Ufa! Maioria dos exames de sangue já não exige jejum; entenda exceções
Cristina Almeida
Colaboração para VivaBem
16/04/2021 04h00
Se o seu médico pediu exame de sangue completo e você já ficou preocupado com o que ele pode revelar, fique tranquilo. Essa prática auxiliar de diagnóstico investiga como andam as funções do seu corpo e podem até identificar doenças comuns. Mas, na maioria das vezes, o eventual tratamento precoce delas é a melhor coisa que lhe poderia acontecer.
A análise desse líquido corporal é importante porque ele participa em uma série de funções vitais. O sangue é o encarregado pela distribuição do oxigênio e nutrientes por todos os tecidos do corpo, e também por levar dióxido de carbono de volta para o pulmão para a troca de oxigênio.
Ele está envolvido com as atividades de órgãos como os rins, bem como os hormônios, e ainda serve de condutor de células que combatem infecções, ajudam na sua coagulação, entre outras.
Exame de sangue: saiba os tipos, jejum e mais
Do que é composto o sangue?
Em primeiro lugar, é bom entender a composição do sangue. O sangue é formado pelo plasma (seu componente líquido), os glóbulos brancos e vermelhos, e as plaquetas. Conheça cada um deles:
- Plasma: compõe cerca de 55% do sangue e contém mais de 700 proteínas, além de hormônios, gordura, vitaminas e glicose;
- Glóbulos vermelhos: também conhecidos como eritrócitos, contêm hemoglobina --a proteína encarregada de distribuir oxigênio para os tecidos do corpo, e de conferir a cor avermelhada do sangue;
- Glóbulos brancos: são também chamados de leucócitos, células protetoras de doenças, e que garantem a boa saúde;
- Plaquetas: auxiliam no processo de coagulação sanguínea.
Qual é a parte usada pelo laboratório?
O sangue é sempre colhido em sua forma total. Mas, a depender do que é preciso analisar, apenas uma parte desse material será utilizado. Por exemplo, se é preciso avaliar os componentes da célula, o sangue será observado em sua forma integral. Já quando o objetivo é analisar a glicose, interessa somente a parte do soro, que compõe o plasma.
Desde o momento da coleta, a amostra sanguínea é disposta em tubos específicos, que são identificados por cor e, dali, seguem em direção às respectivas áreas de análise.
Para que serve o exame de sangue?
A maioria das moléculas do seu corpo pode ser avaliada por meio de um teste sanguíneo. Ele é considerado um espelho que reflete o funcionamento do seu organismo e as condições da sua saúde no momento em que ele é realizado.
Após a consulta e o exame físico, o teste sanguíneo é uma prática complementar que auxilia o médico a investigar sintomas, diagnosticar determinada doença ou monitorar fatores de risco para doenças crônicas, como o diabetes e doenças cardiovasculares (como o AVC - Acidente Vascular Cerebral). Estima-se que exames de sangue estejam envolvidos em 70% dos diagnósticos.
Quanto tempo preciso ficar de jejum para o exame de sangue?
Para a maioria dos exames de sangue, a exigência do jejum caiu. Para entender a necessidade ou não de jejum, é preciso saber que os resultados dos exames se baseiam em informações científicas que indicam parâmetros de normalidade em determinada população, sob condições específicas. Os valores apurados no exame de uma pessoa são sempre comparados com esses dados.
A necessidade de jejum, tradicionalmente, sempre esteve vinculada a essas informações. Um exemplo disso é o exame de colesterol (perfil lipídico), conta Maria Carolina Tostes Pintão, líder médica da área de pesquisa e desenvolvimento do Laboratório Fleury Medicina. Ela diz que, antes, solicitava-se jejum de 12 horas, mas hoje admite-se a coleta sem jejum.
"Isso ocorreu porque, com o passar do tempo, descobriu-se que as dosagens do colesterol podem ser interpretadas e contribuir para o diagnóstico, independentemente do jejum prévio. Além disso, a qualidade técnica dos exames evoluiu e se tornou menos dependente das variações das amostras", afirma
Por outro lado, existem exames como o de glicemia cujo jejum pode alterar a interpretação porque a referência, em relação à dieta, ainda é importante. Assim, a coleta —com ou sem jejum— será determinada pelo médico de acordo com a informação que ele precisa obter. E o resultado, em geral, indicará padrões de normalidade - com e sem jejum.
O que acontece se eu não seguir as instruções de jejum?
Caso isso ocorra, a sua amostra, ao ser comparada com as referências, não estará dentro dos mesmos parâmetros que permitam avaliações seguras.
A depender do tipo de alimento ingerido, tais alterações serão maiores ou menores, mas podem levar a um "falso positivo" ou "falso negativo". Além disso, o exame ainda teria de ser repetido. A explicação é de Raílson Henneberg, professor da disciplina de estágio em análises clínicas do curso de farmácia da UFPR.
"Nos casos em que o acompanhamento médico é constante, o ideal é que os exames sigam sempre um mesmo padrão. Se eles sempre foram feitos em jejum, essas condições devem ser mantidas", sugere o especialista.
De quanto em quanto tempo devo fazer exame de sangue?
O consenso científico sugere que ele seja repetido a cada 3 anos, caso não haja suspeita de doenças. Contudo, quando o acesso à saúde é facilitado, uma avaliação a cada ano é o ideal.
Como é feita a coleta do exame de sangue?
