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Risperidona trata distúrbios mentais; veja para que serve e efeitos

Risperidona: para que serve, como tomar e efeitos colaterais Imagem: iStock

Diana Cortez

Colaboração para VivaBem

12/09/2022 04h00

No mercado brasileiro desde 1994, a risperidona chegou como uma opção de antipsicótico com maior eficácia e menos reações adversas quando comparada aos medicamentos da primeira geração indicados para a mesma finalidade.

Entenda mais abaixo.

Risperidona: para que serve, efeitos e mais

O que é a risperidona?

A risperidona pertence à classe dos antipsicóticos de segunda geração e tem a função de equilibrar os neurotransmissores dopamina e serotonina no cérebro, responsáveis, entre outras coisas, por controlar o humor, a ansiedade, a saciedade e o sono.

Para que serve a risperidona?

O medicamento é prescrito para o tratamento de psicoses como a esquizofrenia em pacientes que apresentam alteração da percepção da realidade, delírios, ansiedade e isolamento social. Também para os casos de transtorno bipolar, e como coadjuvante no transtorno obsessivo compulsivo junto com antidepressivos.

Outra indicação é para as demências como Alzheimer e alterações mentais com transtornos de comportamento associados (estresse, agitação, hostilidade, crises de raiva, irritabilidade, angústia e depressão).

"Nos pacientes que sofrem com autismo, a substância pode tratar os sintomas comportamentais como agitação e movimentos repetitivos de balançar as mãos, conhecidos como flapping", acrescenta Mario Louzã, coordenador do Programa de Esquizofrenia do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Como tomar risperidona?

Na forma líquida, o medicamento deve ser tomado no mesmo momento que for diluído em água. Já os comprimidos revestidos devem ser consumidos com água e não devem ser partidos, diluídos nem mastigados para terem absorção correta no intestino.

Quais as apresentações disponíveis?

A risperidona pode ser administrada via oral, mas também existe a forma injetável, sendo que a de longa ação é aplicada no paciente a cada 15 dias, tornando mais prático o uso da medicação e a adesão ao tratamento. As doses devem ser definidas na avaliação clínica feita pelo médico em consulta.

Via oral:

  • Risperidona - solução oral - 1mg/mL
  • Risperidona - comprimidos revestidos de 0,25 mg, 0,50 mg, 1 mg, 2 mg, 3 mg.

Injetável/intramuscular:

  • Risperidona - pó para injeção - 12,5 mg; 25 mg; 37,5 mg ou 50 mg
  • Risperidona - frasco-ampola com pó injetável de longa ação - 25 mg; 37,5 mg ou 50 mg

Quais são os possíveis efeitos colaterais da risperidona?

Por agir no sistema nervoso central e atuar nos níveis de dopamina e serotonina, a risperidona pode causar reações adversas de intensidade leve a moderada —algo que varia de acordo com cada paciente e a dose prescrita.

No entanto, a sonolência acaba sendo um dos sintomas mais comuns no início do tratamento.

Em algumas situações raras em que o medicamento é usado em doses altas pode haver aumento dos níveis de prolactina, alterando o ciclo menstrual na mulher e até levando à produção de leite materno. Nos homens, poderia afetar a produção de espermatozoide e levar ao aumento das mamas.

Entre os efeitos colaterais da risperidona já considerados estão:

  • Acatisia (impossibilidade de manter-se sentado)
  • AVC
  • Acne
  • Anemia
  • Ansiedade
  • Apatia
  • Apetite aumentado
  • Astenia
  • Ataque isquêmico transitório
  • Aumento da temperatura corpórea
  • Aumento do peso
  • Boca seca
  • Cefaleia
  • Celulite
  • Confusão mental
  • Congestão nasal
  • Congestão pulmonar
  • Conjuntivite
  • Constipação
  • Creatina fosfoquinase sanguínea aumentada
  • Dermatite seborreica
  • Desconforto abdominal
  • Desconforto estomacal
  • Diarreia
  • Diminuição do apetite
  • Disartria
  • Disfagia
  • Dispepsia
  • Dispneia
  • Distonia (contrações no tronco, pescoço, ombros, quadris ou pernas)
  • Distúrbio de atenção
  • Distúrbio de equilíbrio
  • Distúrbio de marcha
  • Dor abdominal
  • Dor de ouvido
  • Dor faringolaringeana
  • Dor nas articulações
  • Dor nas costas
  • Dor nas extremidades
  • Dor no pescoço
  • Dor torácica
  • Edema depressível
  • Edema periférico
  • Enurese
  • Epistaxe
  • Eritema
  • Erupção cutânea
  • Fadiga
  • Falha na ejaculação
  • Febre
  • Fecaloma
  • Frequência cardíaca aumentada
  • Galactorreia
  • Gripe
  • Hiperqueratose
  • Hipersalivação
  • Hipersensibilidade
  • Hipersonia
  • Hipotensão
  • Hipotensão ortostática
  • Inchaço articular
  • Incontinência urinária
  • Infecção urinária
  • Insônia
  • Letargia
  • Mialgia
  • Nasofaringite
  • Náusea
  • Nervosismo
  • Nível de consciência deprimido
  • Palpitações
  • Parkisonismo
  • Pele seca
  • Pirexia
  • Pneumonia
  • Polaciúria
  • Prolactina sanguínea aumentada
  • Prurido
  • Rinite
  • Rinorreia
  • Sedação
  • Síncope
  • Sinusite
  • Sonolência
  • Taquicardia
  • Tontura
  • Tosse
  • Tremores
  • Visão turva
  • Vômitos

