Candidíase afeta a maioria das mulheres; veja sintomas e como tratar
Cristina Almeida
Colaboração para VivaBem
10/08/2021 13h40
Não tem jeito. Se você é mulher, ao menos uma vez ao longo da sua vida a candidíase poderá se manifestar. E quando ela aparecer, acredite, é impossível fazer de conta que nada está acontecendo. Isso porque o ardor, a coceira e a típica secreção branca podem ser intensos e causam um incômodo que pode levá-la ao serviço de emergência em plena madrugada —a doença também afeta homens.
Essa infecção é considerada uma das mais comuns entre as mulheres em idade reprodutiva e é menos frequente antes da puberdade e após a menopausa. Na maioria das vezes, a causa é um fungo chamado Candida albicans —um microrganismo encontrado normalmente na pele, no aparelho digestivo e na área genital.
A enfermidade não é considerada grave, e nem é classificada como IST (Infecção Sexualmente Transmissível), mas pode merecer maior atenção, especialmente quando ela ocorre mais de quatro vezes ao ano e é considerada de repetição. Mesmo nesses quadros, o tratamento é sempre medicamentoso, seja para controlar a infecção, seja para aliviar o característico mal-estar.
Candidiáse: o que é, sintomas, remédio e mais
O que é candidíase genital?
Candida é um fungo normalmente encontrado na pele, no aparelho digestivo e na área genital. A depender de determinadas condições, esse microrganismo se prolifera e é capaz de infectar as mucosas.
No caso da vulva e da vagina, as regiões femininas mais afetadas, os principais fatores desencadeantes são lesões locais, ambientes quentes e úmidos, roupa íntima apertada e de material sintético, bem como falta ou excesso de higiene.
Quem está mais suscetível?
Cerca de 75% das mulheres terão ao menos um episódio de candidíase ao longo da vida. E ela é mais frequente na idade reprodutiva, alcançando seu pico entre os 30 e 40 anos. Antes da puberdade, e depois da menopausa, a enfermidade é mais rara.
Apesar disso, algumas condições aumentam o risco para a infecção. Confira:
- Gravidez e obesidade - dado o aumento natural de níveis de estrógeno;
- Diabetes - principalmente quando ele está descompensado (não é tratado);
- Imunossupressão - é o caso de pessoas com HIV, transplantadas, ou que estejam sob tratamento quimioterápico;
- Uso de determinados medicamentos - como antibióticos de amplo espectro ou corticoides.
Sintomas da candidíase
Para boa parte das mulheres (20%), a candidíase não provoca sintoma algum. Para as demais, podem ser observadas as seguintes manifestações, típicas da infecção:
- Secreção (corrimento) branca em flocos (consistência de leite coalhado)
- Coceira intensa na parte externa da vagina;
- Dor ou ardência durante as relações sexuais ou ao urinar;
- Inchaço;
- Vermelhidão;
- Ardor (mais raro);
- Pequenas fissuras na mucosa - em alguns casos, elas podem aparecer e são muito dolorosas, especialmente nas relações sexuais e ao urinar.
Candidíase masculina
Os principais sintomas da candidíase masculina são:
- Irritação, queimação e vermelhidão em volta da cabeça do pênis ou na parte superior do prepúcio e até nos testículos;
- Secreção branca, com consistência de leite coalhado;
- Odor desagradável;
- Desconforto ao manusear a pele do prepúcio
Candidíase na boca
Se a Candida atacar a boca, as unhas, a parte interna dos dedos, o ânus etc., os sintomas mais comuns são:
- Coceira;
- Ardor intenso;
- Vermelhidão e amolecimento da pele;
- "Capinha" branca na boca
Tenho sintomas da candidíase, preciso ir ao médico?
Sim. O ideal é que você faça consultas regulares ao ginecologista. No entanto, caso note alguma mudança na região genital, como algum tipo de corrimento que persiste por mais de três dias, suja a calcinha e mantém a vulva mais úmida, dor ou coceira, a melhor coisa a fazer é procurar um especialista.
