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Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para Sanofi e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL. Publicado em fevereiro de 2022

Entenda o mieloma múltiplo

O câncer relacionado a dores na coluna e cansaço pode ter controle por novos tratamentos

oferecido por Selo Publieditorial

Março é o mês de conscientização do mieloma múltiplo e traz um convite para ficar mais alerta: os sintomas podem ser facilmente confundidos com outras complicações e retardar a descoberta da doença. Especialistas explicam que é o segundo câncer mais frequente no mundo entre os hematológicos, que são aqueles relacionados ao sangue, e afeta sete a cada cem mil pessoas. Quanto antes detectado, melhores poderão ser as opções de tratamento para controlar e conviver com a doença com qualidade de vida.

"O mieloma múltiplo atinge células da medula óssea chamadas plasmócitos, que têm função de produzir anticorpos que atuam no sistema de defesa", explica o hematologista Ângelo Maiolino, professor de Hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular.

Para entender melhor em que lugar do corpo se manifesta, os médicos detalham: dentro dos ossos do nosso corpo há um tecido líquido-gelatinoso que é a medula óssea, conhecida popularmente como tutano. Ela funciona como uma verdadeira fábrica de sangue e produz, entre outras células, os plasmócitos.

No mieloma múltiplo, é como se essa célula fosse doente porque não exerce as suas funções de forma adequada. "Há um aumento anormal e progressivo da produção de plasmócitos, ou seja, eles vão se acumulando e comprometendo a medula óssea", afirma a hematologista Vânia Hungria, professora de Hematologia da Santa Casa de São Paulo e cofundadora da International Myeloma Foundation (IMF) Latin America. As causas, segundo os especialistas, ainda não são bem definidas.

De uma dor nas costas a um cansaço constante

Uma característica importante da doença é que as células doentes produzem substâncias que levam à destruição do osso, de dentro para fora. "Os ossos vão ficando como se fosse com buracos, lesões que chamamos de osteolíticas, que podem provocar fortes dores e fraturas", conta a hematologista Danielle Leão, titular do Centro de Oncologia e Hematologia da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo.

"Cerca de 80% dos casos têm comprometimento ósseo, que ocorre principalmente na coluna vertebral, crânio, caixa toráxica e bacia", diz Vania Hungria, que diz que outro sintoma muito comum é a anemia, com sensação de cansaço e fraqueza em 60% dos casos, além de disfunção renal. "Parte das substâncias produzidas pelos plasmócitos alterados pode chegar nos rins, prejudicando o seu funcionamento em cerca de 20% dos casos", explica.

Danielle Leão também destaca outro sintoma: "Por não haver a produção de anticorpos normais suficientes, a pessoa pode começar a ter muitas infecções de repetição, ou seja, infecções graves e recorrentes que também servem de alerta".

Os sinais no corpo são diversos, mas Vania Hungria explica que não necessariamente a pessoa apresentará todos esses sintomas.

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O nome é mieloma múltiplo por haver vários focos de comprometimento dentro da medula óssea, o que não significa que é preciso ter múltiplos sintomas. É muito importante investigar as causas mesmo se apenas um sinal aparecer

Vania Hungria , professora de Hematologia da Santa Casa de São Paulo e cofundadora da International Myeloma Foundation (IMF) Latin America

Por que demora para ser detectado?

Segundo Ângelo Maiolino, muitas pessoas podem levar de seis meses a um ano para descobrir a doença. Isso ocorre porque os principais sinais - como as dores nas costas e o cansaço - são confundidos com complicações corriqueiras do dia a dia. Por ser um câncer mais frequente em pessoas acima dos 65 anos, também é comum pensar que são sensações comuns da idade.

"É uma dor que não passa com remédio ou fisioterapia e que se intensifica principalmente na região da coluna, podendo ficar insuportável se demorar muito para descobrir", conta o médico. Por isso, é fundamental estar atento. "Muitas vezes, a pessoa busca um massagista ou fica se automedicando achando que é apenas uma dor e só procura um médico quando chega a sofrer uma fratura", alerta Danielle Leão, que acrescenta: "É muito comum ocorrer fratura de vértebra por carregar cargas muito leves ou realizar atividades sem esforço exagerado".

