O relatório do UNAIDS de 2020 aponta que, globalmente, o risco de infecção pelo HIV é 13 vezes maior para pessoas trans.(1) Um estudo recente realizado pela Fiocruz mostra que as taxas de infeccção por HIV foram muito altas em travestis e mulheres trans no Brasil, sendo a maior delas encontrada em Porto Alegre, onde 65,3% das pessoas estudas apresentavam HIV e a menor delas em Curitiba, onde esse número é de 19,7%.(14)
Mais do que estatísticas, as mulheres trans representam suas próprias histórias. Entre elas, a carioca Jacqueline Rocha Côrtes, de 60 anos. Jacque, como gosta de se apresentar, é uma das referências no universo de mulheres transexuais que vivem com HIV e hoje é representante do Movimento Latino-americano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+).
"Sou uma mulher transexual redesignada. Me descobri uma menina por volta dos 5 anos de idade, sem a consciência dessa descoberta. Porque uma criança não tem um pensamento racional de entender o que se passa com ela", conta. Já era adulta quando leu em uma revista, na sala de espera por atendimento odontológico, uma reportagem sobre transexuais e descobriu que se encaixava.
Após uma série de gripes e pequenas infecções, descobriu o HIV aos 34 anos. O ano era 1994 e o tratamento era bastante diferente do que é hoje, com diversos efeitos colaterais. A taxa de mortalidade por AIDS ainda era alta e ela foi encaminhada para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde foi uma das primeiras pacientes da terapia antirretroviral.