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Coronavírus: como funcionam os testes rápidos que detectam anticorpos?

Testes rápidos para o novo coronavírus são feitos utilizando amostras de sangue para procura de anticorpos Imagem: iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

08/04/2020 08h30

A testagem é uma das ferramentas mais importantes para desenhar o cenário de uma epidemia na população. No caso da pandemia do novo coronavírus, não é diferente: a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que todos sejam testados, principalmente para encontrar e isolar os pacientes assintomáticos —importantes vetores na disseminação do vírus.

Infelizmente, o Brasil e outros países que estão lutando contra a doença, não têm uma estrutura laboratorial de testagem em massa. Um dos fatores para essa situação é que o teste mais utilizado hoje —o RT-PCR, que busca material genético do vírus nas células do paciente— é um exame que demanda insumos laboratoriais importados (em falta ou muito caros atualmente, já que muitos países estão comprando) e mão de obra qualificada. "É um teste que nem todo laboratório brasileiro faz justamente por ser bastante específico", afirma João Renato Rebello, coordenador médico do Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Albert Einstein.

Nesse cenário, uma alternativa que vem ganhando força e que foi útil no controle da covid-19 —nome da doença provocada pelo novo coronavírus— nos países asiáticos são os kits para testes rápidos, que estão chegando ao Brasil. Diferente do RT-PCR, a maioria desses testes utilizam o sangue para procurar por anticorpos produzidos pelo organismo após o contato com o vírus.

"Ele é um teste interessante para saber quantas pessoas já foram infectadas pelo vírus e também quais estão teoricamente imunes a ele", explica Gesmar Rodrigues Silva Segundo, coordenador do Departamento Científico de Imunodeficiências da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

"Teoricamente" pois, até o momento, não podemos afirmar com certeza absoluta se quem já foi infectado pelo vírus fica, de fato, imunizado. "E, se ganha a imunidade, também não sabemos por quanto tempo ela dura", alerta o especialista.

De qualquer forma, os kits rápidos estão sendo considerados importantes justamente para oferecer esse tipo de informação às pessoas que já contraíram o vírus e que poderiam, em tese, voltar a trabalhar sem medo de serem infectadas novamente —o que teria um impacto positivo na economia.

Saiba mais sobre os testes rápidos do coronavírus

Como funciona o teste rápido para detectar coronavírus?

Os testes rápidos utilizam uma amostra de sangue da pessoa para detectar a presença de dois tipos de anticorpos: o IgM e o IgG. O primeiro é considerado um marcador para a fase aguda da doença e começa a ser produzido entre cinco e sete dias após a infecção pelo vírus. Já o segundo é um anticorpo mais específico que permanece circulando mesmo após o fim da fase aguda, indicando que a pessoa está —teoricamente— protegida de futuras infecções provocadas por aquele patógeno.

A amostra de sangue pode ser colhida de duas formas: ou por um furo no dedo ou pela coleta de sangue a partir de uma veia. Neste caso, a parte do sangue analisada é o soro —material obtido após a centrifugação do sangue.

De acordo com Octavio Fernandes, vice-presidente de operações do Labi Exames e médico phD em patologia clínica e medicina tropical, a análise sorológica se mostrou mais precisa na avaliação que o laboratório fez após adquirir um lote desses kits de origem coreana. "Nós trocamos o modo de coleta para conseguir aumentar a sensibilidade do teste e, assim, reduzir as chances dos falsos negativos", explica.

O laboratório, inclusive, desenvolveu um protocolo específico para o teste, que deve ter a amostra de sangue colhida na casa do paciente, reduzindo, assim, as chances de contaminação em outras pessoas.

De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), atualmente existem 19 tipos de teste autorizados no Brasil para a detecção de anticorpos do novo coronavírus —um número de que deve aumentar nas próximas semanas.

Há ainda outro tipo de teste rápido autorizado pelo órgão: um que detecta a presença de antígenos (qualquer substância, normalmente uma proteína, que desencadeia a resposta do sistema imunológico) para o vírus no sangue. No entanto, o método é bem menos utilizado e poucos kits foram encomendados no país.

A partir de quando eu posso fazer o teste rápido do coronavírus?

O ideal é que a testagem seja feita a partir de sete dias após o aparecimento dos sintomas (como dores no corpo e tosse seca), mas há maior precisão se feito após o décimo dia.

Esse é o tempo médio que o corpo precisa para produzir suas defesas contra o vírus. Por isso, o teste acaba não sendo indicado para detectar a doença precocemente —já que, quando ele for capaz de oferecer um diagnóstico positivo, o paciente já estará com os sintomas há algum tempo.

