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Parto normal: por que o método é visto como ideal para mães e bebês?

Parto normal é o mais indicado atualmente para a maioria das mulheres Imagem: iStock

Eligia Aquino Cesar

Colaboração para VivaBem

03/01/2022 04h00

Uma das grandes preocupações de uma mulher quando engravida é decidir por qual via seu bebê nascerá. Embora no Brasil o número de cesáreas ainda seja maior do que os 15% recomendados pela OMS (Organização Mundial de Saúde), é preciso salientar que uma parcela cada vez maior de mulheres tem, ao menos, se interessado por informações e cogitado se submeter ao parto normal, caminho que foi evitado por muitas gestantes ao longo dos anos.

Há várias razões que levam mulheres a recusarem dar à luz na via vaginal. Uma das mais citadas é o medo das dores do trabalho de parto, que pode ser causado por relatos que descrevem esse momento como bastante incômodo. Em contrapartida, é fato também que a recuperação acontece de maneira muito rápida: prova disso é que mães que tiveram seus filhos por essa via tendem a receber alta no dia seguinte ao parto.

É interessante notar também que muitas mulheres que tiveram os filhos por parto normal descrevem que assim que ouviram o choro ou viram o bebê pela primeira vez esqueceram quase automaticamente as dores que estavam sentindo nos instantes anteriores.

Outro motivo que afasta as mulheres do parto normal, além da falta de apoio familiar e, em alguns casos, da equipe médica, é a desinformação. Com o objetivo de orientar futuras mamães, respondemos diversas dúvidas abaixo.

Parto normal: o que é, prós e contras e mais

O que é um parto normal? Como ocorre?

O parto normal é aquele no qual o bebê nasce por via vaginal, processo que pode acontecer naturalmente ou por indução. Ele se inicia com contrações uterinas ritmadas, que duram entre 40 segundos e um minuto cada, cujo intervalo vai diminuindo até chegar à frequência de uma a cada três ou cinco minutos.

Esse processo estimula a dilatação do colo do útero, que quando está pronto para o parto chega a até dez centímetros, e é fundamental para que o bebê se desprenda e vá descendo pela vagina até nascer. A recomendação é que o parto normal seja feito em ambiente hospitalar, com assistência médica de obstetra, anestesista e de uma equipe de enfermeiras obstetrizes.

Com quantas semanas de gestação o bebê costuma nascer em parto normal?

Normalmente, o bebê é considerado maduro a partir de 37 semanas, ou seja, a partir desse momento não é mais considerado prematuro. Ele pode nascer, portanto, quando a mulher estiver entre a 37ª e a 41ª semana de gestação.

Quais as vantagens do parto normal?

Há muito mais fatores favoráveis do que desfavoráveis relacionados ao parto normal. São eles: a criança vem ao mundo no tempo dela; a recuperação materna costuma ser rápida; a ocitocina —também conhecida como o hormônio do amor— que é liberada durante as contrações uterinas até o nascimento do bebê faz aumentar o vínculo entre mãe e filho; a descida do leite acontece em tempo menor e o contato do bebê com a microbiota da mãe no nascimento influenciará positivamente o sistema imunológico do recém-nascido.

Além disso, o mecanismo do parto leva à compressão dos pulmões, que faz o líquido que está dentro deste órgão sair de forma adequada, levando o bebê a respirar corretamente.

Quais as desvantagens do parto normal?

Já o principal contra é quando o parto normal é indicado incorretamente, em um cenário no qual a mãe, o bebê ou ambos se encontram em más condições de saúde, por exemplo, quadro que pode acarretar riscos ao bem-estar deles. Outro fator muito importante é pensar que, se a mulher não se preparar corretamente para o parto normal, pode acontecer que a saída do bebê cause algumas lesões ligamentares e musculares na região genital inferior, fazendo com que após algum tempo a paciente passe a apresentar algum problema na área e incontinência urinária.

Essa situação pode ser minimizada ou até mesmo evitada se durante o pré-natal, e também após o parto, forem realizadas sessões de fisioterapia para fortalecimento do trato genital.

Qual é a diferença do parto normal para a cesárea?

A principal diferença é que no parto normal o bebê nasce por via vaginal. Já na cesárea é necessária uma cirurgia feita na parte inferior do abdome, que deveria acontecer apenas sob recomendação médica.

Como é a dor do parto normal? 

Embora seja difícil descrever, já que há mulheres mais resistentes do que outras, a dor do parto pode ser comparada à dor de cólica menstrual multiplicada por cem.

Como saber se a gestante tem passagem para parto normal?

Só é possível obter essa informação na hora do nascimento, ao avaliar se o bebê cabe na bacia da mãe quando ela está em dilatação total. Anteriormente, no pré-natal, só conseguimos dar esse diagnóstico se houver algum problema preexistente, como por exemplo, um tumor na bacia ou fratura que na consolidação apresentou alguma intercorrência.

Por que o parto normal é visto como ideal para a maioria das mulheres?

Porque é o parto mais fisiológico, que todos deveriam ter por ser aquele que a natureza fez para a mulher. Biologicamente, se não houver nenhum problema de saúde, o corpo da mulher é feito para parir. A cesariana é apenas um instrumento para ajudar a gestante a dar à luz em segurança caso haja intercorrências que impossibilitem o parto normal.

