Norfloxacino é menos receitado por causa de efeitos; saiba para que serve
O norfloxacino é um antibiótico usado principalmente para tratar infecções que envolvem o trato urinário. Contudo, os efeitos colaterais comuns ao medicamento fizeram-no aos poucos deixar de ser prescrito por médicos.
Abaixo, entenda mais sobre as funções deste medicamento e quando ele é uma opção no tratamento de infecções.
Norfloxacino: para que serve, efeitos e como tomar
O que é norfloxacino?
Trata-se de um antibiótico da classe das quinolonas, mais especificamente das fluoroquinolonas, com amplo espectro de cobertura para tratar infecções causadas por vários tipos de bactérias.
Para que serve o norfloxacino?
Segundo a bula, o norfloxacino pode ser usado para tratar infecções que envolvem o trato urinário —cistite, pielite, cistopielite, pielonefrite, prostatite crônica, epididimite— e aquelas associadas com cirurgia urológica, bexiga neurogênica ou nefrolitíase.
Assim como gastroenterites bacterianas agudas causadas por germes sensíveis, febre tifoide, uretrite, faringite, gonorreia, proctite ou cervicite gonocócicas causadas por cepas de Neisseria gonorrhoeae. No entanto, devido ao alto risco de apresentar efeitos colaterais em cerca de 40% dos usuários, ele deixou de ser um medicamento prescrito habitualmente.
Quais são os efeitos colaterais do norfloxacino?
Os efeitos colaterais mais comuns relacionados ao medicamento são as náuseas, mas outros sintomas também podem surgir como:
- azia
- boca seca
- cólicas abdominais
- creatinina sérica elevada
- diarreia
- disfagia
- dispepsia
- dor pélvica
- elevação de ALT (TGP)
- elevação de AST (TGO)
- flatulência
- fosfatase alcalina elevada
- indigestão
- LDH alterada
- obstipação
- vômitos
Outros distúrbios considerados incomuns, mas que também podem surgir são:
- aneurisma
- anorexia
- ansiedade
- cefaleia
- convulsões
- depressão (com comportamentos de autoagressão e ideação suicida)
- disgeusia
- dissecção aórtica e alterações das válvulas cardíacas
- distúrbio somatossensorial
- distúrbios do sono
- eosinofilia
- gosto amargo
- hipoestesia
- infecção vaginal por candidíase
- leucopenia
- nervosismo
- neutropenia
- parestesia
- tontura
Já entre os efeitos colaterais classificados como raros e muito raros relacionados ao norfloxacino estão:
- agitação
- agranulocitose
- alucinação
- anafilaxia
- anemia hemolítica, algumas vezes associada à deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase
- angioedema
- artralgia
- artrite
- confusão mental
- creatina quinase (CK) elevada
- dermatite esfoliativa,
- dispneia
- distúrbios visuais
- epífora
- eritema multiforme
- espasmos musculares
- euforia
- exacerbação de miastenia grave
- fotossensibilidade
- hematoma
- hepatite
- hiperglicemia
- hipersensibilidade
- hipoglicemia
- icterícia
- icterícia colestática
- insônia
- insuficiência renal
- mialgia
- mioclonia
- necrólise epidérmica tóxica
- nefrite intersticial
- neuropatia periférica dos sistemas sensoriais ou sensório-motores
- pápulas com vasculite
- pensamentos paranoicos
- perda de audição pesadelos
- petéquias
- polineuropatia,
- ruptura de tendão
- síndrome de Guillain-Barré
- síndrome de Stevens-Johnson
- tendinite
- tremores
- trombocitopenia
- zumbido
Como tomar o norfloxacino?
Somente o médico poderá orientar a melhor maneira de usar o medicamento, depois de avaliar o antibiograma e o risco-benefício relacionado ao paciente.
O tempo de uso varia para cada quadro de acordo com a gravidade e o local da infecção.
O norfloxacino seria indicado para quadros de infecções leves?
