Ioimbina é remédio para disfunção erétil; entenda os efeitos colaterais
Descoberto na Europa, em 1890, a ioimbina começou a ser usada no tratamento da disfunção erétil em homens. A substância passou a ser isolada e produzida comercialmente na forma de cloridrato de ioimbina, em cápsulas ou como ingrediente de suplementos alimentares, para ter sua absorção facilitada no organismo.
O medicamento tem uma ação vasodilatadora periférica, com aumento nos níveis de noradrenalina e dopamina, e retarda o esvaziamento do fluxo sanguíneo no pênis
Saiba mais sobre a ioimbina abaixo.
Ioimbina: o que é, para que serve e como tomar
O que é a ioimbina?
A ioimbina, também conhecida como yohimbe, é um fármaco produzido a partir de um composto químico natural retirado das cascas de árvores encontradas na África: Corynanthe yohimbe, Pausinystalia johimbe e Rauwolfia serpentina.
Para que serve a iombina e como age?
O fármaco começou a ser usado no tratamento da disfunção erétil em homens, efeito que surge devido à sua ação vasodilatadora periférica, pelo aumento nos níveis de noradrenalina e dopamina, e também por retardar o esvaziamento do fluxo sanguíneo no pênis.
"É um mecanismo de ação complexo, que ainda precisa ser mais bem esclarecido", comenta João Ernesto de Carvalho, professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
No entanto, uma revisão de estudos publicada na revista Pharmacology & Therapeutics mostra que a substância é mais efetiva para disfunção erétil quando associada com outro fármaco que facilite a doação de um composto químico à base de oxido nítrico, que favorece a vasodilatação do local.
Quais as desvantagens do fármaco?
Sua estrutura química apresenta afinidade com receptores (proteínas) que não estão apenas relacionados com a função erétil, por esse motivo as chances de efeitos colaterais são maiores.
Além disso, existem opções de medicamentos mais eficientes e seguros para disfunção erétil como é o caso do citrato de sildenafila (Viagra).
Quais os efeitos colaterais da ioimbina?
Por atuar no sistema nervoso simpático, que está diretamente ligado ao mecanismo de luta e fuga, o fármaco influencia nos níveis de adrenalina e noradrenalina, desencadeando reações diversas como taquicardia, nervosismo, irritabilidade, desordens de ansiedade e até pânico nos pacientes com predisposição.
"Caso a pessoa tenha algum problema cardiovascular, a ioimbina pode ser um fator desencadeante de hipertensão ou arritmia", alerta professora doutora Cristiane do Socorro Ferraz Maia, que atua como docente de farmacologia e neurocientista da UFPA (Universidade Federal do Pará).
Portanto, a substância só deve ser usada com a recomendação de um médico habilitado, depois da realização de um check-up.
Outros eventos adversos que a substância pode causar são:
- náusea
- vômito
- tontura
- dor de cabeça
- insônia
- excitação
- piloereção (ereção dos pelos)
- coriza
- vertigem
- transpiração
- tremores
- formigamentos
- alteração da coordenação e estados dissociativos têm sido observados em casos graves
- redução do volume de urina
- tosse
- sinusite
- falta de ar (pelo estreitamento dos brônquios)
- manchas avermelhadas na pele
- rubor
A ioimbina tem interação com medicamentos?
Sim. Pacientes que fazem uso de medicamentos para problemas de arritmia cardíaca e hipertensão não devem consumir a ioimbina. "Caso contrário, pode haver uma queda muito brusca da pressão arterial ou até mesmo levar a uma hipertensão severa", alerta Carvalho.
Também entram na lista de interações medicamentosas alguns fármacos indicados para o tratamento da obesidade, da depressão e de outros transtornos psiquiátricos. Veja quais são eles:
- alfuzosina
- atenolol
- captopril
- enalapril
- clortalidona
- hidroclorotiazida
- furosemida
- espironolactona
- losartana
- carbamazepina
- inibidores da monoamino oxidase (classe de antidepressivos)
- amlodipina ou anlodipino
- verapamil
- clomipramina
- sibutramina
- antidepressivos
- clonidina
- metildopa
- minoxidil
Ioimbina pode matar?
Sim. Caso seja consumida sem orientação de um profissional habilitado, a ioimbina pode ser tóxica e levar o paciente a óbito, como mostra dois estudos de caso apresentados no Journal of Analytical Toxicology.
