“A mulher não amamenta sozinha, ou não deveria. Ela precisa de apoio, tanto da família quanto da sociedade. A gestação, o parto e a amamentação são trabalhos da mulher para a sociedade, que deveria reconhecer isso e dar assistência para as mães”, diz médico o especialista em amamentação Marcus Renato de Carvalho.
Ele explica que a amamentação é psicossomática, ou seja, também depende de fatores emocionais e psicológicos. A dor ou o desconforto durante o aleitamento, a idealização da amamentação, a expectativa e cobrança por fazer tudo certo, o baby blues (tristeza após o parto) e a depressão pós-parto contribuem para que a mulher tenha dificuldades tanto na produção de leite quanto na amamentação em si.
Luciane Amorim, enfermeira obstetra, e parteira, conta que certa vez atendeu uma mãe com problemas para amamentar, mas tudo estava certo: a pega, a posição, a produção do leite.
“Fiz várias visitas e nada funcionava. Um dia fui lá e o marido não estava. Então, ela disse: ‘Sabe o que é? Eu não gosto que o bebê fique no meu peito, não deixo nem o meu marido tocar meu seio durante o sexo.’ Fui ouvindo, perguntando, até ela revelar que tinha sido violentada na infância. Nossa história fica implícita na nossa maternidade. Quem sou eu pra julgar essa mulher que não queria amamentar?”
Além de falar que é fundamental amamentar, é preciso falar das dificuldades, dizer que é possível superá-las e mostrar como” Luciane Amorim, enfermeira obstetra, e parteira
A mesma sociedade que reforça e cobra a maternidade perfeita, ignorando o contexto e a realidade particular de cada mãe, também não oferece nenhum suporte para que isso aconteça. Os pais têm apenas cinco dias de licença, vinte quando a empresa faz parte do programa Empresa Cidadã. Assim, eles não têm o tempo nem de se conectar com o bebê, muito menos de dividir as tarefas com a mulher.
Ela, por sua vez, se tiver um emprego com carteira assinada tem direito a quatro meses de licença, seis se for empregada de uma Empresa Cidadã, e dificilmente recebe suporte para prosseguir no aleitamento depois disso. Poucas empresas oferecem espaços adequados para a ordenha do leite e não há creches internas ou próximas para todas.