Tem dor no braço com frequência? Saiba quando você deve se preocupar
Diana Cortez
Colaboração para VivaBem
19/03/2021 04h00
Os membros superiores são muito exigidos no dia a dia. E, justamente por serem usados praticamente em todas as atividades, as chances de lesões tornam-se grandes —daí surge aquela dor no braço incômoda e aparentemente sem motivo.
Se isso te acomete com frequência, é importante fazer uma consulta com um ortopedista especialista em membros superiores para identificar o que está por trás dos sintomas, evitando que evolua para quadros mais sérios que poderiam afetar os movimentos e até aumentar as chances de ruptura de estruturas importantes ou de uma incapacidade funcional.
A seguir, tire suas dúvidas sobre as principais causas de dor no braço e como tratá-las:
Dor no braço
A má postura pode causar dores no braço?
Sim. Pessoas que possuem uma postura ruim não só aumentam as chances de desenvolver dores no pescoço, mas também nos ombros e nos braços, uma vez que aumentam a sobrecarga sobre as estruturas dessas regiões.
"Entre os problemas mais frequentes surgem a tendinite e a bursite de ombro, quadros que costumam aparecer juntos em 80% dos casos atendidos no consultório", explica Mauro Gracitelli, ortopedista especialista em cotovelo e ombro do Hospital das Clínicas e do Hospital Albert Einstein, ambos em São Paulo.
Como saber se a dor no braço é um infarto?
O infarto agudo do miocárdio ou ataque cardíaco acontece quando há uma deficiência de passagem do sangue para o coração, dando início à dor no peito que irradia para o braço esquerdo. Ela pode ser acompanhada de outros sintomas, como enjoo, suor frio, mal-estar e tontura.
Diante da suspeita de um infarto, deve-se ligar para a emergência ou levar o paciente imediatamente para o hospital.
Quais exames ajudam em um diagnóstico de dor no braço?
Na maioria dos casos, o diagnóstico é clínico, realizado pelo próprio médico ortopedista por meio de toque e apalpamento. No entanto, os exames de imagem podem ser solicitados pelo profissional para ajudar a confirmar o quadro e dar uma ideia da gravidade do problema.
Para lesões no tendão, podem ser solicitados os exames de ultrassom e ressonância magnética. "O ultrassom também ajuda a verificar a condição do nervo no diagnóstico da síndrome de túnel do carpo. Se necessário, ainda é solicitado o exame de eletroneuromiografia, que verifica a condução elétrica do nervo", explica Saito.
No entanto, nas lesões que envolvem osso e cartilagem, como a rizartrose, a radiografia (raio-X) pode ser solicitada para contribuir com informações visuais, assim como a ressonância magnética.
O que é bursite e tendinite de ombro?
A bursite ou síndrome do impacto são nomes dados para a inflamação da bursa —estrutura que facilita o deslizamento dos tendões do ombro. A dor surge principalmente na lateral do ombro e pode irradiar para o braço e para a escápula.
Já a tendinite ou tendinopatia de ombro é a inflamação dos tendões dessa região —o manguito rotador (supraespinal, infraespinal, subescapular e redondo menor) e o tendão da cabeça longa do bíceps. Por esse motivo a dor muitas vezes envolve o braço. O paciente também tem dificuldades para dormir, uma vez que a posição piora o incômodo.
Como tratar a bursite e a tendinite de ombro
Primeiro, o paciente precisará realizar ajustes posturais usando fisioterapia, RPG e pilates para fortalecer a musculatura do ombro, escápula e cervical a fim de prevenir dores na região e complicações mais sérias. Também deverá prestar atenção à ergonomia de seu ambiente, uma vez que esse pode ser o gatilho para o problema.
Durante as crises de dor, o ortopedista vai prescrever medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, além de sessões de fisioterapia.
Que compressa devo fazer para dor no braço?
Em regra geral, as compressas frias (com gelo) são indicadas para combater as inflamações agudas, ou seja, que estão no início, como acontece por conta de um trauma, esforço excessivo ou queda.
"A compressa com gelo também pode ser aplicada no início de uma tendinite, quando a dor está incapacitando o membro de exercer sua função. Mas é imprescindível procurar um especialista em seguida", afirma Daiene Dalla Pria Araújo Saito, terapeuta ocupacional especialista em terapia da mão do Instituto Vita, de São Paulo (SP).
Já em processos crônicos ou antigos são usadas as compressas quentes, que promovem o relaxamento muscular e o aumento da vascularização e da circulação sanguínea, contribuindo para amenizar a dor.
Digitar muito no celular pode causar dores no braço?
Sim. Algumas lesões iniciam no polegar e acabam causando dor no antebraço por conta do excesso da digitação em celulares e tabletes. "Inclusive, vemos um aumento cada vez maior de casos em jovens por conta do uso excessivo desses aparelhos", fala a terapeuta ocupacional. As principais são:
- Síndrome de Quervain: trata-se de uma inflamação do tendão extensor do polegar. O quadro gera um inchaço desse tecido ou o espessamento do compartimento por onde ele passa, causando atrito entre os dois que leva à inflamação da sinóvia --membrana que permite o deslizamento suave dos tendões pelo compartimento.
