no entanto, trouxe novas possibilidades de terapias, como o uso de medicamentos específicos para alguns tipos da doença (as chamadas terapias-alvo) e ainda a imunoterapia - esta última especialmente no caso do câncer de pulmão.

"Hoje, tanto no câncer de pulmão de células não pequenas como no câncer colorretal metastático, é importante identificar seu nome e sobrenome, ou seja, a assinatura molecular da doença, para que possamos ter um tratamento personalizado", afirma o oncologista Fernando Moura, gerente médico do Programa de Medicina de Precisão do Hospital Israelita Albert Einstein reconhecido como o melhor hospital oncológico da América Latina e o 17º em todo o mundo, segundo o ranking World's Best Specialized Hospitals, da revista Newsweek.

Segundo a OMS, em 2020, as mortes por câncer de pulmão e colorretal (também chamado de câncer de intestino) somaram quase 3 milhões. No Brasil, dados recentes do Inca (Instituto Nacional do Câncer) colocam os dois tipos de câncer entre os cinco mais incidentes na população: o colorretal em quarto lugar, seguido pelo câncer de pulmão - o primeiro continua sendo o câncer de pele do tipo não melanoma, seguido de mama e próstata.

Como todo câncer, as chances de cura e de tratamento menos invasivo são bem mais altas quando se diagnostica a doença nos estágios iniciais. O problema é que tanto o câncer colorretal como o de pulmão são conhecidos por, em muitos casos, se apresentarem de forma assintomática em seus estágios iniciais. Por isso, a melhor forma de evitar chegar ao consultório com a doença já em estágio avançado (e, portanto, com menos opções de tratamento) é a realização de exames de rastreio para detectar as lesões ainda em estágio inicial.

Câncer de pulmão cada vez mais frequente entre não fumantes

Tipo de tumor que mais mata no mundo, o câncer de pulmão ainda é bastante associado ao tabagismo, embora o perfil das pessoas acometidas por ele esteja se transformando à medida que os hábitos de vida mudam. "Se antes os não fumantes representavam de 5 a 10% dos pacientes, hoje representam até 30% deles", diz o oncologista Ricardo Terra, coordenador do Centro de Excelência de Medicina de Precisão do Tórax do Einstein. Ele acrescenta que o número de novos casos também aumentou entre mulheres relativamente mais jovens, algo que não se via antes. A principal hipótese para explicar essa mudança é o impacto da poluição atmosférica no organismo.

Tosse com sangramento e pneumonias de repetição são os sintomas mais comuns da doença, mas que nem sempre estão presentes nos estágios iniciais. Terra comenta que algumas pessoas descobrem o tumor por acaso, ao investigar outra doença, algo que foi frequente nas fases mais intensas da pandemia de Covid-19.

Câncer colorretal

Também chamado de câncer de intestino, o câncer colorretal surge em algum segmento do intestino grosso (cólon) e/ou no reto. A maioria das lesões se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que se desenvolvem na parede interna do intestino grosso. E, se antigamente, esse tipo de tumor maligno era considerado uma doença que atingia uma população mais velha, casos que se tornaram públicos recentemente de pessoas que descobriram a doença com menos de 50 anos acenderam um alerta sobre a possibilidade de a doença estar surgindo cada vez mais cedo.

"Em países que têm programas de rastreamento há muitos anos, a incidência tem caído na população de 50 anos ou mais, mas tem aumentado na população mais jovem, que não passa pelo rastreamento", responde Diogo Bugano, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenador médico do Hospital Municipal Vila Santa Catarina, hospital público gerido pelo Einstein.

Esse aumento tem a ver com mudanças nos hábitos alimentares, com aumento do consumo de produtos ultraprocessados, como embutidos, e menor ingestão de vegetais e frutas, que têm papel protetor. Ingestão excessiva de carne vermelha e álcool, tabagismo, acúmulo de gordura corporal, sedentarismo, doenças inflamatórias intestinais e histórico familiar também são fatores de risco. A mudança de perfil dos pacientes fez com que, nos EUA, por exemplo, a idade para o início do rastreamento baixasse de 50 para 45 anos.

