Corticoide: para que serve e por que não pode ser tomado por muito tempo
Todo mundo já ouviu falar de um tipo de esteroide, o anabolizante, muito conhecido no mundo dos esportistas dado os seus efeitos no crescimento muscular, por vezes, nocivo. Outro tipo de esteroide é o corticoide, também conhecido como corticosteroide.
Considerado um medicamento potente que tem na sua lista de efeitos colaterais o enfraquecimento ósseo e a catarata, o corticoide deve ser utilizado pelo menor tempo possível. Desde o início do seu uso terapêutico - na década de 1950 - o fármaco tem sido útil em quase todas as áreas da medicina, nos mais diversos tipos de apresentações.
Apesar de seus efeitos serem bastante conhecidos, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado, conforme orientação médica ou do farmacêutico.
Corticoide: o que é, para que serve e mais
O que é corticoide?
Trata-se da forma sintética de hormônios (glicorticoides e mineralcorticoides) produzidos pelas glândulas adrenais (ou suprarrenais) a partir da molécula do colesterol.
Entre os fármacos, ele é classificado como anti-inflamatório esteroidal, e sua função é ajudar a reduzir as inflamações, embora também possa agir no sistema de defesa do corpo (sistema imunológico), além de ter efeitos vasoconstritores e sobre o equilíbrio de eletrólitos.
Para que serve o corticoide?
Os corticoides podem ser utilizados em várias condições de saúde. Os mais usados na prática clínica são os glicocorticoides, como a hidrocortisona, a prednisolona e a dexametasona. Confira alguns exemplos nos quais essas medicações podem ser úteis:
- Doenças autoimunes (como o lúpus)
- Doença inflamatória intestinal (doença de Crohn ou colite ulcerativa)
- Anemia hemolítica
- Prevenção à rejeição de órgãos em indivíduos transplantados
- Reações alérgicas (urticária, picada de abelha, asma, rinite)
- Doenças oculares (neurite, coroidite multifocal)
- Inflamações dos ossos e articulações (artrite, bursite e tenossinovite)
- Dermatites
- Covid grave
- Edema cerebral
- Esclerose múltipla
Os corticoides também são utilizados em terapias de reposição hormonal em pacientes com insuficiência da glândula adrenal. De acordo com o farmacêutico Leonardo Coutinho Ribeiro, que atua na Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM-UFES, tanto os glicocorticoides como os mineralocorticoides (fludrocortisona) podem ser utilizados dessa forma.
"Em decorrência da alta capacidade de provocar retenção de sódio e edema, os mineralocorticoides não são utilizados como anti-inflamatórios na prática clínica", completa o especialista.
Como o corticoide funciona?
Para produzir seus principais efeitos, os corticoides têm mecanismos de origem genômica e não genômica, que atuam juntos na redução e transcrição de genes que produzem moléculas importantes para o processo inflamatório, bem como estimulam a síntese de fatores anti-inflamatórios. Assim, eles inibem processos que levam à inflamação. Em altas doses, porém, eles também inibem as células de defesa do corpo (células B e T), o que leva à ação imunossupressora.
Por quanto tempo posso usar o corticoide?
A regra é que ele seja usado pelo menor tempo possível, mas a depender das condições de saúde do paciente, haverá necessidade de tratamento por período prolongado.
Nessas situações, é preciso que o médico ou farmacêutico acompanhe de perto o paciente para monitorar suas condições gerais de saúde, especialmente quando a dose utilizada é alta.
Além disso, a suspensão do tratamento deve ser feita de forma lenta e gradual (desmame) para prevenir o risco de insuficiência suprarrenal.