Como a risperidona age?

O medicamento atua no sistema nervoso central com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio dos neurotransmissores dopamina e serotonina.

"Em cerca de duas a três semanas de tratamento, o paciente deixa de ter alucinações e comportamentos desorganizados", explica Louzã. "Por ser um neuroléptico, a risperidona também apresenta efeitos sedativos", acrescenta Maria Aparecida Nicoletti, farmacêutica com doutorado em fármacos e medicamentos pela FCF-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo).

A risperidona pode ser indicada para crianças e adolescentes?

Sim. O medicamento pode ser usado por crianças e adolescentes no tratamento do transtorno autista associado com irritabilidade, agressividade, crises de raiva, angústia, mudança rápida de humor e autoagressão.

Quais as vantagens da risperidona?

Por ser um antipsicótico de segunda geração, apresenta menos efeitos colaterais em relação aos de primeira geração, possibilitando mais conforto e, consequentemente, maior adesão dos pacientes ao tratamento.

Isso porque realiza um bloqueio menos intenso da dopamina, o que faz com que a medicação seja mais tolerada, com menores riscos de apresentar efeitos colaterais indesejáveis, principalmente os efeitos extrapiramidais, que envolvem movimentos involuntários e rigidez muscular. Dessa maneira, o paciente não interrompe o tratamento, dando chances para um novo surto.

Quais são as desvantagens da risperidona?

Alguns poucos dados sugerem uma relação com maior mortalidade em idosos com demências que usaram a risperidona isolada ou associada ao anti-hipertensivo furosemida. No entanto, outros levantamentos como o estudo publicado no Journal of Clinical Psychopharmacology não trazem a mesma conclusão.

Portanto, seriam necessárias mais pesquisas para confirmar se existe um risco real pelo consumo do remédio ou se é uma consequência do próprio curso da doença. "Nesses casos, a recomendação é limitar o uso até controlar as alterações comportamentais", esclarece o psiquiatra.

As bulas desse medicamento também alertam para o risco de hiponatremia (baixa concentração de sódio no sangue) em alguns desses pacientes. Portanto, orienta-se monitorar os níveis de sódio em exames laboratoriais.

Quais são as contraindicações?

Risperidona é contraindicada para pacientes com hipersensibilidade à substância ou à paliperidona —metabólito gerado no organismo pelo consumo do medicamento.

Também não é prescrita para os casos de Parkinson, uma vez que doença já apresenta uma redução da dopamina no cérebro e seu uso poderia reduzir ainda mais essa ação, estimulando os tremores e outros sintomas.

O medicamento ainda precisa ser muito bem avaliado para aqueles que apresentam insuficiência renal ou hepática —casos em que o organismo apresenta menor capacidade de eliminar suas substâncias.

Assim como outros medicamentos, deve ser evitado por grávidas e lactantes, com ressalva no caso das pacientes com um quadro prévio de esquizofrenia, que já fazem uso da medicação. Caso contrário, o risco de a mulher ter um surto psicótico sem a substância é grande.

Outras situações em que a risperidona merece um pouco mais de atenção são em pacientes com histórico de coágulos no sangue —aqueles que vão fazer cirurgia da catarata ou que realizam exercícios intensos também devem ser bem avaliados e orientados.

Em situações raras, o medicamento poderia causar coágulos nos pulmões, impactar as estruturas oculares (pupila e íris) e até mesmo comprometer a capacidade do corpo de reduzir a temperatura central.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Como a risperidona pode causar sonolência em algumas pessoas, a maioria dos médicos orienta usá-la à noite.

