Coronavírus: quem deve usar máscara? Pode ser de tecido? Tire dúvidas
Danielle Sanches
Do VivaBem, em São Paulo
24/03/2020 10h38Atualizada em 04/05/2020 18h28
As informações do texto foram atualizadas após a nova orientação do Ministério da Saúde, divulgada em 2/04, que recomenda que todas as pessoas usem máscara ao sair de casa
O aumento nos casos positivos do novo coronavírus no Brasil tornou comum encontrarmos pessoas utilizando máscaras ao andar na rua (os que se arriscam, já que a recomendação é ficar em casa e sair apenas quando realmente necessário) —um costume que antes era observado com mais frequência apenas nos países asiáticos.
Até recentemente, o Ministério da Saúde brasileiro e boa parte dos países enfrentando a pandemia seguiam a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que o uso do acessório devia ser feito apenas por pessoas com sintomas respiratórios. Essa orientação, no entanto, mudou.
Agora, a pasta do governo recomenda que até pessoas sem sintomas usem máscaras ao sair de suas casas para ir ao mercado ou à farmácia. A mudança veio após estudos chineses mostrarem que um grande número de infecções acontece a partir de pessoas assintomáticas, que poderiam jogar no ar gotículas contaminadas ao falar, por exemplo. A máscara, então, funcionaria como uma barreira física para essas partículas maiores.
Tire dúvidas sobre o uso de máscaras
O que é EPI?
É a sigla para "equipamento de proteção individual". A nomenclatura, muito usada especialmente no setor de Segurança do Trabalho, designa qualquer dispositivo ou acessório de uso individual que sirva para proteger a pessoa de riscos à sua saúde e segurança. Equipamentos de proteção respiratória, como máscaras, são exemplos de EPIs.
Quem deve usar máscara? E por quê?
Atualmente, todo mundo que sai do isolamento deve usar máscaras —de preferência caseiras, para deixar os equipamentos de proteção específicos para os profissionais da saúde que estão lutando contra a covid-19 nos hospitais.
Apesar de especialistas e estudos científicos apontarem que quem não possui sintomas respiratórios não precisa usar máscaras, o Ministério da Saúde mudou sua recomendação e passou a orientar que todos saiam de casa usando máscara (de tecido comum), para evitar justamente que os assintomáticos transmitam o vírus sem saber.
Mas atenção: esse uso não significa que as outras medidas preventivas —lavar as mãos com água e sabão, distanciamento social, evitar colocar as mãos no rosto— devam ser deixadas de lado.
Que tipo de máscara é mais recomendado para casos de coronavírus?
Desde que a pandemia chegou ao país, duas máscaras estão sendo bastante procuradas:
- Cirúrgica descartável: Feita de um material chamado "não tecido", é a mais popular, encontrada nas farmácias.
- Modelo N95: É elaborada para profissionais de saúde, pois impede a passagem de partículas pequenas contaminantes, como os aerossóis (expelidos geralmente durante o processo de intubar ou aspirar o paciente).
Nesse momento, a recomendação é que a população faça em casa máscaras improvisadas com um tecido grosso para se proteger e deixe as máscaras específicas para os profissionais da saúde ou que prestam serviço ao público em supermercados, farmácias etc, pois esses itens estão em falta.
O que é a máscara N95?
É um tipo de máscara de proteção respiratória que tem uma maior capacidade de filtração, retendo partículas que a máscara cirúrgica comum não consegue. Na indústria, ela é recomendada para trabalhadores que atuam em áreas com vapores tóxicos, por exemplo; já na área da saúde, ela é recomendada para profissionais que estejam envolvidos em procedimentos com risco de geração de aerossóis.
De acordo com Anvisa, a máscara N95 (ou equivalentes, como a PFF2) tem uma eficácia mínima na filtração de 95% de partículas de até 0,3 micron.
Mas atenção: diante da falta de material no mercado, a recomendação oficial é de que essas máscaras sejam utilizadas apenas por profissionais da saúde.
Como usar a máscara N95?
Antes de colocar o acessório, higienize as mãos com água e sabão ou álcool em gel. Ao colocar a máscara no rosto, certifique-se de que ela está bem ajustada cobrindo boca e nariz sem deixar espaços. Lembre-se de evitar colocar as mãos no rosto para ajustá-la. Troque ao perceber que ela está úmida.
Para retirar, use os elásticos e nunca coloque a mão na parte interna da máscara. Lave as mãos após a remoção do acessório.
Quanto tempo dura a máscara N95?
A recomendação é que o uso da máscara não seja feito por mais de duas horas ou após a pessoa sentir que ela está úmida. Nos dois casos, a recomendação da Anvisa é que sela seja descartada.
O órgão também reforça que as máscaras tipo N95 não devem ser lavadas pois perdem sua capacidade de filtração.
Máscaras feitas de sacola plástica ou garrafa pet são permitidas?
Assim como aconteceu na China no auge da epidemia, o brasileiro resolveu improvisar criando máscaras com sacola plástica e até garrafa pet. No entanto, o uso de outros materiais para a confecção de máscaras não tem comprovação científica. Pior: sacolas plásticas, por exemplo, podem provocar sufocamento no usuário e, por isso, não são recomendadas.
"Não sabemos como fica a qualidade do ar e o nível de umidade próximo ao rosto durante o uso, o que pode facilitar o aparecimento de outras doenças", afirma o infectologista João Prats, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Máscara de tecido comum é 100% segura?