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Vania Hungria conta que, por causa dos sintomas, a pessoa com suspeita não vai direto a um médico hematologista, mas, sim, a ortopedistas, geriatras, nefrologistas ou reumatologistas. "Há uma jornada longa até chegar ao hematologista porque não é costume procurar essa especialidade para reclamar de uma dor óssea, por exemplo", afirma.

A médica também explica que, para o diagnóstico, são indicados vários exames, desde os próprios para detectar a quantidade de plasmócitos na medula óssea até os que verificam a parte óssea e os rins: "É preciso avaliar toda a parte clínica do paciente para saber a extensão da doença e identificar qual tratamento pode ser necessário".

O avanço dos tratamentos

O mieloma múltiplo não tem cura, mas não significa que não pode ser controlado - e os tratamentos estão cada vez mais eficientes, segundo os especialistas. "Costumo explicar que é como se fosse uma doença crônica de diabetes ou pressão alta que também não tem cura, mas que possui formas de controle para conviver com a doença com qualidade de vida", afirma Danielle Leão.

A escolha do tratamento depende de vários fatores, como a idade da pessoa, quais sintomas ela possui e se é portadora de outras doenças.

Às vezes, podem se sentar três pessoas na frente do médico com a mesma idade e o diagnóstico de mieloma múltiplo, mas cada uma ter um tratamento diferente por causa das características da doença e da pessoa

Danielle Leão, Titular do Centro de Oncologia e Hematologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo

As opções são diversas. Ângelo Maiolino conta que um marco importante é o transplante de medula chamado autólogo, quando o doador é o próprio paciente. "Explicando de uma forma simplificada, uma fração de células da medula é retirada, o paciente recebe uma alta dose de quimioterapia e, depois, essas células são devolvidas", afirma.

Também houve um importante avanço no desenvolvimento de outros tratamentos. "Antigamente era claramente dividido: pacientes submetidos a transplante tinham sobrevida maior do que os que não tinham, mas hoje mesmo os pacientes que não são elegíveis ao transplante podem ter excelentes respostas a tratamentos que quase se igualam aos transplantados", conta o hematologista Breno Gusmão, coordenador de onco-hematologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Os medicamentos mais recentes possuem mecanismos de ação mais específicos dos que existiam antes, segundo Vania Hungria. "O quimioterápico, que destrói a célula da forma como era feito antigamente, é muito diferente do que temos hoje", explica a médica, que acrescenta: "Há drogas que trazem um grande aumento da sobrevida e, apesar de ter efeitos colaterais, como todo medicamento tem, costumam ser mais toleráveis".

Medicamentos-alvo e as novas pesquisas

Como o mieloma múltiplo não tem cura, a pessoa pode ter recaídas da doença, mas Breno Gusmão traz um cenário otimista: "Estamos em uma fase de ouro porque foram desenvolvidos vários protocolos de pesquisa e tratamentos em que as recaídas estão sendo muito bem tratadas".

Entre as inovações de tratamento, há a "terapia-alvo". Quem explica é Danielle Leão: "São novas drogas que agem em determinados pontos específicos, que praticamente só existem na célula doente, e exatamente por isso causam poucos efeitos colaterais no organismo".

"O Brasil está participando de estudos clínicos de terapia celular com desenvolvimento de novos alvos terapêuticos", diz Breno Gusmão, que esclarece, de forma simplificada, que nesses estudos os anticorpos estimulam o sistema imune do paciente a reconhecer e atacar a célula cancerígena.

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Com os tratamentos e o acompanhamento constante, é possível alcançar a chamada cura funcional. "O paciente de hoje pode viver por muitos anos e chegar a falecer de outras causas que não estejam diretamente relacionadas ao mieloma múltiplo", afirma Ângelo Maiolino, que conta que há aprovação no Brasil da grande maioria dos medicamentos de mieloma e confirma que há perspectivas muito boas de estudos clínicos com novas moléculas.

"Acreditamos que no futuro, dado o progresso, a gente consiga uma potencial cura da maioria dos pacientes, no sentido de que conviva com a doença recebendo medicamentos eficazes com toxidade aceitável, que não comprometa a sua qualidade de vida", comenta Ângelo Maiolino. "Seria o maior objetivo desta década e acho que é um cenário possível."