Patrícia Pereira dos Santos Melli, médica assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP-USP, explica que até existem medicações úteis no tratamento da candidíase, que podem ser compradas nas farmácias sem receita. Contudo, ela desaconselha a automedicação, porque pode levar a efeitos indesejados.
"Nem tudo que coça é infecção por fungos. A pessoa poderá usar um fármaco que não funciona, e pior ainda, desequilibra a flora vaginal, propiciando a recorrência de outras infecções não fúngicas. Só um médico pode identificar a exata origem do seu problema", diz.
Tratamento da candidíase
Após o exame clínico que inclui o levantamento do seu histórico de saúde e o exame físico, o ideal é que se faça uma análise microscópica (citologia a fresco) da secreção vaginal. Uma vez confirmada a candidíase, o tratamento é medicamentoso.
Os fármacos mais utilizados são os antifúngicos tópicos (cremes, óvulos, pomadas) ou sistêmicos (comprimidos), destacando-se os azóis e, dentro dessa classe, os triazóis ou imidazóis. Além deles, podem ser indicados remédios sintomáticos para reduzir o inchaço e a coceira.
Estou com candidíase. Meu parceiro(a) deve ser tratado(a)?
Nem sempre. Embora não seja considerada uma IST, a candidíase pode ser transmitida por via sexual. Contudo, na maioria das vezes, o parceiro —seja ele homem ou mulher— só será tratado em situações especiais, como nas infecções de repetição, ou quando eles apresentarem sintomas. A explicação é de Débora Leite, médica do Hospital das Clínicas da UFPE e professora do curso de medicina da mesma instituição.
O que é candidíase de repetição?
Quando a infecção ocorre mais de quatro vezes durante um ano, ela é chamada de candidíase recorrente ou de repetição. Isso pode acontecer com cerca de 5% das mulheres, e é mais frequente entre pessoas com diabetes e imunodeprimidas —como pacientes com HIV, mas também pode se manifestar entre as demais.
Você deve informar o médico dessas ocorrências para que ele possa reavaliá-la, e estabelecer novo esquema de tratamento, que geralmente prevê o uso de antifúngicos por mais de 6 meses. A boa notícia é que está sendo avaliada a segurança e eficácia de uma vacina que reduz a frequência e a gravidade desse tipo de infecção.
Probióticos ajudam contra candidíase?
Estudos científicos têm sugerido que iogurtes com culturas vivas e cápsulas de Lactobacillus acidophilus podem ajudar na prevenção da candidíase. Contudo, as evidências científicas ainda não estão bem estabelecidas. Antes de adotar essas medidas, fale com seu médico e, sobretudo, evite práticas caseiras como o uso de duchas ou a introdução de alho na região genital.
Dá para tratar a candidíase durante a gravidez?
As alterações hormonais próprias da gestação podem promover aumento da acidez vaginal, o que propicia a candidíase. O tratamento é possível, mas deve ser cauteloso. Medicações orais devem ser evitadas no início e no final da gravidez.
Já cremes, pomadas e óvulos podem ser utilizados, desde que não haja dilatação do colo uterino. E não se preocupe: a doença, de uma forma geral, não leva ao rompimento da bolsa amniótica e nem alcança o feto por meio da placenta.
Candidíase transmite durante o sexo?
A candidíase não é considerada uma IST porque pessoas sem vida sexual ativa podem ser infectadas por cândida. Mas é possível desenvolver os sintomas por meio de sexo oral, vaginal ou anal.
É preciso suspender a atividade sexual durante a candidíase?
O ginecologista Alexandre Pupo Nogueira, que integra o corpo clínico dos Hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, explica que o quadro inflamatório da candidíase pode tornar o sexo desconfortável para os parceiros.
