Bupropiona é antidepressivo; saiba para que serve, se vicia e efeitos
Diana Cortez
Colaboração para VivaBem
29/12/2022 04h00
A bupropiona (ou cloridrato de bupropiona) é um antidepressivo antigo, desenvolvido pela indústria farmacêutica na década de 80, que atua nos níveis de dois neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) com o objetivo de dar ânimo e motivação ao paciente que apresenta um quadro de depressão.
O fármaco também passou a ser indicado para alguns pacientes que sofrem com a obesidade, uma vez que atuaria reduzindo a fome e a compulsão alimentar, e àqueles que buscam largar o vício do cigarro. Mas será que é realmente eficaz nesses tratamentos?
A seguir, saiba o que já se sabe sobre o medicamento e suas contraindicações.
Bupropiona: para que serve e como tomar
Para que serve a bupropiona?
A bupropiona é um medicamento da classe dos antidepressivos usado para tratar principalmente a depressão e a dependência à nicotina. Mas como o fármaco apresenta uma ação mais discreta em relação a outros medicamentos, acaba não sendo a primeira opção dos médicos, e cabe ao profissional avaliar a reposta de cada paciente ao medicamento.
O medicamento também pode ter a indicação para os quadros de TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade) e do transtorno bipolar. "Em geral, a bupropiona é uma opção quando o paciente com TDAH não tolera bem o uso de psicoestimulantes", coloca Amaury Cantilino, psiquiatra e doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento pela UFPE (Universidade de Pernambuco).
O fármaco ainda pode ser combinado a outros antidepressivos com a finalidade de reduzir os impactos negativos na vida sexual desses pacientes.
Como o medicamento funciona?
A bupropiona atua nos níveis de dopamina e noradrenalina no cérebro, aumentando a motivação e a sensação de bem-estar. Daí a indicação para a depressão. Além disso, promove um leve bloqueio no efeito da nicotina, contribuindo para que o paciente largue o vício do cigarro.
Bupropiona pode ser usada para tratar a compulsão alimentar?
Evidências científicas apontam que a bupropiona pode contribuir para o tratamento da compulsão alimentar, ajudando o paciente a frear o impulso de uma ingestão exagerada de alimentos. No entanto, a ação do fármaco é modesta, e exigiria a associação de psicoterapia, orientação nutricional e mudanças no estilo de vida para que o paciente realmente consiga ter benefícios.
O fármaco também pode ser indicado para outros tipos de compulsão e vícios?
Apesar de haver estudos em animais nesse sentido, esse benefício não é observado na prática clínica. Provavelmente, pelo fato de o organismo humano funcionar de maneira muito diferente da espécie estudada.
A bupropiona emagrece?
Estudos mostram que o medicamento pode ser indicado como um coadjuvante no tratamento para a perda de peso por atuar na sensação de fome e saciedade. No entanto, a bupropiona sozinha apresenta uma ação modesta.
Mas, ainda que a bupropiona seja usada, será preciso que o paciente siga uma dieta equilibrada e adote a prática de exercícios físicos que possibilitem um déficit calórico para gerar o emagrecimento. Os medicamentos apenas vão ajudá-lo a controlar a fome e o impulso por ingerir alimentos calóricos (doces, chocolates, por exemplo) fora de hora.
Causa dependência química?
A bupropiona é uma substância que não gera dependência química, tolerância (necessidade de doses maiores) nem efeitos de abstinência quando deixa de ser usada.
A bupropiona é útil para quem quer parar de fumar?
De acordo com pesquisas, a taxa de sucesso do fármaco para quem quer parar de fumar não é alta, no entanto, é preciso considerar que as respostas são diferentes entre as pessoas e que algumas podem se beneficiar ao usá-lo.
Também é importante lembrar que a bupropiona se mostra mais adequada nos casos em que o paciente apresenta um quadro de depressão associado ou quando não tolera bem outras medicações para esta finalidade.
A substância trata a ansiedade?
Não. A bupropiona não age equilibrando a serotonina e o GABA, neurotransmissores que estão diretamente ligados à ansiedade, por isso ela não é indicada para tratar esse quadro. Inclusive seu uso poderia piorar o quadro em alguns pacientes por aumentar a noradrenalina, que tem a ação de elevar a excitação.
A bupropiona melhora a disposição?
Sim. O medicamento apresenta essa ação principalmente nos pacientes que apresentam depressão associada à diminuição da vontade e da energia, uma vez que tem efeito levemente estimulante, aumentando motivação, a vontade e a disposição em realizar tarefas.
Quais vantagens da buprobiona?
