Posso cortar remédios no meio? E guardar fora da caixa? Tire dúvidas
Em quase todas as casas, há uma caixinha de remédios com opções que aliviam queixas comuns, como dores de cabeça, ou algumas cápsulas que sobraram da última vez que alguém ficou doente. Embora o conhecimento sobre como utilizar as pílulas, cápsulas e xaropes passem de uma geração para a outra (quem nunca ouviu um conselho de avó?), nem sempre os hábitos são seguros.
O estoque em caixinhas de plástico, muito usado por idosos, por exemplo, não é recomendado, por deixar as drogas expostas.
Como tomar, guardar e descartar medicamentos
Posso cortar remédio? E triturar?
Sem a recomendação de um médico ou farmacêutico, o melhor é não cortar ou triturar.
Os revestimentos criados pela indústria farmacêutica passam por testes para proteger os ativos das drogas. Quando são expostos ao ambiente, esses remédios já passam a sofrer as ações do oxigênio, luz e umidade, e podem ter a eficácia diminuída. Além disso, alguns comprimidos são de liberação lenta no organismo, e o revestimento serve justamente para que o efeito seja feito no tempo correto.
Outro problema é a dosagem. Ao cortar um comprimido no meio, seja por dificuldade de engolir ou por pensar que a dor "não é tão forte", é difícil garantir uma dosagem que seja efetiva para sua idade e peso, já que o comprimido foi idealizado e testado para garantir eficácia quando consumido inteiro.
E se o comprimido tiver sulco, posso cortá-lo?
Muitos dos comprimidos sulcados são considerados apropriados para a partição. No entanto, recomenda-se que alguns tipos não sejam divididos por possíveis reações incertas após a partição ou ineficácia na ação de liberação lenta das substâncias no organismo.
Na dúvida, mesmo com sulco, para ter certeza se a droga permite repartição e que você está consumindo dose certa para sua necessidade, o melhor é só cortar com orientação do médico ou farmacêutico.
O que eu faço se não consigo engolir?
Se você já sabe que tem essa dificuldade, fale para o médico ou farmacêutico antes de comprar o remédio. Vários medicamentos têm apresentação em gotas ou líquido, ou podem ser formulados em farmácias de manipulação.
Posso tomar o remédio com leite, chá ou outros líquidos?
O ideal é tomar os medicamentos sempre com um copo de água. Isso por que o princípio ativo pode interagir com componentes encontrados em bebidas como chás, leite, refrigerantes e café. Ao receber a indicação de um remédio, é importante que o paciente questione o médico ou farmacêutico se podem ocorrer interações.
Produtos lácteos como leite, iogurte e queijo, por exemplo, podem interferir com antibióticos como tetraciclina, doxiciclina e ciprofloxacina. Essas drogas podem se ligar ao cálcio do leite, formando uma substância insolúvel no estômago e no intestino delgado superior que o corpo não consegue absorver.
Já em relação aos chás, o de alho e gengibre em altas doses alteram a eficácia de anticoagulantes, como a varfarina. O uso concomitante de anticoncepcionais e erva-de-são-joão também pode causar efeitos indesejados, assim como consumir grandes quantidades de chá de limão ou capim santo com anti-hipertensivos, aumentam o risco de hipotensão.
Posso tomar o remédio sem líquido, engolindo só com a saliva?
Não é recomendado tomar sem água, porque é o líquido que ajuda o medicamento passar pelo trato gastrointestinal. Se não usar água, o remédio pode começar dissolver na garganta e provocar irritação ou não fazer o efeito desejado. Até as versões em gotas devem ser acompanhadas de água, que vai transportar a droga até o intestino para ser absorvida adequadamente.
Como devo guardar meus remédios?
O ideal é sempre guardar longe de umidade e calor excessivo. Não se deve guardar em banheiro, onde tem muita umidade, próximos a pia ou locais onde têm muita água. Também deve-se manter fora do alcance de crianças e animais domésticos.
Posso tomar mais de um remédio ao mesmo tempo?
Muitos remédios causam interações medicamentosas entre si, e não só na hora de tomar junto, mas mesmo quando tomamos um de manhã e outro à noite. O paciente pode não ter o efeito esperado ou até sofrer uma reação por intoxicação.
Por isso, é sempre importante relatar todos as drogas usadas no dia a dia, seja em consulta com um médico ou um farmacêutico.
Tem problema tomar um remédio vencido?
Sim. As datas de validade são marcadas a partir de estudos de estabilidade para garantir que os remédios continuem efetivos e que não causem toxicidade. Com o tempo, as substâncias químicas podem degradar, oxidar, e aí, além de não fazer efeito, podem fazer mal.
Posso guardar os medicamentos fora da cartela?
Se você tirou uma cápsula ou comprimido do blister (as cartelas de plástico), a droga já está automaticamente mais suscetível às ações do ambiente. Se a ação já foi feita e você não quer jogar fora por ser um remédio caro, o melhor é guardar em um papel laminado e tomar logo, caso seja de uso contínuo. Após vários dias fora da embalagem correta, dificilmente terá a eficácia desejada.
Para guardar em caixinhas que separam os medicamentos por dias da semana, a dica é cortar o blister com tesoura, sem interferir na proteção da pílula.
Qual é a melhor forma de descartar remédios?
Caixas, blisters e potes vazios podem ser jogados fora normalmente no lixo reciclável, mas se a embalagem ainda contém medicamentos, não descarte no lixo comum, na privada ou em água corrente.
As substâncias químicas agridem o meio ambiente e podem ser tóxicas às pessoas que entrem em contato com aquele material. O certo é levar o conteúdo em drogarias, hospitais ou postos de saúde que recebam e podem encaminhar para uma incineração de forma adequada.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos - Farmanguinhos/Fiocruz (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fonte: Andreia Peraro, professora do Departamento de Farmácia da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Patricia Moriel, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)
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