Pacientes que já possuem doenças cardíacas e renais pré-existentes também têm maior risco de complicações.
Quais as contraindicações da ioimbina?
Alérgicos ao cloridrato de ioimbina não devem usá-la, assim como pacientes com disfunção renal ou hepática, histórico de angina, hipertensos, cardíacos e portadores de doenças psiquiátricas. Também não é recomendado para pacientes idosos, uma vez que eles são mais sensíveis aos seus efeitos.
A ioimbina contribui para o desempenho no exercício?
Alguns trabalhos sugerem que o fármaco possa contribuir para o rendimento físico por atuar no sistema simpático, no entanto, mais estudos precisam ser realizados para confirmar essa hipótese e avaliar qual seria a dose segura.
A substância aumenta os níveis de testosterona e a libido?
Apesar de supostamente existir uma relação entre a ação do fármaco e a produção de hormônios sexuais (como a testosterona), não existe comprovação científica de que isso aconteça de fato no organismo. Portanto, seriam necessários novos estudos para provar esse efeito.
Ioimbina emagrece?
A ioimbina também modifica alguns sistemas de controle da ação de hormônios como serotonina, que atua no sistema de controle da fome. Assim, a substância poderia ser usada como ferramenta no processo de perda de peso, no entanto, não há estudo que confirme essa ação.
Outra possibilidade que alguns defendem é que a ioimbina poderia levar ao aumento da taxa metabólica e, assim, queimar mais calorias. Mas as pesquisas realizadas até o momento mostram que esse efeito é bastante tímido.
"Usar o fármaco com a proposta de acelerar o emagrecimento não se justifica, ainda mais por conta de seus efeitos adversos. Seria o mesmo efeito de se fazer uma caminhada, por exemplo, sem os riscos de suas reações adversas", coloca Maia.
É isso que mostra um artigo publicado no Israel Journal of Medical Sciences com pacientes que consumiram a substância por três semanas juntamente com uma dieta hipocalória em relação a pessoas que fizeram a mesma restrição sem usar a ioimbina.
"Se a pessoa não estiver em déficit calórico, com dieta e atividade física, não terá qualquer efeito", Juliana Rossi Di Croce, nutricionista clínica e sócia-diretora da Clínica Equilíbrio Nutricional.
Como é vendida a ioimbina?
Atualmente, apenas um medicamento para disfunção erétil produzido com a ioimbina tem liberação para ser comercializado nas farmácias tradicionais em comprimidos de 5,4 mg.
Também existe a prática clínica do uso off label, na qual medicamentos são indicados para outras finalidades terapêuticas que não estão registradas oficialmente junto à Anvisa, que só se justificaria em situações limites de risco de vida, após prescrição médica da substância a ser manipulada, por conta e risco do profissional da saúde.
A ioimbina pode ser consumida na gravidez e na lactação?
Não. Apesar de não haver estudos descrevendo a excreção da ioimbina no leite materno, a substância apresenta afinidade com a gordura, podendo afetar o bebê.
"Além disso, o fato de o medicamento apresentar a alteração do sistema simpático como principal mecanismo de ação, o consumo pode desencadear hipertensão na gestação, com riscos para o feto e para a grávida", alerta Maia.
Como tomar a ioimbina?
O único medicamento aprovado pela Anvisa orienta em sua bula que, para tratar a disfunção erétil, deve-se consumir 1/2 comprimido (2,7 mg), três vezes ao dia. Posteriormente, a dose deve ser aumentada para um comprimido três vezes ao dia, sendo que o tratamento não deve ser superior a 10 semanas.
O que devo fazer quando me esquecer de consumir o medicamento?
Deve-se tomar a dose deste medicamento assim que lembrar desde que não esteja perto do horário de tomar a próxima dose. Caso contrário, deve-se pular a dose esquecida e tomar a próxima, continuando normalmente o esquema de doses recomendado pelo seu médico. Jamais use o medicamento em dobro para compensar doses esquecidas, para evitar o risco de intoxicação.
Fontes
Cristiane do Socorro Ferraz Maia, professora doutora que atua como docente de farmacologia e neurocientista da UFPA (Universidade Federal do Pará); João Ernesto de Carvalho, professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Juliana Rossi Di Croce, nutricionista clínica e sócia-diretora da Clínica Equilíbrio Nutricional. Revisão técnica: Cristiane do Socorro Ferraz Maia.
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