Corrimento transparente: quando o líquido passa a ser perigoso?
Corrimentos vaginais são algo normal e corriqueiro na vida das pessoas com vagina: o canal vaginal é composto por células que produzem e acumulam líquidos e secreções, criando uma superfície que é adaptável e responde aos diferentes estímulos hormonais, físicos e químicos, produzindo líquidos. Em alguns casos, o corrimento é transparente.
Apresentar uma secreção vaginal perceptível como um corrimento sem cor e sem odor especiais, na ausência de outros sintomas, é especialmente esperado como um aspecto fisiológico, funcional e saudável das pessoas com vagina. Ellen Freire, ginecologista e obstetra do Grupo Fleury
No entanto, apesar de corriqueiro, o corrimento pede atenção, principalmente em casos de modificação na secreção ou algum sinal de alerta. Entenda abaixo.
Corrimento transparente: o que pode ser?
Que mudanças no corrimento transparente indicam perigo?
É preciso ficar atento a três alterações:
- Cor: cuidado com corrimentos acinzentados, esverdeados ou amarelados como pus;
- Odor: como já dito, se o cheiro sai do normal e está desagradável, deve ser levado ao médico;
- Outros sintomas: é um sinal de alerta a presença simultânea de coceira ou irritação vulvovaginal, dor embaixo do ventre, dor ou sangramento durante a relação sexual, febre ou aparecimento de lesões vulvares.
Além disso, é importante ir sempre ao ginecologista e seguir os exames de rotina, como o papanicolau, colposcopia, entre outros. Apesar de estes sintomas serem importantes, muitas ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) não apresentam sintomas.
Corrimento transparente com cheiro pode ser o quê?
Uma das alterações preocupantes é justamente o odor. "A recomendação nesses casos é procurar um médico, pois pode significar, dentre outras coisas, alguma alteração da flora vaginal causada por doenças", alerta o ginecologista Rodrigo Nogueira, do Centro de Saúde da Mulher e da Gestante do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo.
Lembrando que é normal que a vagina tenha um cheiro característico e que na realidade consideramos um problema quando o cheiro está diferente do normal.
Corrimento transparente significa ovulação?
Muitos fatores podem influenciar na consistência do corrimento transparente.
"Na primeira fase do ciclo, o corrimento é fluido e com elasticidade. Depois da ovulação ele se torna espesso", diferencia Claudio Leal, chefe da Área Assistencial de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) que faz parte da rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).
Isso ocorre devido à produção maior de progesterona nessa fase do ciclo, que aumenta o número de secreções no corpo todo, como explica Freire. E quanto mais líquido houver, isso muda a cor e a consistência, podendo ficar mais branquinho.
No entanto, o ginecologista reforça que o corrimento não estar dessa forma não significa que a ovulação não ocorreu. "Isso pode variar de acordo com a pessoa e seria muito arriscado utilizar apenas este parâmetro como um critério para saber se está ovulando ou não", frisa Freire.
E o corrimento transparente na gravidez?
A gestação é uma fase onde ocorre muito corrimento transparente.
"Durante a gravidez, o colo do útero e as paredes vaginais ficam mais macios e o corrimento aumenta para ajudar a prevenir quaisquer infecções que se deslocam da vagina para o útero", frisa Leal.
Algumas mulheres podem até sentir que o forro da calcinha está sempre úmido, mas não é por ser normal, que não significa que não se deve estar atenta.
"O sistema imune da gestante também está sob efeito dessa nova e diferente carga hormonal, ou seja, a microbiota da vagina muda. Isso pode alterar o corrimento natural para esta época —mais um motivo para que as gestantes tenham acesso ao cuidado pré-natal, onde podem conversar e aprender com os cuidadores sobre essas mudanças específicas do período gestacional e como reconhecer", explica Freire.
E o corrimento transparente com sangue?
O sangue isolado e apenas um dia não significa problemas. Mas como já explicado, se ele for associado a outros sinais, pode representar sim motivo de preocupação.
"Sangramento associado ou não a dor, durante ou logo após a relação sexual, configura o aparecimento de um sintoma que merece ser avaliado pela equipe de saúde", reforça Freire.
Como cuidar da saúde da minha vagina e vulva?
Para quem não sabe: chamamos de vagina apenas a parte interna do órgão sexual feminino, a área externa, onde ficam os lábios e o clitóris, é chamada de vulva. E são muitos os cuidados para deixar a região saudável:
- Não lave a parte interna da vagina: o canal vaginal se higieniza sozinho, e produtos abrasivos ou o uso de ducha higiênica podem desequilibrar a microbiota e o pH da região;
- Cuidado com o sabonete usado na vulva: evite aqueles perfumados e prefira formulações próprias para região, evitando infecções;
- Mantenha a região arejada: evitando roupas íntimas e peças de baixo muito justas ou de tecidos sintéticos (prefira as de algodão). Saias e vestidos são ótimas opções. Outra boa forma é dormindo sem roupa íntima;
- Mantenha a região sequinha: enxugando bem e evitando ficar com partes de baixo do biquíni úmidas;
- Faça xixi após a relação sexual: isso ajuda a evitar infecções urinárias;
- Ao limpar-se, faça de frente para trás: evitando a contaminação da vulva por bactérias.
Conheça seu corpo: é o mais importante para entender se há algo errado cedo e buscar ajuda médica o mais rápido possível.
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