INFLUÊNCIA DO PERÍODO GESTACIONAL NA SAÚDE DA CRIANÇA
"Costumo dizer que existem os 1.100 dias que são cruciais para o desenvolvimento de uma criança. Eles incluem os três meses que antecedem a concepção, as semanas da gestação e os dois primeiros anos de vida", diz o obstetra Mauro Sancovski, professor titular da Faculdade de Medicina do ABC. Durante o Simpósio sobre Dificuldades Alimentares, ele reforçou que o cuidado com a saúde nutricional da futura mãe pode evitar complicações, como diabetes gestacional, e possíveis má-formações do feto.
"Antes, nossa preocupação estava focada em não perder o bebê. Hoje, sabemos que afastar o risco de um parto prematuro é extremamente importante para as capacidades motora e cognitiva da criança." Para o obstetra, os médicos devem trabalhar em parceria com nutricionistas para atender todas as necessidades das gestantes. "Temos que reconhecer que precisamos aprofundar nosso conhecimento, principalmente para as pacientes vegetarianas ou intolerantes a alguns alimentos."
A TRIAGEM NEONATAL SALVA VIDAS
"No mundo, 90% dos pacientes com imunodeficiências primárias não são diagnosticados após o nascimento e levam cerca de 7 a 10 anos até conseguir uma explicação sobre os seus sintomas", ressalta a médica Carolina Prando, do Hospital Pequeno Príncipe, de Porto Alegre. Durante o Simpósio de Atualidades em Imunodeficiências e Alergias, ela destacou o caso das crianças com SCID, uma doença que acomete a produção de linfócitos T e B. "Esses bebês precisam receber um transplante de medula óssea o mais cedo possível", explica. "Estudos já comprovaram que se isso ocorre antes dos três meses e meio de vida, a taxa de cura pode chegar a 98%." Porém, quando a criança tem um quadro ativo de infecção e passa pelo transplante após essa idade, esse número despenca para 50%.
Hoje, a triagem neonatal possibilita que os pediatras descubram doenças em bebês aparentemente bem. "São enfermidades que representam um problema de saúde relevante, mas têm tratamento." Inclusive, o dignóstico precoce delas é capaz de reduzir os gastos com internações, medicamentos e reabilitação.
A ASMA NAS CRIANÇAS
Os médicos Emanuel Sarinho, futuro presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, e Gustavo Wandalsen, professor da Unifesp, falaram sobre os quadros de uma doença frequente entre as crianças: a asma. "Todo pediatra conhece bem como é a crise aguda: com cansaço, chiado no peito, tosse e dor no toráx", diz Sarinho. "Só que precisamos ficar atentos porque, mesmo quando leve, a asma causa uma inflamação recorrente no organismo do paciente." Por isso, o novo protocolo médico recomenda que, no caso dos adolescentes, a prescrição troque o beta 2 de curta duração (SABA) pelo beta 2 de longa duração associado ao corticoide inalado.
Infelizmente, também existem as situações graves da doença, que não são comuns (estão presentes em apenas 5% dos asmáticos), mas podem ser de difícil controle. "Além da anamnese, o pediatra precisa aplicar um questionário para mapear melhor a realidade do paciente, como o ACT para adolescentes e o c-ACT para crianças de cinco a onze anos", diz Wandalsen. Ele também alerta sobre a importância de identificar outras comorbidades, como disfunsão da corda vocal, ataque de pânico e bronquiolite obliterante. "Outro desafio é a baixa adesão ao tratamento, tanto por receio intencional, como por falta de entendimento. Para driblar esse risco, é preciso simplificar todo o processo."