- Tenossinovite de Quervain: dor que surge no punho, perto da base do polegar e pode se estender para o antebraço, principalmente ao realizar movimentos com as mãos e o polegar.
- Rizartrose: é um quadro caracterizado por um desgaste da cartilagem da articulação (artrose ou osteoartrite) localizada na base do dedo polegar que pode levar à exposição do osso subjacente. A dor na base do polegar é o sintoma mais marcante, mesmo com a mão em repouso, e pode se estender para o antebraço, já que alguns músculos estão inseridos nessa articulação afetada. Também pode haver inchaço, deformidade na região e limitação para mover o polegar, realizar o movimento de "pinça" e até mesmo para abrir um frasco ou tocar um instrumento.
Tratamento da síndrome de Quervain e da rizartrose:
Enquanto na síndrome de De Quervain é possível recuperar o tendão, na rizartrose não há como reverter o desgaste da articulação, apenas dar qualidade de vida ao paciente.
Mesmo assim, os tratamentos para ambos os casos são parecidos e, atualmente, incluem o uso de órtese, equipamento que tem a função de imobilizar o membro para manter articulação e tendões em repouso.
Quando estabilizado, o paciente será encaminhado para sessões de fisioterapia e/ou de terapia ocupacional para realizar exercícios de fortalecimento e alongamento específicos para diminuir o impacto sobre as articulações, além de eletroterapia (ondas elétricas) e ultrassom para um efeito analgésico e anti-inflamatório.
Em quadros graves, as duas lesões podem levar à necessidade de cirurgia. Na síndrome de Quervain, o objetivo do procedimento é descomprimir o tendão para que ele possa deslizar melhor. Já na rizartrose, é feita remoção do osso trapézio para eliminar o atrito entre ossos que provoca a dor, então, as estruturas são reposicionadas para manter o polegar com sua função e mobilidade preservadas.
A dor no braço que surge após exercício precisa ser tratada?
Não. Conhecida como dor muscular tardia, ela é uma resposta do músculo ao estímulo do exercício e surge cerca de 24 horas após a realização de uma atividade física mais intensa, mas costuma a desaparecer em até 72 horas, por isso não precisa de tratamento.
"Os anti-inflamatórios não são indicados nesse caso, uma vez que retardam a recuperação muscular", alerta Saito. Apenas é orientado que se faça o descanso da área dolorida, já que um novo treino aumentaria as chances de uma contratura muscular.
Qual é a principal causa de dor no cotovelo?
Esse é o sintoma da epicondilite lateral ou "cotovelo de tenista". Trata-se de uma inflamação que atinge os tendões dessa região, causada por movimentos repetitivos do punho e dos dedos para cima, como acontece durante o uso do computador ou mesmo nos treinos de musculação.
Portanto, a lesão não se limita apenas aos jogadores de tênis como sugere seu nome popular. Também existe a epicondilite medial, que é menos comum e se caracteriza pelo processo inflamatório e degenerativo dos tendões flexores do antebraço, responsáveis por dobrar o punho, e dos dedos.
A dor da epicondilite lateral fica localizada na parte externa do cotovelo, podendo irradiar para o antebraço e, inclusive, apresentar perda de força de extensão do punho e dos dedos.
Tratamento da epicondilite lateral
Inicialmente, o tratamento terá o objetivo de reduzir a dor e a inflamação com medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, compressas de gelo, acupuntura e fisioterapia. "Nas fases mais dolorosas, podem ser indicadas infiltrações com corticoides para alívio dos sintomas", comenta Gracitelli.
Ainda assim, será preciso reduzir a sobrecarga nessas estruturas com o uso de órteses para punho e cintas ou tipoias que promovem o repouso do cotovelo. Também é importante reforçar tendões e músculos do antebraço com exercícios de fortalecimento específico. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser indicada para retirada de parte "doente" do tendão, mas o ortopedista deve avaliar cada caso.
O que é LER?
A LER é a sigla para "Lesões por Esforço Repetitivo", ou seja, um ou mais quadros causados por uma atividade monótona e repetitiva, como digitação, costura, crochê, tocar instrumentos, que pode afetar ossos, nervos, músculos e tendões, como a tendinite, rizartrose, epicondilite etc.
Atualmente, também são lesões denominadas por DORT - Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho. Seu diagnóstico deve ser confirmado juntamente com um médico do trabalho, uma vez que devem ser avaliadas as funções da pessoa no dia a dia de sua profissão.
O tratamento da LER ou da DORT deve ser avaliado de acordo com cada paciente, mas, em geral, envolve o uso de anti-inflamatórios, órteses de contenção para imobilizar o membro, afastamento do trabalho (ou da atividade) e sessões de fisioterapia.
"São orientados exercícios de fortalecimento e alongamento para ajudar tendões e ligamentos a serem recuperados, além do uso de ultrassom, micro-ondas e correntes elétricas para efeito analgésico e anti-inflamatório", explica Ana Paula Monteiro, fisioterapeuta do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP.