Importante: se o exame for feito antes desse período, a chance de dar negativo é grande, mesmo a pessoa estando contaminada. Assim, ele é recomendado apenas quando a pessoa notar o aparecimento de sintomas de infecção respiratória.

Quem pode fazer esse tipo de teste rápido?

Na rede particular, qualquer pessoa pode fazer esse tipo de teste rápido em alguns laboratórios, como é o caso do Labi Exames. No entanto, por conta da alta procura, o estoque de kits tem se esgotado rapidamente; então, os locais que oferecem o exame estão organizando listas de espera para agendamento, uma vez que mais kits cheguem.

Já no SUS, o Ministério da Saúde liberou recentemente o primeiro lote de kits de teste rápido para serem usados apenas em profissionais que atuam na área de saúde e estão na linha de frente do combate à doença, além de agentes de segurança, como policiais, bombeiros e guardas civis que estejam com sintomas da covid-19. A ideia é que esses profissionais recebam o diagnóstico mais rapidamente e possam voltar ao trabalho, após sua recuperação, de forma mais segura.

No entanto, vale a ressalva de que ele deve ser feito apenas entre sete e dez dias após o início dos sintomas. "É natural que as pessoas fiquem ansiosas e queiram saber se estão com o vírus ou não, mas fazer antes da hora pode dar uma falsa sensação de segurança, ou seja, de que a pessoa não está doente quando, na verdade, está", explica Celso Granato, infectologista da rede de laboratórios Fleury.

Em quanto tempo o teste rápido fica pronto?

Os kits de testagem rápida conquistaram o Brasil e países como Espanha, Itália e EUA por conta da rapidez com que o resultado pode ser obtido. Os testes recebidos pelo Ministério da Saúde, por exemplo, conseguem oferecer um diagnóstico a partir de uma gota de sangue em até 30 minutos.

Já na análise sorológica, que processa o sangue antes de ser analisado, o tempo de espera pode ser um pouco maior: cerca de seis horas. Mas ainda assim é considerado mais rápido do que o tradicional RT-PCR, que pode levar de 24 a 48 horas (em média, já que o excesso de exames tem feito esse tempo ser maior), para ter um resultado.

Qual é a precisão desse tipo de teste?

Essa é a maior preocupação atualmente, já que alguns lotes enviados para a Europa mostraram uma qualidade duvidosa. A Espanha, por exemplo, recusou a aplicação desse tipo de teste por conta da falta de precisão —que girava em torno dos 30% quando deveria ser de 80%.

Além disso, muitas empresas chinesas que estão comercializando os testes rápidos não possuem licença de operação com o governo chinês, o que aumentaria as chances de produtos defeituosos estarem sendo vendidos.

"De fato, os testes não estão vindo bons", afirma Celso Granato, infectologista da rede de laboratórios Fleury. "Além disso, não existe uma padronização na taxa de precisão desse produto, já que cada empresa apresenta seu método e estudos de comprovação e, por conta da situação de emergência que vivemos, não houve tempo hábil para fazer essa checagem de forma independente", explica.

Especialistas acreditam que a sensibilidade ao teste com o sangue, em média, pode variar entre 50% e 60%, especialmente nos pacientes que desenvolvem sintomas considerados leves —e que teriam menos quantidade de anticorpos sendo produzidos. O Labi Exames, no entanto, afirma que conseguiu atingir uma sensibilidade de 100% ao realizar o exame rápido por meio da sorologia em laboratório.

Qual o preço médio desse tipo de exame?

O valor médio do exame, entre os laboratórios pesquisados, varia entre R$ 250 e R$ 350.

O SUS oferecerá esse tipo de teste também?

Até o momento, o Ministério da Saúde afirmou que o primeiro lote de 500 mil testes (foram encomendados cinco milhões) deve ser utilizado apenas em apenas em profissionais que atuam na área de saúde e estão na linha de frente do combate à doença, além de agentes de segurança, como policiais, bombeiros e guardas civis que estejam com sintomas da covid-19. A ideia é que esses profissionais recebam o diagnóstico mais rapidamente e possam voltar ao trabalho, após sua recuperação, de forma mais segura.

Quem está fora desse grupo, portanto, só deve ser testado se desenvolver sintomas graves da doença e, mesmo assim, o teste utilizado ainda deve ser o tradicional RT-PCR, que está sendo realizado pela Fiocruz.

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