Por que o almoço?
Cecília: Todas as refeições são importantes, sem exceção. Mas eu diria para ficar de olho especialmente nele porque quebra a sua jornada em duas partes. Se errar a mão no almoço, provavelmente o restante do dia vai desandar. E é fácil cometer erros ao almoçar por diversos motivos. Um deles é que descontamos no almoço aquele dia que já começou mal em vários sentidos. Por exemplo, se saímos de manhãzinha e não fizemos um café da manhã adequado, chegaremos esfomeados à mesa. Pronto, já não haverá mais nenhum controle. E, com a refeição matinal bem feita ou não, o fato é que levamos para a mesa do almoço todos os problemas que surgiram do nada no período matutino ou que não conseguimos resolver por um contratempo qualquer, ficando lá no fundo uma certa ansiedade, porque sabemos que ainda teremos uma tarde inteira pela frente para dar conta de tudo. Então, inconscientemente, a tendência é fazermos escolhas não muito equilibradas, como se buscássemos energia para enfrentar o restante. Não dá para minimizar o fator estresse. Para completar, geralmente as pessoas estão fora de casa nesse horário.
E como o dia desanda depois?
Cecília: Há, claro, uma sensação psicológica, aquela do "já que?" Ou seja, "já que eu comi um pedação de bolo na sobremesa, vou beliscar chocolate à tarde porque já enchi mesmo a cara de doce", por exemplo. Mas a explicação está longe de ser tão simplista. Há toda uma cascata de substâncias no organismo que faz quem comeu muita carne, fritura e porções generosas de doce acabar sentindo, primeiro, fadiga junto com a digestão e, depois, uma fome de leão antes do entardecer. Chegando em casa, mais tarde, as coisas podem ficar complicadas de vez, especialmente quando há filhos. Depois que os pequenos comem, os adultos abrem a geladeira e, eu diria, se viram com o que tem ali dentro. Pode ser até o resto da pizza do final de semana.
Qual a saída?
Cecília: Planejar. A história que mais escuto no consultório - não importa se o paciente quer emagrecer, controlar o colesterol ou o quer for - é que ele tenta, tenta e tenta, mas nunca consegue se alimentar direito. E eu acredito em cada tentativa. Mas, sem planejamento, são os alimentos que o escolhem e não ele que escolhe os alimentos.
Como a pessoa pode planejar seu almoço na véspera?
Cecília: Ela pode pedir para um nutricionista fazer um plano alimentar baseado nas opções viáveis nos arredores do seu trabalho ou no refeitório da empresa. Mas aí terá de seguir à risca, o que nem todo mundo consegue por muito tempo diante de um bufê. Por mais que hoje existam diversas opções de saladas e de outros pratos muito equilibrados nos self-services, eles ainda convivem com receitas nem tão balanceadas. Por isso, por garantia, sou mais favorável à ideia de trazer o almoço e até mesmo os lanches de casa. Sou fã da marmita.
O que deve ter nela?
Cecília: Além de salada, que pode ser montada à parte, uma fonte de proteína, legumes e verduras, uma fonte de carboidrato, como arroz integral. É o famoso um pouco se tudo. Quando a pessoa consome uma alimentação variada, as substâncias presentes nela agem de maneira orquestrada e, no final, você tem não só um melhor aproveitamento de vitaminas e minerais. Tem, de quebra, uma produção de níveis maiores de neurotransmissores que ajudam na saciedade e até mesmo no bem-estar emocional.
Para não chegar com muita fome no almoço, é preciso fazer um lanche durante as manhãs?
Cecília: Sei que minha dica é controversa e que nem todos os colegas concordam comigo, mas no meio da manhã falo que a gente sempre deve beber um suco. Se comer algo, poderá não ter fome na hora certa. Deixar de ingerir qualquer coisa também não é bom. E explico: o mais importante nesse período do dia é hidratar o organismo. Claro que a pessoa já deve ter tomado líquido, como o leite do café da manhã. Mas recomendo que continue bebendo muita água desde cedo e, para não ficar só nela, um copo de suco no meio da manhã. Para o açúcar natural da fruta com a qual for feita a bebida não cair de uma hora para outra na corrente sanguínea, recomendo que esse suco seja acompanhado por uma ou duas castanhas.