O câncer de intestino é assintomático no início. Somente à medida que cresce é que surgem sintomas obstrutivos, como intestino mais preso e, depois, o que os médicos chamam de diarreia paradoxal - muitas evacuações líquidas em pequena quantidade, com muitos gases, e, às vezes, presença de sangue. Quando a obstrução é total, a dor é constante e acompanha vômitos.

Até pouco tempo, o diagnóstico desses cânceres envolvia apenas a biópsia, e testes genéticos e moleculares eram solicitados apenas em caso de doença metastática. Hoje, no entanto, alguns médicos podem pedir esses testes moleculares também nos estágios iniciais. No caso do câncer colorretal, é comum investigar, já na biópsia, a presença de uma característica do tumor chamada "instabilidade de microssatélites". Primeiro, porque um resultado positivo pode orientar que parentes próximos fiquem mais atentos à detecção precoce. Em segundo, porque esse tipo de câncer responde muito bem à imunoterapia.

Imunoterapia: ensinando o corpo a combater o inimigo

Se, há alguns anos, falávamos de qual tipo de quimioterapia seria necessário para tratar o câncer, hoje o arsenal de medicamentos à disposição dos médicos é muito maior graças aos avanços do sequenciamento genético dos tumores. Com isso, foi possível compreender melhor a natureza dos diferentes tipos de câncer e reconhecer sua "assinatura" — ou seja, identificar biomarcadores presentes nas células cancerígenas e que vão facilitar o seu rastreio durante o tratamento.

Nesse sentido, a imunoterapia tem sido considerada um dos grandes avanços na história do controle do câncer. O tratamento consiste em "ensinar" o organismo a não tolerar o câncer e reconhecê-lo como algo ruim. Dessa forma, o sistema imunológico pode combater a doença. "A imunoterapia nada mais é do que o uso de medicações que estimulam as nossas células de defesa, chamadas de células T, a reconhecer e atacar o tumor", explica Moura. O resultado é o controle do crescimento da doença.

Nos cânceres de pulmão, a imunoterapia é hoje um dos principais tratamentos tanto para os quadros sem metástase como para os mais avançados, em que não há mais possibilidade de cirurgia e ressecção do tumor, e o tratamento visa apenas o controle da doença. "Mesmo após o uso da quimioterapia e da radioterapia, o paciente ainda pode discutir o uso da imuno por até um ano para melhores desfechos", afirma o especialista.

Um dos principais imunoterápicos usados para tratar o câncer de pulmão atua em dois mecanismos conhecidos das células tumorais para driblar nosso sistema imunológico: a proteína PD-1 e a PD-L1. Administrados por via venosa, o uso desses fármacos está bem estabelecido na doença metastática, mas agora já se começa a ser pesquisado para fases iniciais. "Antes da cirurgia, o uso da imunoterapia pode, às vezes, ser um divisor de águas", declara Ricardo Terra. Saber o momento de se utilizar o medicamento certo, é algo que pode fazer toda a diferença, e isso é algo que depende de um corpo clínico experiente e envolvido em pesquisas.

Embora em menor escala, a imunoterapia também pode ser usada para combater o câncer colorretal, com grande eficácia especificamente no caso dos tumores colorretais com instabilidade de microssatélites. Nesse cenário, estima-se que, em cerca de 20 a 40% dos cânceres identificados em estágios iniciais, quando a imunoterapia é aplicada logo após o diagnóstico, a cirurgia realizada para retirar o tumor posteriormente é bem menos invasiva.

Terapias-alvo: otimização do tratamento

Desvendar a assinatura molecular dos tumores oncológicos também permitiu o desenvolvimento das chamadas terapias-alvo, que nada mais são do que medicamentos desenvolvidos para combater especificamente essas células tumorais. A ideia, aqui, é desenvolver remédios que possam atingir em cheio as células cancerígenas que se mostrarem sensíveis a essas substâncias.

