Palatinose dá energia para o treino, mas não aumenta força e pode engordar
Os carboidratos (açúcares) são a principal fonte de energia usada pelos músculos durante os exercícios físicos e grandes responsáveis por manter o atleta em atividade. Porém, dependendo do índice glicêmico, muitas fontes do nutriente podem gerar um pico de insulina no organismo que prejudica a queima de gordura e até favorece o ganho de peso.
Isso deu espaço para opções de carboidrato baixo índice glicêmico ganharem território no mercado de suplementos esportivos, como a palatinose, que libera gradativamente suas doses de glicose (açúcar) no sangue.
Com sabor e aparência semelhantes ao do açúcar de mesa (e inclusive as mesmas calorias), a palationose tem um poder adoçante cerca de 50% menor e um valor de mercado bastante alto que chega a ser 10 vezes maior do que outros suplementos fonte de carboidratos, como a dextrose e a maltodextrina.
A seguir, saiba mais sobre esse produto e avalie se realmente vale o investimento.
Tire suas dúvidas sobre a palatinose
O que é a palatinose?
Palatinose (ou isomaltulose) é o carboidrato derivado do açúcar da beterraba, muito consumido na Europa. A substância é resultado de um processo enzimático que altera as moléculas da sacarose, gerando em um açúcar com as mesmas calorias de qualquer carboidrato, mas com lenta absorção no intestino. Portanto, seu diferencial é ter um menor índice glicêmico (IG) ? enquanto o IG da palatinose é de 32, o da sacarose (o açúcar branco, de mesa) é de 100.
Isso quer dizer que a substância evita um aumento rápido da glicemia que causaria picos de insulina no organismo ?hormônio que incentiva o estoque de gordura corporal e também é responsável por aquela vontade de comer doce horas depois de uma refeição, quando seus níveis despencam.
Quais são os benefícios da palatinose para o treino?
Como todo carboidrato, a substância serve como combustível durante a atividade física. No entanto, devido à absorção mais lenta e gradativa, a palatinose fornece energia de forma constante por um tempo mais prolongado. Por isso, acaba sendo uma opção interessante para esportistas que praticam atividades moderadas de longa duração (acima de uma hora e meia), como maratonas.
Segundo os nutricionistas consultados pelo VivaBem, o suplemento pode não ser vantajoso para praticantes de atividades como musculação ou outros exercícios que duram menos de uma hora. Isso porque, além de o suplemento ter custo alto e não trazer benefícios para essas modalidades, a orientação é preferir fontes de carboidratos que são mais nutritivas e que ofereçam vitaminas, minerais e fibras ao organismo ?ou seja, alimentos de verdade como frutas, batata-doce, pães integrais etc.
A palatinose melhora o desempenho físico?
Sim, pesquisas mostram que o suplemento pode contribuir para o rendimento em exercícios de longa duração. Um estudo alemão publicado na revista Nutrients, por exemplo, mostrou que ciclistas que consumiram palatinose tiveram uma melhor performance em um treino de 90 minutos em comparação a quem ingeriu maltodextrina.
O maior diferencial aconteceu nos cinco minutos finais do treino, provavelmente, por conta da absorção mais lenta da latinose, que promoveu um equilíbrio no nível de glicose no sangue, possibilitando aos atletas "um gás a mais" nos últimos momentos da atividade. Em teoria, a substância também contribuiria para preservar o carboidrato estocado nos músculos (glicogênio), adiando a fadiga e ajudando o atleta a permanecer mais tempo em atividade. Mas ainda são necessárias mais evidências científicas para afirmar isso.
Quanto devo consumir de palationse?
Em geral, são recomendadas 15 g de palatinose aos esportistas que buscam condicionamento físico e 30 g aos atletas de alta performance.
Quando e como consumir?
A substância deve ser ingerida de uma única vez, cerca de 30 minutos antes do início da atividade física, misturada bebidas como água, suco, água de coco ou a outros suplementos, como o whey protein.
Em geral, não é aconselhado que ela seja ingerida durante a atividade física devido à sua digestão lenta, que poderia prejudicar o desempenho do atleta. Mesmo assim, alguns nutricionistas esportivos podem optar por misturar doses baixas de palatinose com outros tipos de carboidrato.
A palatinose aumenta a força e faz ganhar músculos?
Não. A substância não é capaz de deixar a pessoa mais forte, apenas fornece o combustível (energia) necessário para o esportista treinar bem. O ganho muscular é consequência de um plano de treino específico para isso, repouso adequado e o consumo de proteínas e calorias na medida.
Por outro lado, a palatinose poderia evitar a perda de massa magra (catabolismo) em pessoas que treinam com baixo estoque de glicogênio (carboidrato estocado nos músculos), evitando que o corpo use os músculos como fonte de energia. Mas qualquer outra fonte desse nutriente —inclusive alimentos — faria esse papel.
Palatinose ajuda a emagrecer?
Esse suplemento não contribui diretamente para o emagrecimento, afinal, ele é um açúcar! A substância também não tem um grande efeito sobre a queima de gordura corporal durante a atividade física, como muitos imaginam. No final das contas, o déficit calórico (ingerir menos calorias do que seu corpo gasta) continua sendo a maneira mais efetiva de obter o emagrecimento. Então, não adianta consumir a palatinose, treinar bem por horas e, depois, fazer refeições calóricas.
