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Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para Ministério da Saúde e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL. Publicado em Outubro de 2024

Fale sobre doação de órgãos

Conversar sobre pode ser difícil, mas essa atitude salva vidas

produzido por Selo Publieditorial

Falar sobre morte e doação de órgãos é um tema frequentemente evitado, cercado por receios culturais e pessoais. Contudo, especialistas e pacientes enfatizam que essa conversa não precisa ser desagradável e é fundamental para salvar vidas.

Algumas pessoas acham que, se falarem de morte, atrairão energias ruins ou algo do tipo. Outras entendem a morte de um ente como algo tão doloroso, que evitam pensar nessa possibilidade, mas não se dão conta de que podem ser eles mesmos ou os seus familiares a precisarem de uma doação de órgãos no futuro

Daniela Velame, cardiologista da equipe de transplante cardíaco do Hospital Ana Nery, em Salvador (BA)

O Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo e é uma referência mundial nessa área. Somos o quarto país que mais realiza o procedimento em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.

Em 2023, foram realizados 28.530 transplantes no Brasil, sendo que cerca de 90% das cirurgias são custeadas pelo Sistema Único de Saúde. Do total de operações, foram 16.027 transplantes de córnea, 6.206 transplantes de rim, 3.251 de medula óssea, 2.416 de fígado e 429 de coração, entre outros.

Mas, mesmo que o Brasil seja uma referência na área de transplantes e que o número de cirurgias tenha aumentado nos últimos anos, as listas de espera ainda contam com muita gente: são 43.019 pacientes aguardando por um transplante de órgãos e 28.019 esperando por transplante de córneas.

Para aumentar a quantidade de potenciais doadores de órgãos e tecidos, o Ministério da Saúde acaba de lançar a campanha "Doação de órgãos. Precisamos falar sim". A ideia da campanha é incentivar o diálogo sobre o assunto, estimular que os membros da família falem abertamente sobre sua intenção de serem doadores para que, caso um dia a família precise tomar essa decisão, todos saibam quais são os desejos de cada um.

Segundo explica a médica Daniela Velame, qualquer pessoa pode registrar sua intenção de ser doador de forma online, o que pode facilitar o cumprimento desse desejo. Mas a doação só acontece com a autorização da família. "Por isso, é muito importante que a pessoa avise aos familiares a sua intenção de ser um doadora, para que se aumente a chance de que sua vontade seja respeitada", diz.

De acordo com Gustavo Peixoto, professor associado do departamento de cirurgia da Universidade Federal do Espírito Santo, chefe da unidade de cirurgia do Hospital das Clínicas do Espírito Santo e médico na rede Meridional Kora, onde realiza transplantes pelo SUS, doar ou não os órgãos é uma decisão muito difícil para a família, especialmente nos casos de morte de uma pessoa jovem, saudável e que sofre uma morte brusca, como em um acidente, por exemplo. "Agora, se a pessoa tiver conversado em vida e falado que é um doador, isso facilita muito a decisão da família", diz.

O segundo tipo de transplante mais comum é o de rim. "Isso acontece porque cada doador pode beneficiar dois pacientes diferentes e ocorrer também o transplante entre pessoas vivas", diz Daniela Velame. Já o de coração é um dos que representa mais dificuldade, pois o tempo máximo em que o órgão pode ficar sem "funcionar" é de 4 horas. "Um desafio em um país de dimensões tão grande como o nosso", diz a médica.

Um obstáculo para a doação de órgãos é a dificuldade de entendimento sobre quando ocorre uma morte encefálica e não há mais chances de aquele paciente se recuperar - o que o torna um potencial candidato à doação. Segundo Daniela Velame, para que seja diagnosticada a morte encefálica, é aberto um protocolo bem-estabelecido e igual para qualquer hospital. "Dois médicos diferentes, que não fazem parte das equipes de transplante, precisam fazer os exames físicos de avaliação de atividade cerebral, em um intervalo mínimo de uma hora de diferença", diz.

Também é preciso comprovar que o paciente não consegue respirar sozinho, sem auxílio do ventilador, e é necessário um exame de imagem que comprove a ausência de atividade cerebral. E, além disso, o protocolo é auditado pela central de doação de órgãos do Estado.

A professora de inglês Kika Campos, 58 anos, moradora da Ilhabela (SP), convive há 10 anos com tratamentos para insuficiência renal, causada por um defeito congênito na parede dos rins. Há um ano e meio, seus rins chegaram a uma capacidade de funcionamento de 10%, e ela entrou na espera por um transplante e começou a fazer diálise.

Kika faz a diálise peritonial, um tipo de tratamento que é possível fazer em casa, sem a necessidade de ir ao hospital.

Tenho uma vida ativa, faço exercícios. Mas me falta energia, é uma luta sair da cama todos os dias

Kika Campos, Professora e moradora da Ilhabela (SP)

Kika concorda que as famílias deveriam conversar mais sobre doação de órgãos. "Muitos órgãos são perdidos sem a doação, são muitas vidas que poderiam ser salvas", afirma. "Sou doadora desde os 20 anos. Quando a gente morre, os órgãos vão embora, serão cremados ou enterrados. Mas o que não serve mais para mim pode servir para outras pessoas", diz.

Enquanto conversa com amigos e conhecidos sobre a importância de doar órgãos, Kika torce para que chegue logo a sua vez de ganhar novos rins. "É uma sensação estranha, é como ganhar na Loteria, mas você não sabe quando vai receber o prêmio", diz.

Mas os transplantes só são possíveis caso haja doadores. "Por isso, é importante que todos considerem a possibilidade de se tornarem doadores", diz o médico Gustavo Peixoto.

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