Para uma parte significativa dos cânceres de pulmão mais frequentes, existem terapias-alvo específicas, por isso a realização dos testes genéticos é essencial. É o caso dos tumores com mutação nos genes EGFR, ALK e ROS. Também existem tratamentos para mutações menos comuns, como KRAS, RET e HER. No caso dos pacientes com câncer colorretal, a recomendação é testar, além da presença de instabilidade de microsatélites, se há alterações como as dos genes BRAF, KRAS e HER, para os quais já existem terapias-alvo bem estabelecidas ou em desenvolvimento.

Cirurgias menos invasivas e recuperação personalizada

Outra mudança de paradigma são os cuidados do paciente antes e durante a cirurgia, algo que só é possível com a discussão de cada caso por profissionais de diferentes especialidades. "Quando o paciente é candidato ao tratamento cirúrgico, idealmente os casos devem ser discutidos em um fórum multidisciplinar", explica Moura. "Especialistas como cirurgiões, patologistas, radio-oncologistas e oncologistas clínicos devem estar na mesa para que possamos encontrar a melhor estratégia de tratamento para cada paciente", avalia.

Segundo o oncologista, em alguns pacientes em que é possível utilizar uma combinação de quimioterapia com imunoterapia antes da cirurgia, o desfecho mostrou-se melhor tanto no aspecto da recuperação como nos efeitos colaterais, que foram menores. A ideia, aqui, é preservar o máximo possível de tecido, o que tem impacto direto na recuperação do indivíduo.

Nesse sentido, a evolução das técnicas cirúrgicas também tem se mostrado importante para proporcionar uma recuperação mais rápida e com menos desconforto. As cirurgias robóticas foram especialmente úteis para os tumores localizados no reto, mais difíceis de serem operados.

A inovação tem beneficiado também os pacientes com câncer de pulmão. Junto com tecnologias que permitem reconstruir o órgão em 3D para planejar o procedimento, a cirurgia robótica e assistida por vídeo permite a retirada de partes menores, e não mais o lobo completo, como era comum antigamente.

Esses desenhos tridimensionais também trouxeram precisão para a radioterapia, o que ajuda a preservar tecidos saudáveis ao redor do tumor. Hoje o equipamento permite até corrigir os movimentos durante a respiração, algo crucial ao se irradiar tumores nesse órgão.

A quimioterapia também evoluiu nos últimos anos. Uma das novidades é o uso de moléculas conjugadas a anticorpos monoclonais, que se ligam às células tumorais e, só então, liberam o quimioterápico. Além de tornar o tratamento mais preciso, isso ajuda a minimizar os danos do tratamento sobre as células saudáveis.

Rastreio é determinante para melhorar o prognóstico

Embora a medicina tenha avançado nos tratamentos, o diagnóstico precoce da doença ainda é fundamental para aumentar as chances de controle e até de cura do câncer. Para isso, é importante recorrer aos exames de rastreio -que ainda não são feitos de forma frequente para a maioria da população nos casos dos cânceres de pulmão e colorretal.

"Alguns países asiáticos têm ampliado o rastreamento do câncer de pulmão, mas, na nossa população, o mais comum nos não tabagistas é o diagnóstico incidental, ao realizar exames para alguma outra doença", afirma Ricardo Terra.

O câncer de pulmão não prevê um rastreio específico a menos que você esteja no grupo de risco, ou seja, com mais de 50 anos, tenha algum histórico da doença na família, ou ainda ser ou ter sido fumante nos últimos 15 anos, com um montante médio de 20 maços por ano fumados. Nesses casos, a recomendação é realizar uma tomografia computadorizada com baixa dose de radiação anualmente para buscar possíveis nódulos nos pulmões.

Já o câncer colorretal pode ser rastreado por meio da colonoscopia. Com o paciente sob sedação, um endoscópio permite visualizar o interior do intestino e remover pólipos suspeitos, que depois são analisados por biópsia. Alguns deles, mesmo se forem benignos, podem se transformar em um adenocarcinoma, o principal tipo de câncer de intestino, com o passar do tempo. Então a colonoscopia não apenas é uma ferramenta de diagnóstico, como também é o único exame que já trata a doença.

