Cesárea sem indicação gera riscos ao bebê; entenda quando é recomendada
Se você já ficou grávida ou acompanhou a gestação de alguma familiar ou amiga de perto, certamente conheceu mulheres que antes mesmo de a barriga crescer já sabiam que gostariam que o filho nascesse por parto cesárea. As razões para essa escolha são muitas: desde a ideia de que o bebê nascer por essa via, é mais confortável até o medo da dor do parto normal.
Dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que entre julho de 2017 e julho de 2019, 55% dos bebês nasceram por cesárea, número que coloca o Brasil como o segundo no mundo com mais nascimentos por essa via, perdendo apenas para a República Dominicana. A questão é que, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o ideal é que o número de cesáreas esteja entre 10% e 15% dos partos.
Há alguns anos era relativamente simples marcar um parto, pois as regras eram bem flexíveis, levando muitos bebês a nascerem prematuramente. Por isso, o CFM (Conselho Federal de Medicina) passou a definir que a cesárea eletiva, aquela na qual a mãe opta por essa via de parto com antecedência, só poderá acontecer a partir da 39ª semana de gestação.
Uma das fontes de análise para a decisão do CFM, o Instituto Nacional de Saúde da Criança e Desenvolvimento Humano (NICHD, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, aponta que entre 37 e 39 semanas de gestação, o bebê atravessa uma fase crítica de desenvolvimento do cérebro, dos pulmões e do fígado.
Dessa forma, cesáreas realizadas nesse período sem que a mãe tenha entrado em trabalho de parto podem levar à prematuridade fetal, acarretando ao bebê problemas respiratórios, dificuldades para manter a temperatura corporal e para se alimentar. Além disso, há tendência a registrar altos níveis de bilirrubina, o que pode causar icterícia e, em casos severos, gerar danos cerebrais; assim como problemas de visão e audição ao recém-nascido.
Como informação é fundamental para que a mulher opte pelo parto que melhor se encaixa à realidade dela, tire abaixo as principais dúvidas sobre o parto cesárea.
Parto cesárea: o que é, quando é indicado e mais
O que é um parto cesárea?
A cesárea é um tipo de parto feito por cirurgia, que consiste em uma incisão horizontal na região inferior do abdome entre 10 e 12 centímetros. Antes do procedimento, que necessita de internação hospitalar, é aplicada uma anestesia na região lombar da parturiente.
Um cateter é colocado no espaço peridural (canal vertebral) da paciente para a administração de medicamentos, e também uma sonda, que terá o objetivo de conter a urina. São cortadas, então, seis camadas de tecido, que serão fechadas uma a uma após o nascimento do bebê e retirada da placenta.
Como é a cicatrização da cesárea? Onde ela fica?
A cicatrização da cesárea —que fica localizada no abdome inferior, uns dois centímetros acima do púbis— é um pouco incômoda por se tratar de uma cirurgia. Como são dados muitos pontos de dentro para fora, a dor pode permanecer por até duas semanas, sendo mais intensa nos cinco primeiros dias após o parto.
A mulher deve manter repouso de ao menos 15 dias e ficar atenta à higienização do local, lavando a região diariamente, tomando o cuidado de não molhar o curativo. Após a retirada dos pontos, o médico pode indicar uma pomada cicatrizante, se for necessário. É importante salientar que pessoas com tendência à formação de queloides sentem mais incômodo no pós-parto.
Quais os prós e os contras da cesárea?
As principais vantagens da cesárea eletiva são: a escolha antecipada da data de nascimento do bebê, permitindo conforto e praticidade à gestante; as temidas contrações não são sentidas; o trabalho de parto é mais rápido e garante que o médico escolhido pela gestante, caso ela opte por isso, possa acompanhar a cirurgia dela.
Já as desvantagens de uma cesárea são: maior risco de infecções e hemorragias; reações indesejadas ao anestésico; trombose dos membros inferiores; maior tempo de recuperação no pós-parto; e, no caso de uma cesariana eletiva, o bebê não escolhe a hora de nascer, o que significa que pode ainda não estar pronto fisiologicamente para vir ao mundo. Note que a cesárea é uma cirurgia e, portanto, passível de complicações.
Qual é a diferença do parto cesárea para os outros?