Experiência de quem convive com a doença

Bruno May, vendedor, descobriu o câncer há cerca de quatro anos, antes dos quarenta anos de idade, e vem vencendo o mieloma desde então com tratamentos e acompanhamento médico. "Eu fiquei de quatro a seis meses sentindo fortes dores nas costas e tomava muitos analgésicos", conta.

Após sofrer duas fraturas, uma na vértebra e outra no osso do peito chamado esterno, realizou diversos exames até que recebeu o diagnóstico. Já passou por diferentes tratamentos e, inclusive, concedeu entrevista à equipe do Uol um dia antes de realizar um transplante de medula.

Costumo dizer: tudo bem, não tem cura, mas quantas pessoas você conhece que possuem hipertensão ou diabetes e vivem muito bem? Se elas conseguem fazer isso sem se preocupar toda hora, por que você não pode com o mieloma?

Bruno May, Vendedor

Ao relatar as experiências que já passou, faz questão de agradecer os médicos, entre eles Vânia Hungria: "Não existem profissionais da saúde no mundo, existem anjos da guarda que cuidam da gente como se cuidassem dos próprios filhos".

Bruno também destaca que ter apoio de pessoas próximas faz toda a diferença. "É muito importante ter um porto seguro e um objetivo na vida", afirma. "No meu caso, é a minha família e, principalmente, a minha filha. Meu combustível hoje é vê-la crescer e com apoio da família tenho certeza de que isso vai acontecer", afirma.

Cuidado integral vai além de medicamentos

Fazer o acompanhamento com hematologistas é fundamental no mieloma múltiplo, mas o cuidado não precisar parar por aí. "É importantíssimo que o paciente tenha acesso a uma equipe multiprofissional especializada, com ortopedista, neurologista, geriatra, nefrologista, enfermeiro, fisioterapeuta e até mesmo bons laboratórios para exames de acompanhamento, que dizem como está sendo o resultado do tratamento", afirma a médica Danielle Leão.

Antônio Gilvan Júnior, enfermeiro líder do Centro de Oncologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, diz que a atuação da enfermagem é muito importante para fazer a ponte do paciente com o médico, dando sequência ao tratamento prescrito na consulta. "Tiramos dúvidas e damos orientações de cuidado que ajudam na recuperação, como a forma de comer e de realizar atividades físicas", explica. Ele conta que as orientações também são importantes para os familiares, pois há casos em que é preciso ter ajuda de um parente para realizar algumas tarefas.

A fisioterapia pode ser outra aliada, principalmente para pessoas que tiveram comprometimento na parte óssea. "Tentamos melhorar a qualidade de vida do paciente", diz Roberta Lopes, fisioterapeuta no setor de hematologia e transplante de medula óssea da BP, que explica que há diversas possibilidades de minimizar efeitos negativos sentidos pela pessoa. Há casos, por exemplo, que há problemas de circulação ou dificuldades para andar, sendo importante buscar orientações e aparelhos que ajudam a melhorar o desempenho físico e controlar a dor.

"Exercícios físicos adaptados a cada pessoa também são fundamentais, pois melhoram a condição do paciente e ajudam a modular a dor", diz a fisioterapeuta. Até mesmo o mal-estar causado por alguns tratamentos, como quimioterapia, pode ser amenizado. "Utilizamos a estimulação por aparelho em um ponto de acupuntura, por meio do qual é possível auxiliar o controle de náuseas", explica Roberta.

Cuidar da saúde emocional também é prioridade. Bruno May, que convive há quatro anos com o mieloma, conta que sente dores fortes quando tem recaídas, mas que é possível controlar. "Costumo dizer que cada um sabe da sua dor, mas faz diferença acreditar nos medicamentos que podem melhorar porque o psicológico também ajuda muito", afirma. "Se você consegue controlar a mente, consegue tornar uma dor mais suportável".

Conversar com pessoas que passam por situação parecida também pode ser valioso. Bruno é líder voluntário de grupos de pacientes e cuidadores de todo o Brasil ligados à International Myeloma Foundation (IMF), chamado de "Grupo Amor Múltiplo". "Os grupos servem para ajudar a divulgar informações e dar suporte a quem também descobriu a doença", explica. Além disso, possui perfil em redes sociais como Youtube e Facebook, onde procura compartilhar as suas experiências.

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