Moura acredita que a medicina de precisão ainda tem um grande potencial para avançar, especialmente na área de desenvolvimento de terapias menos invasivas e mais eficazes para vários tipos de câncer. No caso do câncer de pulmão, por exemplo, são muitas as pesquisas que estão empenhadas em descobrir novos medicamentos com base no conhecimento genético crescente que se tem dessa doença. A ideia é que, com isso em mãos, seja possível oferecer melhores opções de imunoterapia dirigida e ampliar a variedade de terapias-alvo disponíveis. Para o câncer de cólon, tratamentos capazes de modular a microbiota intestinal, os micro-organismos que habitam esse órgão, talvez façam mais pacientes se tornarem responsivos à imunoterapia, algo que já tem sido alvo de estudos. E o sucesso de novas terapias direcionadas, quem sabe, tornará a cirurgia dispensável para grande parte dos tumores que conhecemos hoje.

Conhecendo o inimigo

Câncer colorretal

São tumores que surgem em algum segmento do intestino grosso (cólon) e/ou no reto. A maioria das lesões se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que se desenvolvem na parede interna do intestino grosso.

O que aumenta o risco:

Idade igual ou acima de 50 anos, história familiar de câncer, excesso de gordura corporal (sobrepeso e obesidade), alimentação pobre em fibras, como frutas e vegetais, consumo excessivo de carnes processadas e carne vermelha, sedentarismo, doenças inflamatórias do intestino.

Câncer de pulmão

Tipo de tumor que acomete um ou os dois pulmões. Ele pode ser dividido em dois tipos: o de pequenas células e o de células não pequenas (este último é o tipo mais frequente - representa de 80 a 85% dos casos).

O que aumenta o risco:

Tabagismo, fumo passivo, exposição a agentes cancerígenos (como asbesto ou amianto, radônio, arsênico e outros agentes químicos), poluição atmosférica excessiva e histórico familiar ou pessoal da doença.

Tratamentos avançados

  • Imunoterapia

    São medicamentos que auxiliam o corpo a reconhecer as células cancerígenas como uma ameaça. Dessa forma, as próprias células de defesa (chamadas de células T) do organismo passam a atacar o tumor e a combatê-lo. Hoje, existem diversos tipos de imunoterapia, como os inibidores de checkpoint, os anticorpos monoclonais, moduladores do sistema imune e até vacinas. No câncer de pulmão: é um dos principais tratamentos tanto para os quadros sem metástase como para os mais avançados, em que não há mais possibilidade de cirurgia e ressecção do tumor e o tratamento visa apenas o controle da doença. No câncer colorretal: a imunoterapia é uma opção muito eficaz para pacientes com a chamada ?instabilidade de microssatélites?, que afeta cerca de 20 a 40% dos tumores em estágios iniciais.

  • Terapias-alvo

    As terapias-alvo são medicamentos desenvolvidos para atacar especificamente as células cancerígenas. Para isso, utilizam genes, proteínas ou outros marcadores tumorais específicos da doença para identificar o alvo, reduzindo os danos às células normais do organismo. No câncer de pulmão: existem medicações específicas para quem tem mutações nos genes EGFR e ALK. No câncer colorretal: há terapias-alvo desenvolvidas para tratar a doença causada pelas mutações nos genes BRAF, KRAS e HER.

  • Cirurgias menos invasivas

    Cirurgias robô-assistidas e vídeo assistidas, aliadas a tecnologias que possibilitam a reconstrução tridimensional dos órgãos durante a cirurgia, permitem maior precisão ao se remover tumores. Menores incisões também ajudam na recuperação e reduzem a dor e o desconforto. A ablação por radiofrequência é outra técnica minimamente invasiva que tem sido usada com sucesso no tratamento de metástases.

  • Abordagem multidisciplinar

    Com a discussão dos casos por profissionais de diferentes especialidades, é possível determinar qual o melhor momento de realizar cada tratamento, ou quando usar duas ou mais terapias em conjunto para permitir, por exemplo, tratar tumor primário e metástases ao mesmo tempo. Além disso, integrar cuidados como nutrição, manejo da dor, fisioterapia e atividade física, entre outros, aumenta a eficácia das terapias, acelera a recuperação, reduz efeitos colaterais e melhora a qualidade de vida antes, durante e depois do tratamento.

Topo