Devido ao uso do medicamento estar associado à ocorrência de reações adversas raras, graves, incapacitantes e potencialmente irreversíveis, envolvendo tendões, músculos, articulações e o sistema nervoso central, o medicamento passou a ser prescrito de maneira muito ponderada e restrita:
"Quando outros antibióticos não se mostram adequados, como no caso de alergias, ou em quadros mais graves, uma vez que dá uma maior cobertura a diferentes bactérias, desde que o paciente seja muito bem avaliado e não apresente riscos de complicação por alguma outra condição preexistente", explica Andrea Pio, nefrologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretora secretária geral da Sociedade Brasileira de Nefrologia.
Trabalhos recentes mostraram que essa classe de medicamentos apresenta riscos de aneurisma e dissecção aórtica. Isso fez com que órgãos relacionados à saúde pública, como FDA, nos Estados Unidos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Saitária), aqui no Brasil, e a European Medical Agency emitissem comunicados orientando a suspensão ou restrição do uso devido aos riscos e efeitos colaterais do antibiótico.
Outro motivo que forçou o norfloxacino a deixar de ser a primeira opção de tratamento foi o fato de pertencer à classe das quinolonas, consideradas grandes responsáveis por contribuir para o aumento da taxa de resistência bacteriana na população, como mostra um trabalho publicado na Interdisciplinary Perspectives on Infectious Disease.
"Estima-se que, na grande São Paulo, 1 em cada 3 pessoas já tem bactérias resistentes a essa classe de antibiótico", alerta Truzzi.
Esse é um dado preocupante, pois, ao desenvolver resistência ao medicamento, o tratamento com antibióticos fica limitado, possibilitando que quadros de infecções simples se tornem graves e levem o paciente a óbito.
"Nas últimas três décadas, tivemos um uso abusivo das quinolonas para tratar infecções do trato urinário, mesmo em quadros mais simples ou de pequena gravidade. Hoje sabemos que as primeiras opções para esses quadros (como as cistites) devem ser drogas com espectro de atividade mais específico, caso da fosfomicina e da nitrofurantoína", explica Irna Carla Rosário Souza Carneiro, docente da disciplina de doenças infecciosas e parasitárias da UFPA (Universidade Federal do Pará), presidente da Sociedade Paraense de Infectologia e membro da diretoria da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Daí a importância de o profissional solicitar o exame de urocultura, para identificar a bactéria causadora, e o antibiograma, que vai testar a sensibilidade do micro-organismo aos vários medicamentos disponíveis para considerar aquele que tratará especificamente o micro-organismo alvo, e não um amplo espectro como o norfloxacino.
Como o medicamento age?
O norfloxacino atua especificamente em uma enzima essencial que está envolvida na replicação do DNA das bactérias. "Dessa maneira o medicamento impede a replicação desses micro-organismos, permitindo ao organismo eliminá-los", explica Carneiro.
Quem não deve tomar o norfloxacino?
Por conta das altas chances de apresentar efeitos colaterais, o norfloxacino não é indicado para:
- crianças e adolescentes, já que a segurança e eficácia do comprimido não foram documentados nesses públicos.
- pacientes idosos acima de 60 anos, pois, além dos riscos vasculares, pode causar confusão mental e delírios, assim como acontece com outros medicamentos da mesma classe.
- usuários de corticosteroides, uma vez que a combinação aumenta o risco de rompimento de tendões.
- portadores de disfunção renal, que é uma das vias de eliminação do medicamento.
- transplantados de órgãos sólidos (coração, pulmão, rim, pâncreas e fígado).
- pacientes com histórico de doença vascular como aneurisma da aorta.
- pacientes hipertensos ou com histórico de arritmias cardíacas.
- pacientes com certas condições genéticas como síndrome de Marfan e síndrome de Ehlers-Danlos.
- pacientes com hipersensibilidade a qualquer componente do produto, como os corantes azóicos, ou antibacterianos quinolônicos quimicamente relacionados.
- pacientes com anúria (baixa produção de urina).
- pacientes com histórico de tendinites ou tendões rompidos com correlação ao uso de fluoroquinolonas.
- pacientes com hipersensibilidade ao ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatórios e analgésicos.
- pacientes que fazem uso de medicamentos psiquiátricos.
- pacientes com histórico de convulsões ou predisposição a elas.
Quais são as apresentações do norfloxacino?