Diferente de alguns tipos de antidepressivos, a bupropiona não aumenta o apetite, o que levaria ao ganho de peso. Também não compromete a função sexual.
Quais riscos oferece?
O efeito adverso mais preocupante da bupropiona são as crises convulsivas, que tinham maiores riscos de acontecer quando as doses comercializadas ultrapassavam 450 mg por dia. Mas, desde que a substância foi relançada em 1989, essa nova posologia foi adotada e a indústria farmacêutica passou a produzi-la em formulações que tornam a liberação da substância mais lenta no organismo, justamente para evitar o problema.
Nesse sentido, a substância também deve ser administrada com extrema precaução nos pacientes que tenham predisposição a esses quadros, como é o caso daqueles que apresentam tumor no sistema nervoso central, histórico de convulsões ou de traumatismo craniano.
Quais os efeitos colaterais da bupropiona?
Entre os efeitos adversos que a substância pode gerar estão:
- Boca seca
- Insônia
- Náuseas e vômitos
- Taquicardia
- Dor de cabeça
- Agitação
- Constipação
- Perda de peso
- Tonturas
- Transpiração excessiva
- Tremor
- Visão turva
- Faringite
- Rinite
- Falta de concentração
- Ganho de peso
- Ansiedade
- Erupção cutânea
- Diarreia
- Flatulência
- Zumbido
- Distúrbios do sono
- Dor torácica
- Hipertensão
- Fraqueza
- Tosse
- Prurido
- Sonolência
- Hipotensão
- Comprometimento da memória
- Úlcera da mucosa oral
- Disfagia
Quais são as contraindicações?
A bula da bupropiona orienta que gestantes e lactantes não usem a substância. Mas estudos realizados com o fármaco a fim de tratar o tabagismo na gravidez sugerem que o medicamento seria seguro diante dos riscos causados pelo cigarro. Por outro lado, a substância não se mostrou eficaz para que essas mulheres deixassem o vício nesta fase.
Além disso, o uso do fármaco não é recomendado na amamentação, já que a bupropiona e seus metabólitos são excretados pelo leite materno.
Hipertensos podem usar o medicamento?
Por atuar nos níveis de noradrenalina, a bupropiona pode elevar a pressão cardíaca, por isso só deve ser indicada aos pacientes que apresentem um quadro de hipertensão controlado.
Pacientes com insuficiência renal ou hepática podem usar a bupropiona?
Sim, mas nestes casos as doses serão reduzidas, uma vez que seus metabólitos tendem a acumular no organismo desses pacientes por não serem eliminados pelos rins de maneira eficiente.
Bupropiona pode matar?
Em geral, a bupropiona é um medicamento seguro. Mas, como qualquer outro antidepressivo, deve ser prescrito por um médico após a avaliação do paciente, e sua dosagem não deve ultrapassar a recomendação máxima diária de 450 mg.
Quais interações com outros medicamentos já são conhecidas?
A bupropiona não deve ser prescrita aos pacientes que fazem uso de medicamentos que atuam na pressão arterial, como é o caso de descongestionantes nasais, vasoconstritores e de alguns anti-hipertensivos (metoprolol).
Apesar de ela ser prescrita em conjunto com outros antidepressivos, não deve ser usada concomitantemente com o citalopram e a vortioxetina, já que poderia elevar os níveis destas substâncias no organismo. Também não é recomendada aos pacientes em tratamento oncológico com tamoxifeno e doxorrubicina, pois pode atrapalhar os efeitos desses medicamentos.
O fármaco ainda exige cuidado redobrado ao ser combinado a substâncias que baixem o limiar de convulsão, que é o caso de sedativos, anorexígenos (lorcaserina) e álcool em excesso.
Pode consumir com alimentos?
A bupropiona pode ser ingerida com ou sem alimentos, já que não há interferência na ação do fármaco.
Quais são as apresentações da bupropiona e como é consumida?
A substância é vendida em comprimidos de 150 mg e 300 mg, mas também pode ser comercializada em fórmulas manipuladas, sendo que a recomendação de uso (pela manhã ou pela manhã e à tarde) e a dosagem varia de acordo com cada paciente, sem ultrapassar o limite diário de 450 mg.
Fontes
Amaury Cantilino, psiquiatra e doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento pela UFPE (Universidade de Pernambuco); Marcelo Miranda, médico endocrinologista, pesquisador do Laboratório de Investigação em Metabolismo e Diabetes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); e Rodrigo Martins Leite, coordenador do Programa de Psiquiatria Social e Cultural do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC- FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Revisão técnica: Marcelo Miranda e Rodrigo Martins Leite.