Principais efeitos colaterais do corticoide
As possíveis reações adversas podem limitar seu uso, o que é mais frequente quando é necessária a indicação de doses altas e o uso é crônico. Os efeitos colaterais mais comuns são:
- Osteoporose e fraturas
- Supressão adrenal
- Diabetes
- Hiperglicemia
- Miopatia (fraqueza muscular)
- Glaucoma
- Catarata
- Distúrbios psiquiátricos
- Síndrome de Cushing
- Doenças cardiovasculares
- Problemas gastrointestinais e dermatológicos
- Alterações no crescimento (em crianças e adolescentes)
Saiba quem não pode usar corticoide
Esse tipo de fármaco é contraindicado para pessoas alérgicas a corticoides ou a algum componente de sua fórmula, e também para indivíduos que se encaixem nas seguintes condições:
- Imunização concomitante com vacinas de vírus vivo atenuado, como caxumba e febre amarela (quando a dose do corticoide é alta);
- Infecção sistêmica por fungos
- Osteoporose
- Hiperglicemia e hipertensão descontroladas
- Diabetes
- Glaucoma
- Infecção articular (artrite séptica)
- Herpes simplex
- Catapora
- Infecções virais ou bacterianas não tratadas
Como devo usar os corticoides?
Esses medicamentos têm variadas apresentações (solução oral, injetável, aerossol, colírio, cremes e pomada, loção capilar, comprimidos etc.), e você deve utilizá-lo na forma, na medida e pelo tempo indicado pelo médico ou farmacêutico.
Evite suspender o tratamento por contra própria. Interrompê-lo de repente, principalmente quando as doses indicadas são altas, poderia ter como resultado o que os especialistas chamam de supressão adrenal (ou insuficiência suprarrenal), ou seja, a produção inadequada de cortisol promovida pelo uso do remédio, o que levaria a sintomas como fraqueza, náuseas, cansaço, vômitos etc.
Cuidados com o uso do corticoide em pomada ou creme
Essas apresentações são bastante utilizadas no tratamento de doenças dermatológicas. As pomadas são consideradas mais potentes do que cremes ou loções, e em geral são indicadas no tratamento de dermatoses crônicas (psoríase, eczema). Já os cremes são úteis nas dermatoses agudas e subagudas (queimaduras, alergias, etc.)
Aqui, também, a regra é seguir as orientações de seu médico ou farmacêutico quanto ao tempo de tratamento e posologia.
"Importante lembrar que cremes e pomadas não devem ser usados para fins diversos de sua indicação, porque o corticoide pode retardar a cicatrização de feridas abertas. Como um dos possíveis efeitos do fármaco seria inibir o sistema de defesa do corpo, a prática poderia abrir espaço para outras infecções", adverte Sandra Fukada, professora de Farmacologia do Departamento de Ciências Biomoleculares da FCFRP-USP.
Efeitos adversos das formulações dermatológicas
Embora os cremes, loções e pomadas, na maioria das vezes, não provoquem efeitos adversos no corpo (sistêmicos), o uso indevido deles, ou seja, em doses mais altas do que as recomendadas, e por tempo superior ao indicado pelo médico ou farmacêutico, podem levar às seguintes consequências:
- Achatamento ou enrugamento da pele
- Alergia
- Infecções cutâneas
- Hipopigmentação
- Hipertricose
Possíveis interações com outros medicamentos
Alguns remédios não combinam com o corticoide, podendo potencializar ou reduzir seu efeito. Antes de iniciar o tratamento com ele, é essencial que você informe ao médico ou ao farmacêutico quais são os medicamentos que faz ou fez uso nos últimos tempos, especialmente os abaixo indicados:
- Anticoagulantes (varfarina)
- Anti-hipoglicêmicos
- Antivirais (nevirapina, ritonavir)
- Imunizantes com vírus vivo atenuado (entre pacientes que usam doses altas de corticoide, a vacinação deve ser adiada)
- Anti-inflamatório não esteroidal (ácido acetilsalicílico, ibuprofeno)
Fontes
Leonardo Coutinho Ribeiro, farmacêutico, especialista em farmácia clínica e análises clínicas e doutorando em assistência farmacêutica. Trabalha na Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM-UFES (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Sandra Fukada, professora de farmacologia do Departamento de Ciências Biomoleculares da da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Revisão técnica: Sandra Fukada.
Referências: Hodgens A, Sharman T. Corticosteroids. [Updated 2021 Oct 16]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK554612/.
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