O medicamento é comercializado em comprimidos com a dosagem de 400 mg. Ele também existe na forma injetável para uso veterinário, que também deveria ser racionalizado para evitar que bactérias resistentes ao medicamento sejam replicadas. Farmácias de manipulação ainda disponibilizam o norfloxacino para uso tópico, que também deve ser evitado pelo mesmo motivo.
Assim como os demais antibióticos, desde 2010 o norfloxacino passou a ser vendido apenas com a apresentação de receita médica.
O medicamento apresenta interação com os alimentos?
Sim. Por esse motivo, o norfloxacino deve ser ingerido com um copo de água e, no mínimo, uma hora antes ou duas horas após o consumo de qualquer alimento, inclusive leite. Caso contrário, os alimentos retardarão a absorção da droga.
O mesmo acontece se consumi-lo com antiácidos à base de hidróxido de alumínio ou de magnésio, ranitidina, sulfato ferroso, resinas trocadoras de íons que contenham alumínio e por outras drogas que reduzem os movimentos do intestino ou retardam o tempo de esvaziamento gástrico.
O medicamento também interfere no metabolismo da cafeína, podendo resultar em acúmulo dela no plasma quando consumida junto com o fármaco.
O norfloxacino pode ter interação com outros remédios?
Sim. Algumas interações medicamentosas conhecidas e que devem ser evitadas são:
- probenecida - pode levar à diminuição da excreção urinária.
- ciclosporina, clozapina, ropinirol, tacrina tizanidina ou com teofilina - o norfloxacino pode elevar os níveis séricos dessas substâncias, exigindo que esse paciente seja monitorado.
- o fármaco também pode potencializar os efeitos de anticoagulantes orais, incluindo varfarina ou seus derivados e fluindiona ou agentes similares.
- em raros casos, com gliburida (agente sulfonilureia) pode levar à hipoglicemia grave.
- a administração com anti-inflamatórios não-esteroidais pode aumentar o risco de estimulação do sistema nervoso central e convulsões.
- em combinação com fenbufeno, pode levar a convulsões.
- suplementos de ferro ou zinco e polivitamínicos que os contenham em sua formulação;
- antiácidos ou sucralfato;
- didanosina;
- quinidina;
- procainamida;
- sotalol;
- amiodarona;
- cisaprida;
- eritromicina;
- antipsicóticos;
- antidepressivos tricíclicos.
O que fazer se eu esquecer de tomar uma dose?
Neste caso, deve-se tomar a dose seguinte como de costume, na hora regular, sem duplicar a dose.
Grávidas e lactantes podem tomar o norfloxacino?
Não é recomendado que a mulher use este medicamento nessas fases da vida. Isso porque a segurança do uso do medicamento não foi estabelecida nesses grupos. Portanto, não deve ser uma opção de tratamento.
Estudos em animais demonstram que substâncias do norfloxacino podem causar danos na cartilagem articular no animal em crescimento. Apesar de não existir análises similares em humanos, tais efeitos indesejáveis não podem ser excluídos.
Outro trabalho que investigou a presença de norfloxacino no leite humano não levou em conta a dose usual de 400 mg. Então, mesmo que o fármaco não tenha sido detectado no leite materno, seria necessário um estudo com a mesma dose para averiguar se realmente ele não é passado pelo alimento.
O fármaco pode ser usado por crianças e adolescentes?
A segurança do uso do norfloxacino por crianças e jovens até 18 anos não está estabelecida, portanto, o medicamento também não deve ser usado por esses públicos.
O medicamento está incluído na Farmácia Popular?
Não. O medicamento não está disponível na Farmácia Popular nem consta na Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais). Para ser comprado, é necessário apresentar a receita médica.
O que fazer quando se esquecer de tomar o remédio?
Assim que lembrar, o paciente deve tomá-lo e reiniciar o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro para compensar aquela que foi esquecida. Para não esquecer, vale colocar um alarme para tocar na hora que deve consumi-lo.
Fontes
Andrea Pio, nefrologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretora secretária geral da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia); Irna Carla Rosário Souza Carneiro, docente da disciplina de doenças infecciosas e parasitárias da UFPA (Universidade Federal do Pará), presidente da Sociedade Paraense de Infectologia, e membro da diretoria da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia); e José Carlos Truzzi, urologista da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e chefe do setor de urologia do Fleury Medicina e Saúde.
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