A principal diferença é que o parto cesárea precisa ser feito em um hospital por médicos obstetras, ao passo que o parto vaginal pode ser realizado em ambiente domiciliar por enfermeiras obstetras e obstetrizes.
O parto normal é indicado para todas as gestações que não oferecem riscos, e tem tempo de recuperação menor, podendo ser realizado com ou sem anestesia. A hospitalização é de apenas um dia e há menor risco de infecções e complicações pós-parto.
Já a cesariana é recomendada para gestações de risco, conta com uma estada mínima de dois dias no hospital e tem risco aumentado de infecções e complicações. Embora não sinta dores durante o parto, o pós-operatório da mulher que passa por essa cirurgia tem recuperação mais lenta do que daquelas que deram à luz via parto vaginal.
Uma cesárea pode ser feita de forma humanizada?
Com certeza. A humanização quer dizer, acima de tudo, respeito pela experiência de parto de cada mulher. A cesárea pode ser humanizada compartilhando informações e decisões, criando um ambiente calmo e com luz e campo cirúrgico baixos no momento do nascimento do bebê.
A chamada "golden hour" ou hora dourada pode acontecer também na cesárea e consiste em permitir o contato pele a pele entre mãe e bebê, incluindo amamentação e acolhimento materno na primeira hora de vida do recém-nascido fora da barriga.
Tal proximidade promove benefícios fisiológicos e emocionais para ambos. É importante lembrar que, de acordo com a Lei Federal nº 11.108/2005, a parturiente tem direito a ter um acompanhante durante todo o período do parto.
Em quais situações uma cesárea é indicada?
Dentre as principais indicações para uma cesárea estão: incompatibilidade feto-pélvica, que ocorre quando o canal de parto não permite a passagem do bebê; placenta prévia; cordão velamentoso, problema na ligação entre o cordão umbilical e a placenta; passagem do feto impossibilitada podendo provocar uma hemorragia muito grande; vasa prévia; descolamento prematuro da placenta; cicatrizes de cesáreas anteriores; falta de dilatação e casos em que o parto ofereça risco para a mãe ou para o bebê.
Em que situações a mulher é encaminhada para um parto cesárea no SUS?
A paciente só será encaminhada ao parto cesáreo se houver risco para ela ou para o bebê. Alguns destes casos são: quadros de eclâmpsia ou pré-eclâmpsia, que ocorrem quando a mãe tem aumento da pressão arterial durante a gestação, que em caso extremo pode ser fatal; infecção da placenta; posição inadequada do feto; infecção pelo vírus herpes simples; infecção por HIV, se a gestante não tiver a carga viral indetectável; duas cicatrizes prévias de parto cesárea; cirurgia uterina miomectomia; diabetes descompensado; ou quando o médico pré-natalista achar pertinente a indicação da cesárea.
Quais os riscos de uma cesárea para a mãe?
A cesárea pode ser associada a uma maior perda de sangue, lesão de órgãos abdominais e infecção na incisão cirúrgica, além de aumento do risco tromboembólico e da chance de hemorragia pós-parto.
Quais os riscos de uma cesárea para o bebê?
Além do perigo de prematuridade, a cesárea pode aumentar o risco de problemas respiratórios para o bebê.
Como é a dor do parto cesárea?
Não existe dor durante a cesárea devido à anestesia. Porém, pode ser sentido um tipo de pressão no fundo da barriga no momento do nascimento do bebê. Além disso, a raquianestesia elimina, a princípio, a sensação de dor e não a de tato. Dessa forma, é possível sentir a equipe médica mexendo no corpo dela de forma indolor, como ocorre num tratamento dentário, por exemplo.
Quanto custa uma cesárea?
Na rede pública, a cesárea é realizada gratuitamente. Já no sistema privado, pensando só no parto —excetuando despesas com intercorrências, como a necessidade de o bebê ficar na incubadora—, o valor pode variar de acordo com o seguro de saúde da mulher. Caso ela resolva pagar do próprio bolso o valor médio fica entre R$ 10 mil e R$ 30 mil.
Há impeditivos para uma cesárea? Quais?
As cesarianas não podem ser realizadas antes da 39ª semana de gestação, salvo os casos em que haja riscos para a mãe ou para o bebê. Outro impeditivo é a criança já estar nascendo via vaginal. Nesse caso, não é possível interromper o parto e partir para uma cesárea.
