Doação de óvulos: como funciona? É anônima? Quando pode ser usada?
De 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo podem ser inférteis —sendo 35% dos casos relacionados à mulher, diz a OMS (Organização Mundial da Saúde). Mas, com o avanço da medicina, existem alternativas, como a doação de óvulos ou a doação compartilhada.
Uma mulher (doadora) cede seu óvulo para que ele seja fecundado e implantado de forma anônima em outra mulher que por algum motivo não possa utilizar seus próprios óvulos.
A seguir, VivaBem responde às principais dúvidas sobre o tema:
O que é a ovodoação e em quais casos é necessário utilizar óvulos doados?
O procedimento é uma alternativa para casais que não conseguem engravidar e a causa está relacionada à baixa reserva ovariana ou em qualidade ruim. A mulher recebe os óvulos saudáveis de uma doadora, de maneira anônima (caso não seja uma parente) e com o apoio da clínica escolhida.
O tratamento também é indicado para pacientes que realizaram vários ciclos de FIV (fertilização in vitro) sem sucesso, menopausa precoce, falência ovariana prematura, ausência de ovários devido a cirurgias e perda da capacidade de produzir óvulos devido a quimioterapia.
Como funciona a ovodoação no Brasil?
A doação de óvulos, sêmen e embriões é regulamentada no Brasil pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) por meio da resolução 2.168/2017, mas houve algumas atualizações após a publicação da nova resolução 2.294/2021. Trata-se de um processo voluntário, anônimo (na maioria dos casos) e sem caráter lucrativo ou comercial.
A doação é anônima ou preciso me identificar?
O programa tem caráter anônimo, respeitando as exigências do Conselho Federal de Medicina, que também proíbe a comercialização de óvulos. Dessa forma, sigilo e anonimato são fundamentais nos tratamentos que envolvem a doação de gametas.
O que é a doação compartilhada?
"É quando uma mulher vai realizar a reprodução assistida e quando os óvulos já estão maduros, uma parte fica com ela e outra é doada anonimamente", explica Matheus Roque, mestre em reprodução humana pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha.
Qualquer mulher pode ser doadora?
Não. Para que a doação aconteça, a mulher passa por uma triagem onde são realizados exames dentro da clínica, levantamento de histórico de doenças familiares, infectocontagiosas e até avaliação genética. Se a saúde estiver dentro dos padrões e atender a todos os pré-requisitos, ela estará apta a doar seus óvulos. Também existe a preferência por mulheres com menos de 35 anos. Vale ressaltar que todos os procedimentos necessários são realizados sem custos para a doadora.
A idade influencia nesses casos —a doadora deve ter preferencialmente até 34 anos, pois "repassará" sua chance para a receptora, que independentemente da idade terá mais chances de engravidar.
Ser uma doadora afetará minha fertilidade ou esgotará meus óvulos?
Não. "Os óvulos aspirados em um tratamento são óvulos que seriam perdidos naquele respectivo mês, mas que são aproveitados para o tratamento. Os hormônios que damos para as mulheres em estimulação ovariana é que vão amadurecer os óvulos, tornando-os aptos para o processo de gerar um bebê", indica Roque.
A receptora pode escolher a doadora?
Parentes de até quarto grau podem ser doadores, mas, amigos e conhecidos, não.
De acordo com Ana Paula Aquino, ginecologista especializada em reprodução assistida, o processo de escolher por características pode depender da clínica.
"Na clínica onde trabalho, temos duas etapas de seleção dos óvulos. A primeira é baseada na experiência das enfermeiras responsáveis, que são profissionais que realizam uma minuciosa seleção para identificar as semelhanças físicas e diferenças da doadora com a receptora. Isso só é possível devido ao vasto conhecimento das profissionais que conseguem trazer precisão e assertividade para a escolha. A segunda maneira para realizar a seleção dos óvulos é por meio de um software que realiza a análise da biometria facial das receptoras e busca doadoras compatíveis. Esse programa analisa o banco de dados da clínica para encontrar quem tenha as características mais parecidas possíveis com a da mulher que irá receber os óvulos."
Quais preparos a doadora precisa fazer? O processo tem efeitos colaterais?
O procedimento é parecido com quem faz o congelamento de óvulos. Durante 10 a 14 dias, a doadora deve usar medicamentos injetáveis subcutâneos que estimulam o crescimento dos óvulos disponíveis. Nesse intervalo, ela faz de 4 a 5 ultrassons.
Em seguida, é feita a coleta de óvulos com sedação. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão a retenção de líquido, podendo ganhar de 1 a 3 quilos, mamas inchadas e desconforto abdominal. Outras implicações mais raras são dor de cabeça, instabilidade emocional com alterações de humor e aumento do apetite.
Existem riscos para doadora?
Atualmente, os riscos do tratamento são mínimos desde a estimulação ovariana, até a realização de uma coleta de óvulos. "Entre os riscos existentes destacam-se: síndrome de hiperestimulação ovariana, sangramentos, infecções, torção de ovários, mas tudo é considerado muito raro", analisa o médico Matheus Roque.
E para a receptora? O processo causa dor ou outros efeitos?
Para a receptora é um processo simples e praticamente indolor, pois conta apenas com o uso de medicações via oral, vaginal ou tópico.
Segundo Aquino, o intuito é simular um ciclo normal da paciente menstruada para o endométrio crescer e dura entre 17 e 20 dias, do início do preparo até a transferência embrionária. Ela precisará fazer em torno de 3 ultrassons para avaliação e, então, é agendado o procedimento de implantação do embrião (após fertilização), que também é realizado no centro cirúrgico, mas não há a necessidade de sedação.
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