Não é. Mesmo assim, a recomendação é usar máscaras caseiras —e seguir com outros cuidados, como lavar sempre as mãos, evitar ficar tocando olhos, bocas e nariz e manter cerca de 2 metros de distância de outras pessoas quando estiver na rua. Acontece que os tecidos que temos em casa não possuem a trama fechada o suficiente para barrar pequenas partículas com o vírus para o ambiente, mas elas ajudam a impedir que partículas maiores entrem no seu organismo.
Outro cuidado importante ao usar máscaras (caseiras ou industrializadas) é evitar ficar ajeitando o acessório no rosto o tempo todo. "Na máscara caseira, a modelagem feita sem medidas específicas contribui para que o ajuste no rosto seja ruim, deixando a pessoa em risco se ela levar a mão ao rosto a toda hora", avalia o infectologista Leonardo Weissmann, conselheiro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Como dito anteriormente, o Ministério da Saúde recuou em sua posição e passou a incentivar o uso de máscaras de pano para quem precisa sair de casa. Isso impediria os pacientes assintomáticos de expelirem gotículas contaminadas enquanto falam, por exemplo.
O ministério elaborou recomendações para as pessoas fazerem a própria máscara em casa. A pasta destaca que a máscara é uma barreira física e pode ser feita de pano por quem não tem outra alternativa. "Além de eficiente, é um equipamento simples, que não exige grande complexidade na sua produção e pode ser um grande aliado no combate à propagação do coronavírus no Brasil, protegendo você e outras pessoas ao seu redor", ressalta o órgão.
A pasta ainda reforça a recomendação para a população deixar as máscaras aprovadas pelas Anvisa (como as cirúrgicas e a N-95) apenas para hospitais, profissionais da saúde e pessoas que apresentam sintomas. O receio é que o uso indiscriminado do acessório reduza ainda mais a quantidade de material disponível no mercado, deixando essas pessoas —que estão na linha de frente do combate à doença— sem proteção.
Em nota, a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) reforça que o uso de máscaras aprovadas pela Anvisa deve ser apenas para profissionais da saúde ou pessoas com sintomas respiratórios. A entidade lembra ainda que, para quem precisa sair de casa, a máscara de pano pode ser usada como uma barreira mecânica, mas que as outras medidas de preventivas —como lavar as mãos com água e sabão, evitar tocar nariz e boca e o distanciamento social— devem ser mantidos.
"A máscara de pano pode diminuir a disseminação do vírus por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas que podem estar transmitindo o vírus sem saber, porém não protege o indivíduo que a está utilizando, pois não tem capacidade de filtragem", finaliza o texto.
Pode lavar a máscara e usá-la de novo?
As máscaras cirúrgicas não devem ser lavadas, já que acabam se modificando, fazendo com que percam suas funções de proteção e filtração. A recomendação dos órgãos oficiais é utilizar o acessório por até duas horas, no máximo, ou até sentir que ela está úmida.
No caso dos profissionais da saúde, no entanto, a situação é mais delicada. Recentemente, temendo a escassez do produto, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia recomendou aos profissionais que, se necessário, reutilizassem as máscaras N-95 utilizando uma máscara cirúrgica comum por cima.
Em nota técnica posterior, a Anvisa não recomenda a prática, "pois além de não garantir proteção de filtração ou de contaminação, também pode levar ao desperdício de mais um EPI [equipamento de proteção individual], o que pode ser muito prejudicial em um cenário de escassez", diz o documento.
No entanto, o próprio órgão afirma que, excepcionalmente, "em situações de carência de insumos e para atender a demanda da epidemia da covid-19, a máscara N-95 ou equivalente poderá ser reutilizada pelo mesmo profissional", desde que ela tenha sido retirada de forma a minimizar a contaminação.
No caso das máscaras de pano, elas podem, e devem, ser lavadas após o uso. A recomendação é que elas sejam higienizadas com água e sabão, água sanitária ou hipoclorito de sódio. Devem ser deixadas de molho por 20 minutos, segundo o Ministério da Saúde, e deixadas para secar ao sol, de preferência —o uso deve ser feito com as máscaras completamente secas. A versão de tecido também deve ser usada por até duas horas ou até ficar úmida.
Como deve ser feito o descarte da máscara?
Idealmente, como é um material com potencial de contaminação, a máscara cirúrgica se encaixa na categoria de lixo hospitalar e deveria ser destinada ao descarte específico. "Mas isso não é realista", afirma o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Segundo ele, o correto é retirar a máscara evitando contato com a parte da frente e colocá-la em um saco plástico. Jogue em uma lixeira fechada e lave as mãos com água e sabão imediatamente após o descarte, evitando tocar em qualquer superfície.
Em quais cidades de São Paulo o uso de máscara é obrigatório?
A partir do dia 7 de maio, é obrigatório o uso de máscara em locais públicos de todos os 645 municípios do estado de São Paulo. As máscaras podem ser de tecido.
Quem não usar máscara em SP pagará multa?
Sim. Os valores, estabelecidos por meio de decreto municipal, irão variar de acordo com a cidade. O mesmo vale para a fiscalização, que pode ser feita pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) ou pela Polícia Militar.
No caso dos transportes públicos, a multa vai para a empresa de transporte: R$ 3,3 mil por dia por veículo flagrado com pessoas desprotegidas.
Fonte: Outra fonte consultada: Ivan Marinho, do Hospital Leforte, em São Paulo