Geralmente são venosas e obtidas por meio de uma agulha. Trata-se de um procedimento rápido. A maioria das pessoas sente apenas uma leve picada. Crianças precisam de uma técnica mais cuidadosa, o que inclui volumes de sangue menores, uso de tubos pediátricos e agulhas de menor calibre.
Já na população adulta e idosa, pode acontecer de as veias serem de difícil acesso, o que também requer ajuste para maior conforto do paciente.
Após a coleta, posso ter algum mal-estar?
O volume que é coletado é seguro e muito inferior àquele que poderia levar à queda de pressão. Mesmo assim, algumas pessoas podem ter tontura, náusea e até apresentar sudorese fria. Em geral, esses incômodos se relacionam à ansiedade.
Como interpretar os exames de sangue?
Esteja atento para o fato de que os valores de referência que você vê no laudo devem ser interpretados junto a outras informações, como seus sintomas, estilo de vida e histórico de saúde, além do exame físico. E essa tarefa cabe —exclusivamente— ao seu médico.
Gibran Avelino Frandoloso, generalista e professor da Escola de Medicina da PUC-PR afirma que, embora os dados comparativos que constam dos laudos sejam importantes, o controle de normalidade varia. "A depender de seu quadro, parâmetros considerados normais podem não ser os ideais para você", diz.
O médico acrescenta que o exame de sangue deve ter sempre função complementar, isto é, precisa ser consequente a uma hipótese diagnóstica. "Sem ela, ele pouco ajuda. A partir dele, saberemos se é necessário —ou não— ampliar o rastreio de doenças, o que, muitas vezes, tem sido feito sem necessidade, encarecendo o sistema público e suplementar", conclui.
Exames de sangue mais comuns (fonte: Fleury Medicina e Saúde)
Colesterol total/HDL/LDL/Triglicerídeos (perfil lipídico)
Para que servem: avaliam riscos cardiovasculares como AVC (Acidente Vascular Cerebral), doenças do coração e outras relacionadas e monitoram tratamentos;
Preparo: a depender do pedido médico e do laboratório o jejum pode ser de 0 a 14 horas em todas as faixas etárias. Nos cinco dias anteriores ao exame, dieta normal, exceção feita ao consumo de álcool nas últimas 72 horas. Evite exercícios físicos intensos nas 24 horas que o antecedem, mesmo que essa prática seja frequente.
Hemograma: para que serve, preparo e jejum
Para que serve: avalia todas as partes celulares do sangue: células vermelhas, brancas e plaquetas para identificar a presença de algum tipo de doença ou infecção;
Preparo: Não é necessário jejum. Mas alguns médicos podem solicitá-lo. Em geral, é de três horas. Recomenda-se evitar esforços físicos.
Glicose: para que serve, preparo e jejum
Para que serve: analisa a normalidade das taxas de glicose (açúcar do sangue) para investigar, diagnosticar e monitorar o diabetes, além da presença de hipoglicemia (baixas taxas de glicose) ou hiperglicemia (altas taxas de glicose);
Preparo: o jejum é necessário, a critério do médico. Para crianças de até 3 anos, em geral, são solicitadas 3 horas (no mínimo). Para os demais, o jejum não pode ser superior a 14 horas. Evite esforço físico antes da coleta e consulte seu médico para saber como proceder com medicações orais de uso contínuo ou insulina. A sugestão é que esses medicamentos sejam administrados após o exame, para reduzir o risco de hipoglicemia.
PCR (Proteína C Reativa): para que serve, preparo e jejum
Para que serve: identifica a presença de inflamação, determina sua gravidade e monitora tratamentos;
Preparo: não requer preparo.
Função do fígado (transaminases): para que serve, preparo e jejum
Para que serve: investiga e monitora doenças do fígado;
Preparo: não exige preparo.
Função da tireoide (TSH/T4 livre): para que serve, preparo e jejum
Para que serve: ajuda a verificar o funcionamento da glândula tireoide, a presença de doenças no local e monitora a resposta a tratamentos;
Preparo: ele é desnecessário, mas algumas medicações podem interferir em seus resultados. Informe ao médico e ao laboratório o uso de medicamentos como hormônios tireoidianos e amiodarona (antiarrítmico). A depender do fármaco usado, a coleta de sangue deve ocorrer antes da próxima dose ou, no mínimo, quatro horas após a sua ingestão. Caso você faça suplementação de vitaminas como a biotina ou outros nutrientes, eles devem ser suspensos três dias antes da coleta.
Função renal (ureia/creatinina): para que serve, preparo e jejum
Para que serve: investiga a presença de excesso de proteína na urina, o que ajuda a avaliar as funções e lesões nos rins;
Preparo: para a creatinina, não é necessário. Já para ureia, requer-se jejum de 3 horas.
Hepatite C: para que serve, preparo e jejum
Para que serve: detecta e define diagnóstico de infecção pelo vírus da hepatite.
Preparo: não requer preparo.
Fonte: Maria Carolina Tostes Pintão, líder médica da área de Pesquisa e Desenvolvimento e assessora médica da área de Hematologia e Hemostasia do Laboratório Fleury Medicina e Saúde; Raílson Henneberg, professor da disciplina de estágio em análises clínicas do curso de farmácia da UFPR (Universidade Federal do Paraná); Gibran Avelino Frandoloso, médico generalista e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), atua no Hospital Marcelino Champagnat (Grupo Marista), no HC-UFPR (Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná) e no Hospital Universitário Cajuru. Revisão técnica: Maria Carolina Tostes Pintão.