Quais cuidados e recomendações devem ser seguidos antes da cesárea?
Antes de realizar uma cesárea eletiva é indicado retirar esmaltes para controle da oxigenação da paciente e jejum de comida por oito horas e de água por quatro horas antes da cirurgia. Já unhas em gel, apliques capilares e extensão de cílios devem ser retirados antes do parto, já que o bisturi elétrico usado no corte da cirurgia em contato com fios sintéticos pode causar lesão à parturiente. Vale verificar também a orientação da maternidade onde a mãe dará à luz em relação ao uso de lentes de contato.
Quais cuidados e recomendações devem ser seguidos após o parto cesáreo?
Além dos já citados cuidados com a higienização da cicatriz, a mulher que passou por uma cesárea deve evitar grandes esforços por duas semanas, exercícios físicos por 60 dias e, se possível, não consumir alimentos que causem gases.
Como é a recuperação da mulher após uma cesárea?
Depende de como a cesárea aconteceu, se foi uma urgência ou eletiva, se teve complicações ou ocorreu tranquilamente. De um modo geral, a recuperação não é tão dolorosa se a puérpera ficar atenta aos próprios limites e usar corretamente os analgésicos prescritos pelo médico. Em relação ao corpo, o principal é respeitar a si mesma, pois cada organismo reage de uma forma.
O que pode e o que não pode comer antes e depois da cesárea?
Além do já citado jejum, não há restrições alimentares específicas para mulheres que se submeterão a uma cesárea, apenas uma orientação para evitar alimentos que distendem o intestino e demorem mais a serem digeridos. Já após o parto é indicado que a mãe siga uma dieta rica em cálcio.
Quantos dias após o parto cesárea a mulher pode ter relações sexuais?
A mulher pode voltar a manter relações sexuais cerca de duas a três semanas após a cesárea, desde que ela sinta desejo para tal e que fique alerta a quaisquer sinais de dor ou desconforto.
Quais são os benefícios da cesárea para a mãe e para o bebê?
Quando bem indicada, a cesárea pode salvar a vida tanto da mãe quanto do bebê. Não existe benefício maior do que esse.
Por quantas cesáreas uma mulher pode passar na vida? Por quê?
Não existe um número mágico. Se a mulher precisar, será submetida ao parto cirúrgico. Só é necessário ter em mente que quanto mais cirurgias abdominais e cicatrizes de cesárea, maior a chance de complicações cirúrgicas e obstétricas.
Quanto mais incisões abdominais, aumentam aos riscos de aderências entre os órgãos e que eles sejam lesionados. Além disso, a inserção anormal da placenta é mais comum na cicatriz da cesárea. Por isso, o ideal é evitar cesarianas desnecessárias.
Quanto tempo dura uma cesárea?
Se não houver complicações, o tempo da cirurgia é de aproximadamente 45 minutos.
Quais sintomas devem fazer a mulher procurar ajuda médica após a cesárea?
Alguns sintomas como febre, sangramento vaginal exagerado, mamas empedradas e doloridas, secreção purulenta via vaginal, dor abdominal refratária à medicação, dor ou infecção nos pontos e tontura frequente podem aparecer após o parto e requerem atenção médica.
Mulheres que deram à luz por cesárea sentem dores ao amamentar?
Sim, mas não é nada assustador. Isso acontece porque o útero está em involução, ou seja, voltando ao tamanho normal, e a amamentação ajuda neste retorno. Esse mecanismo fisiológico ocorre para evitar hemorragia no pós-parto.
Porém, como a mulher que é submetida a uma cesariana permanece por cerca de duas horas anestesiada depois de dar à luz, quando o efeito analgésico começa a passar, essa involução é sentida de forma mais intensa do que em uma paciente que teve o filho via parto vaginal, que sente todo o processo gradualmente, desde a expulsão da placenta.
Fonte: Médicos ginecologistas e obstetras Marília Ignez Olivotti Nogueira Bayão, que faz atendimento na Rede D'Or e no Hospital e Maternidade Christóvão da Gama, em Santo André (SP) -- e Lucas Henrique de Almeida Barça, que atua no Centro de Ginecologia e Obstetrícia Mourad e Pinheiro
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