Há impeditivos para o parto normal? Quais?

Sim. Os impeditivos mais comuns para um parto normal são: sofrimento fetal; não haver passagem na bacia materna; placenta baixa; descolamento da placenta; bebê muito grande e presença de mecônio no líquido amniótico.

Quanto tempo dura um parto normal?

O tempo de duração de um parto normal varia bastante, mas normalmente, na primeira gestação, a partir do momento que a mulher entra em trabalho de parto franco, pode demorar de 12 a 14 horas para dar à luz.

O que dá para fazer para acelerar o parto normal?

Há um gráfico chamado partograma no qual é registrado a altura da cabeça do bebê e a dilatação da gestante. Se esse gráfico mostrar informações que fujam do esperado, pode ser que haja necessidade de indução do parto com uso de medicações específicas para isso.

Além disso, há estímulos naturais que colaboram para o trabalho de parto, tais como o spinning babies —exercícios feitos durante a gestação com foco na musculatura pélvica, que preparam a mulher para o parto— banhos quentes, massagem e exercícios usando bolas suíça, entre outras coisas.

Quanto custa um parto normal?

Pensando só no parto —excetuando despesas com intercorrências, como por exemplo, a necessidade do bebê ficar na incubadora— é importante salientar que no SUS (Sistema Único de Saúde) todo o processo é feito gratuitamente. Porém, os hospitais mais caros de São Paulo cobram em média de R$ 10 mil a R$ 40 mil pelo procedimento. Já em relação à equipe médica o preço varia bastante, podendo custar, de uma forma geral, entre R$ 5.000 e R$ 50 mil.

Até quando a gestante pode manter relações sexuais antes do parto?

Se estiver tudo bem, não há problema algum em manter relações sexuais até o nascimento do bebê. Existem, inclusive, estudos que apontam que como fazer sexo libera ocitocina, há pacientes que praticam o ato durante o trabalho de parto para melhorar e adiantar o processo. Evidentemente, gestantes que estejam com alguma infecção vaginal, dor ou sangramento não devem fazer isso.

Quantos dias após o parto normal a mulher pode ter relações sexuais?

Vai depender muito do que tiver acontecido. Se aconteceu laceração ou ela precisou de pontos, é preciso esperar essa cicatrização. Caso contrário, assim que parar o sangramento e ela quiser, não há contraindicação.

Existe cicatrização e pontos no parto normal?

Depende do que acontecer durante o nascimento do bebê. Há partos normais que acontecem sem deixar cicatrizes. Já em outras situações há lacerações que cicatrizam sozinhas, sem precisar de pontos. Porém, se houver algum tipo de lesão na qual se faça necessário dar pontos, a cicatrização nesse caso acontece num prazo médio de 20 a 35 dias, com um nível de dor que costuma ser baixo.

Quais cuidados e recomendações devem ser seguidos após o parto normal?

De uma forma geral, a recuperação do parto normal é bem tranquila, sem muitas recomendações, especialmente se a mulher não precisou de pontos devido à laceração vaginal. A puérpera deve apenas abandonar as atividades físicas nos primeiros dias, mas manter-se ativa, pois isso ajuda a diminuir o risco de trombose. Outro cuidado é ficar atenta a sangramentos anormais. Em caso de dúvida, procure um médico.

Como fica a parte íntima depois do parto normal? Há alguma alteração?

Se não houver alguma lesão muito forte causada pelo parto, a região vaginal volta ao normal na grande maioria das vezes. Porém, existem tratamentos caso a mulher sinta algum incômodo em relação às próprias partes íntimas.

Quais os riscos do parto normal para a mãe?

O principal risco é o sangramento excessivo que, se não for identificado, controlado e tratado rapidamente, pode levar a mãe a uma hemorragia que, em casos extremos, pode ser fatal.

Como é a recuperação após o parto normal?

Se não houve intercorrência alguma, na grande maioria das vezes a recuperação é ótima e rápida. No dia seguinte ela já está andando, sem dor nem incômodo algum.

A paciente deve se movimentar e ficar ativa, evitando atividade física pesada nesse período. Além disso, é recomendado que ela mantenha uma boa alimentação, repouse sempre que possível e evite manter relações sexuais nos primeiros 30 ou 40 dias após o parto.

Quais sintomas após o parto normal devem fazer a mulher procurar ajuda?

Se a puérpera sentir febre, dor abdominal, dor forte na região do períneo, sintomas de infecção e, principalmente, sangramento intenso, deve procurar um médico imediatamente.

O que é episiotomia? Quando ela é indicada?

A episiotomia é um corte feito na região do períneo (localizada entre a vagina e o ânus) com o intuito de facilitar o trabalho de parto normal. Embora até alguns anos atrás esse procedimento cirúrgico tenha sido bastante comum, atualmente ele é indicado somente em casos extremos, como quando o obstetra nota que a laceração causada pela saída do bebê será maior do que o corte, podendo causar problema à bexiga ou ao reto da paciente futuramente.

Fonte: Mariana Rosário, ginecologista e obstetra no Hospital Albert Einstein (SP), e Renato Gil Nisenbaum, ginecologista e obstetra que atua nos hospitais Albert Einstein, Samaritano e São Luiz Itaim e na clínica Arium Saúde, todos em SP

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