Campanhas de prevenção e de conscientização da doença acabaram interrompidas durante a pandemia de COVID-19 e especialistas alertam para um provável surto nos próximos meses - especialmente com a chegada do verão e das chuvas. A médica infectologista Dra. Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, lembra que o número de mortes no Brasil, de janeiro até agora, já é maior do que o registrado em 2019, antes da pandemia, e que é provável que 2022 tenha recorde de mortes pela doença.
Segundo uma pesquisa inédita divulgada no começo do ano pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a pedido da biofarmacêutica Takeda e com coordenação científica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)2, da qual a médica faz parte, ainda há muito desconhecimento dos brasileiros sobre a dengue, como formas de transmissão, sintomas, tratamentos e prevenção, o que prejudica o combate ao mosquito e ao vírus.
"31% das pessoas entrevistadas disseram achar que a dengue sumiu durante a pandemia de COVID, mas o que sumiu foi a comunicação sobre a dengue. O mosquito não vai embora, o vírus não vai embora. É por isso que precisamos de informação e de relatos de quem teve dengue. Existe uma coisa que se chama 'percepção de risco': se eu não conheço, se não estou vendo, para mim não vai acontecer. Se não acho que vai acontecer, não estou tão preocupada em fazer a minha parte", explica a infectologista.
A supervisora de experiências Thayline Rezende, carioca que mora em Bonito, no Mato Grosso do Sul, teve dengue no mês passado. Ela conta que sempre ouviu falar da doença, mas admite que parecia algo distante. "De repente comecei a sentir um cansaço absurdo, mas achei que fosse do trabalho. No fim do dia estava com dores de cabeça, no corpo, nas articulações; até mexer o dedo doía. Pensei: 'preciso ver o que é isso', mas acabei deixando para o dia seguinte. Trabalhei com dificuldade o dia inteiro, muito cansada, com dor, febre, e aí percebi que tinha algo errado. Fui ao médico e testei positivo para a dengue. Era uma dor muito esquisita, tudo incomodava. Eu nunca tinha sentido nada parecido".
O relato da Thayline é o retrato perfeito de como a dengue se manifesta, explica Rosana Richtmann: "A dengue tem essa característica do 'de repente'. É a primeira palavra importante! Os sintomas aparecem todos ao mesmo tempo e a marca dessa doença é a febre, em geral febre alta e de início abrupto". Segundo a médica, é fundamental que os profissionais da saúde ouçam os pacientes e conversem claramente sobre os sintomas.
"A Thayline não falou de espirro, tosse, coriza, não trouxe nenhum relato de sintomas respiratórios. Por aí a gente já consegue descartar um quadro gripal, por exemplo", conclui. Outros sintomas comuns da dengue são indisposições gástricas e intestinais, náuseas, vômitos, falta de apetite, cansaço extremo, manchas vermelhas na pele e dores nos olhos, nos ossos e nas articulações. "Fiquei dias sem conseguir comer e só conseguia ingerir água, água de coco, isotônico e frutas. Mesmo depois que a febre baixou eu continuei assim por alguns dias", conta Thayline Rezende.