É verdade que a tendinite é uma das principais causas da LER?
Sim. A inflamação do tendão —um tecido elástico que liga o músculo ao osso— está entre as principais causas de LER. A lesão surge principalmente em pessoas que realizam esforços repetitivos ou em excesso e tem a característica de ser bastante dolorida, persistindo mesmo com o membro em repouso. Nos quadros agudos, também pode ser acompanhada da perda de força muscular.
Tratamento da tendinite
O ortopedista inicia o tratamento com medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, além de sessões de fisioterapia que irão envolver tratamentos com eletroterapia e ultrassom para efeito analgésico. "Também é importante entender as causas e mudar hábitos, uma vez que a tendinite acontece por excesso de esforço", coloca a fisioterapeuta.
O que é distensão muscular?
Em geral, a distensão muscular acontece diante do alongamento excessivo do músculo por conta de um grande esforço, como levantar um objeto pesado demais. Nesse momento, ocorrem lesões nas fibras musculares, que também podem afetar a junção músculo-tendínea, região da união entre o músculo e o tendão.
Existe lesão sem ruptura do tecido, mas há casos com rupturas parciais ou completas dessas estruturas. No local, se origina um hematoma e inicia a inflamação.
Tratamento da distensão muscular
"Em geral, tratar o problema é rápido e envolve a aplicação de compressa com gelo no local para diminuir a inflamação e analgésicos", explica Saito.
Também é orientado fazer o repouso do membro com uso de órtese, dependendo da região, além de sessões de fisioterapia com ultrassom e micro-ondas para contribuir com a analgesia e a ação anti-inflamatória a fim de acelerar o processo de recuperação. Em um segundo momento, são orientados exercícios de fortalecimento para evitar um novo quadro.
O que é síndrome de túnel do carpo?
A lesão surge quando há uma compressão do nervo mediano que passa dentro do túnel do carpo —estrutura que fica entre o punho e as mãos. Apesar de não ter causas bem definidas, sabe-se que algumas situações facilitam o aparecimento do problema principalmente nas mulheres, entre elas, hipotireoidismo, diabetes, obesidade, gravidez e artrite reumatoide.
As dores intensas nas mãos podem ser acompanhadas por sensação de choque e formigamento, e o incômodo pode se alastrar para os braços até os ombros. Se não tratada devidamente, há riscos de atrofias que comprometem os movimentos, inclusive do braço.
Tratamento da síndrome de túnel do carpo
Além de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, o tratamento conservador é feito com sessões de fisioterapia e/ou terapia ocupacional, que incluem massagem e alongamento para liberar as estruturas, além do uso de órtese de punho para conter o movimento, ultrassom e eletroterapia para contribuir para a analgesia.
"Também são realizadas injeções com corticoesteroides para combater a inflamação e, nos casos mais graves, é indicada a cirurgia para aliviar a compressão do nervo mediano", explica Saito.
Osteoporose pode causar dor no braço?
Não. A osteoporose é uma condição metabólica caracterizada pela diminuição progressiva da densidade óssea e não causa dor. Ela é uma doença silenciosa que aumenta o risco de fratura e essa, sim, é muito dolorosa quando acontece.
A condição está ligada ao envelhecimento. No entanto, outros fatores também podem levar ao problema, como a queda na produção de estrógeno, que acontece nas mulheres após a menopausa, além das deficiências de cálcio e vitamina D.
Fraturas no braço causam dor?
Sim. Na maioria das vezes, fraturas, e mesmo as micro-fraturas ósseas, causam dores intensas. Outros sintomas que podem estar acompanhados são inchaço, presença de hematomas, dormência e formigamento da região.
Diante da suspeita de uma fratura, deve-se fazer uma consulta urgente com um ortopedista que vai examinar e, se achar necessário, pedir um exame de raio-X para verificar a extensão da lesão. O tratamento é feito com a imobilização do membro com gesso e, em um segundo momento, pode ser substituído por uma órtese, além de remédios analgésicos e anti-inflamatórios e, mais tarde, fisioterapia para reabilitação dos movimentos e fortalecimento dos tecidos.
Em casos mais graves, como nas fraturas expostas, a cirurgia é necessária para posicionar o osso com placas e pinos.
Pessoas com reumatismo ou artrite reumatoide podem sentir dor no braço?
Sim. Essa é uma doença inflamatória crônica, autoimune, que afeta todas as articulações, principalmente, aquelas com maior sobrecarga, o que depende da atividade e das condições (peso) de cada pessoa. "Pessoas que trabalham com muita digitação, provavelmente irão sofrer um maior processo inflamatório nas mãos", exemplifica a terapeuta ocupacional especialista em terapia da mão.
Esse tipo de doença precisa de um tratamento específico realizado por um médico reumatologista. De qualquer maneira, é importante evitar o desgaste articular com o uso de órtese e a conscientização do uso do membro para diminuir o desgaste articular e a dor.