Por outro lado, o suplemento pode ajudar a evitar que a pessoa sinta vontade de comer doce ao manter os níveis glicêmicos controlados ao longo do dia ?e isso pode favorecer a manutenção de uma dieta saudável.
Palatinose engorda?
A substância tem as mesmas calorias do açúcar que usamos para adoçar sucos e chás ?4 kcal por grama ?, portanto deve ser igualmente levada em conta no total de calorias consumidas no dia. Caso a ingestão calórica diária seja maior do que o gasto, com certeza, a pessoa vai ganhar peso.
A substância tem algum benefício além do esporte?
Assim como acontece com os demais carboidratos, a palatinose contribui para a melhora do humor e do funcionamento cognitivo, como mostra uma pesquisa publicada no European Journal of Nutrition. Isso porque o cérebro precisa de carboidrato para cumprir suas funções adequadamente.
A substância ainda parece oferecer menos risco para o surgimento de cáries. De acordo com algumas análises, em comparação a outros carboidratos, ela produz menos ácidos responsáveis pela desmineralização dos dentes que leva ao problema. A palatinose ainda pode ajudar a prevenir a hipoglicemia reativa, queda abrupta da glicose no sangue que acontece com algumas pessoas após algum tempo de atividade física e causa, entre outros sintomas, mal-estar, sonolência e tontura.
Qual é melhor: palationse ou maltodextrina?
Não é possível afirmar que um suplemento seja melhor do que outro. Afinal, ambos carboidratos cumprem o papel de fornecer energia para a atividade física. A diferença é a maneira como elas são absorvidas no organismo: a maltodextrina, por exemplo, oferece energia imediata e deve ser consumida antes do treino e em goles frequentes durante o exercício. Já a palatinose é ingerida de uma vez só, geralmente, cerca de 30 minutos antes do início da atividade física.
Porém, a maltodextrina tem a vantagem de ser muito mais estudada, com orientações de consumo bastante claras e seguras para os atletas.
Pessoas com diabetes podem consumi-la?
Por não causar pico de glicose no sangue, a palatinose pode ser indicada para esportistas com diabetes, sempre com orientação de um nutricionista e de um médico. Mesmo assim, é importante que o paciente faça o controle da glicemia antes, durante e após a atividade física.
A palatinose tem efeito colateral?
O consumo de doses acima de 50 g pode levar a um quadro de diarreia, já que esse carboidrato tem o perfil de atrair água para o intestino. O suplemento também pode causar enjoo em algumas pessoas devido à digestão lenta. Por isso é importante ingeri-lo na fase de treinos para acostumar a digestão e evitar surpresas indesejáveis nos dias de prova.
O uso contínuo do suplemento pode prejudicar a saúde?
Não existem estudos que demonstrem algum efeito deletério da palatinose consumida por um longo período. Mas é importante lembrar que, por se tratar de um açúcar, a substância possui calorias e pode contribuir para o aumento de peso em uma dieta não equilibrada. E o acúmulo de gordura, sim, traz prejuízos ao corpo.
Palatinose contém glúten?
Não. Ela é produzida a partir do açúcar da beterraba, vegetal que não possui glúten. De qualquer maneira, é sempre importante verificar essa informação no rótulo do suplemento, já que o produto pode sofrer contaminação cruzada se for fabricado ou embalado nos mesmos equipamentos usados para grãos que possuem glúten, como trigo, centeio e cevada.
Grávidas e mulheres que amamentam podem ingerir o suplemento/?
Apesar de não haver contraindicação, a palatinose não deve ser consumida por gestantes ou mulheres que estejam amamentando, assim como acontece com qualquer outro suplemento esportivo. O ideal é que elas tenham uma alimentação equilibrada com alimentos naturais e usem suplementos vitamínicos indicados exclusivamente para a fase.
Quem tem pressão alta pode consumir palatinose?
Também não existe contraindicação no consumo da palatinose por quem sofre de hipertensão. Mas é importante reforçar que apenas quem pratica exercício físico moderado ou intenso acaba tendo indicação para ingerir o suplemento, afinal, ele é um "açúcar caro" para ser consumir sem uma necessidade real.
Quem não faz exercício pode consumir a palatinose?
O suplemento não é vantajoso para quem é sedentário. Esse carboidrato pode (e deve) ser facilmente substituído por alimentos com o mesmo perfil glicêmico e que sejam ricos em vitaminas, minerais e fibras. Busque sempre um nutricionista para orientar uma dieta que atenda seus objetivos.
Fonte: Guilherme Cysne Rosa, nutricionista esportivo do Avaí Futebol Clube, professor de pós-graduação da disciplina de metabolismo de carboidratos no esporte da VP Centro de Nutrição Funcional; Guilherme Artioli, professor da Escola de Educação Física e Esporte e coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP (Universidade de São Paulo); e Braian Cordeiro, nutricionista esportivo e coordenador da pós-graduação da VP Centro de Nutrição Funcional.
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