"É indicado suspender as relações no início do tratamento, e até que esses sintomas apresentem melhora, o que deve ocorrer entre 3 e 5 dias. De todo modo, se não for possível evitar, a prática sexual deve acontecer antes da aplicação do creme vaginal", afirma o especialista.
Por que ela é mais frequente no verão?
Nessa época do ano, as pessoas frequentam ambientes mais úmidos como praias e piscinas, e ainda ficam mais tempo com roupas de banho que também são mais úmidas. Tais condições favorecem a proliferação do fungo.
Prevenção da candidíase
Mantenha a sua pele limpa e seca, além de usar antibióticos somente quando eles forem prescritos por um médico, e exatamente na forma como ele indicar. Você também deve apostar nas seguintes atitudes.
- Invista em uma dieta saudável.
- Adote práticas que tragam maior qualidade de vida para a sua rotina.
- Controle a glicemia: caso você seja um paciente com diabetes.
- Capriche na higiene genital: esta não se limita apenas às boas práticas de higiene íntima e inclui as melhores opções de depilação, vestuário e até o cuidado com a atividade sexual --que deve ser moderada a fim de evitar lesões. O objetivo é manter a saúde da mucosa genital. A limpeza deve ser realizada três vezes ao dia (pela manhã, à tarde e ao retornar para casa). Mulheres submetidas a estresse, obesas, no período menstrual ou no pós-parto precisam estar ainda mais atentas.
- Habitue-se a lavar a região genital após urinar ou defecar com água corrente e secar com uma toalha de algodão. O papel higiênico deixa resíduos e afeta a mucosa local. Se tal providência for impossível, faça uso de lenços umedecidos. Mas, atenção, tudo deve ser feito com bom senso. O excesso de limpeza também é prejudicial.
- Invista em exercícios do assoalho pélvico: trabalhar a musculatura local aumenta a irrigação sanguínea e a oxigena, melhorando as condições das células da região. Isso evita até hiperacidez vaginal, tão comum entre as mulheres.
- Use camisinha: apesar de a candidíase não ser uma IST, o preservativo protege a região e evita lesões.
- Evite suor ou umidade na região inguinal: se você for um esportista, adote o uso de tecidos que absorvam a umidade, use hidratantes para evitar atrito e tão logo seja possível seque a região.
- Faça uso de talcos secantes na região dos pés: eles são úteis tanto para atletas quanto para quem não pratica exercícios.
- Troque o maiô ou biquíni molhado tão logo seja possível;
- Use uma toalha para se sentar sobre a areia;
- Evite usar calças e calcinhas apertadas por longos períodos.
Fontes e referências
Fontes: Patrícia Pereira dos Santos Melli, médica assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), diretora técnica do HC-Criança, secretária da Comissão Nacional de Especialistas de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Débora Leite, médica dos Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e docente adjunta do curso de medicina da mesma instituição; Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês (SP) e do Núcleo de Mastologia da mesma instituição, e do Hospital Albert Einstein (SP). É mestre em ciências pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Revisão técnica: Débora Leite.
Referências: Jeanmonod R, Jeanmonod D. Vaginal Candidiasis. [Atualizado em 2020 Nov 21]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459317/; Edwards JE Jr, Schwartz MM, Schmidt CS, Sobel JD, Nyirjesy P, Schodel F, Marchus E, Lizakowski M, DeMontigny EA, Hoeg J, Holmberg T, Cooke MT, Hoover K, Edwards L, Jacobs M, Sussman S, Augenbraun M, Drusano M, Yeaman MR, Ibrahim AS, Filler SG, Hennessey JP Jr. A Fungal Immunotherapeutic Vaccine (NDV-3A) for Treatment of Recurrent Vulvovaginal Candidiasis-A Phase 2 Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Trial. Clin Infect Dis. 2018 Jun 1;66(12):1928-1936. doi: 10.1093/cid/ciy185. PMID: 29697768; PMCID: PMC5982716.