Interações medicamentosas com a risperidona

Quando prescrever a substância, o médico deve avaliar muito bem quais são os demais medicamentos usados pelo paciente, uma vez que algumas combinações podem interferir na toxicidade ou na efetividade dos medicamentos envolvidos. No entanto, Louzã reforça que um percentual muito pequeno de pessoas pode apresentar problemas.

Conheça alguns medicamentos que podem apresentar interações com a risperidona e, por isso, podem precisar de uma orientação mais detalhada do médico:

  • Anti-hipertensivos como furosemida e hidroclorotiazida, que têm ação diurética, ou outros medicamentos que afetam os eletrólitos no organismo (sódio, potássio, magnésio)
  • Anti-hipertensivos com ação vasodilatadora (hipotensiva) como a anlodipina
  • Medicamentos para distúrbios do ritmo cardíaco
  • Medicamentos para tratar Parkinson como a levodopa
  • Outros antipsicóticos como, por exemplo, haloperidol, clozapina, fluoxetina
  • Alguns anti-histamínicos (antialérgicos)
  • Analgésicos narcóticos como o tramadol
  • Antiepilépticos como a carbamazepina, a fenitoína e o fenobarbital
  • Antibióticos como a rifampicina
  • Medicamentos para a malária
  • Psicoestimulantes como o metilfenidato
  • Insulina, uma vez que a risperidona pode causar quadros de hipoglicemia em alguns pacientes por elevar demais os níveis desse hormônio

Existe interferência de alimentos com o medicamento?

Em geral, a absorção da risperidona não é alterada pela alimentação, mas, ainda assim, alguns cuidados precisam ser tomados na hora do uso, uma vez que o medicamento não deve ser ingerido com bebidas à base de cola nem chás.

"Alguns tipos de substâncias antioxidantes (taninos e da epigalocatequina galato) presentes nessas bebidas podem atrapalhar a absorção do medicamento, comprometendo sua ação. Também orienta-se evitar beber com leite integral, já que a gordura também pode interferir", explica Patricia Moriel professora do curso de farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"Alguns chás também aumentam a diurese fazendo com que o medicamento seja eliminado mais ou menos pelo corpo, o que afeta diretamente sua eficácia ou o surgimento de possíveis reações adversas", comenta Rezende.

Há ainda recomendações para que a risperidona não seja consumida com suco de grapefruit (a toranja), uma vez que a bebida interfere no metabolismo da substância. Portanto, o paciente deve preferencialmente usar o medicamento com água.

Por fim, a risperidona também não deve ingerida com álcool, uma vez que seu ativo pode intensificar os efeitos da bebida, além de causar tontura e dificuldade de concentração.

Ela está incluída na Farmácia Popular?

Não. Por outro lado, consta na Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), então tem distribuição gratuita em todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a ela, basta apresentar a receita médica.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Se você já estiver em tratamento com risperidona há algum tempo, não tome a dose esquecida e tome a próxima dose conforme programado. Mas, se estiver no início do tratamento, tome a dose assim que lembrar, em vez de tomar a próxima dose. E continue a tomar as próximas doses programadas. Não ultrapasse 16 mg por dia.

Qual é o tempo de uso?

O médico é quem vai avaliar e orientar o tempo de uso da risperidona para cada paciente. Em geral, casos de esquizofrenia requerem o uso contínuo para evitar novos surtos psicóticos. Já no Alzheimer, o medicamento pode ser usado por algumas semanas para controlar os sintomas comportamentais e, então, ser descontinuada. Por isso, o ideal é manter um acompanhamento com psiquiatra.

Crianças e os adolescentes com autismo devem ser avaliados periodicamente por conta dos sintomas que vão se modificando no decorrer do seu desenvolvimento.

Há interferência em exames laboratoriais?

O medicamento pode alterar os níveis de colesterol (frações), triglicérides, os níveis de sódio (em idosos) e, eventualmente, a glicemia em alguns pacientes. Daí a importância de o médico solicitar periodicamente exames laboratoriais para acompanhar e, se necessário, interferir sugerindo mudanças na dieta e a prática de exercícios físicos.

Caso o paciente apresente uma queixa de alteração nas mamas e ausência de menstruação (nas mulheres), o médico poderá solicitar o exame de prolactina para verificar se houve alguma alteração considerável nos níveis desse hormônio.

Fontes

Mario Louzã, médico psiquiatra, coordenador do Programa de Esquizofrenia do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Mário Rezende, farmacêutico clínico e mestre em ciências farmacêuticas pela UFPI (Universidade Federal do Piauí) e conselheiro regional do CRF-PI (Conselho Regional de Farmácia do Piauí); Maria Aparecida Nicoletti, farmacêutica com doutorado em fármacos e medicamentos pela FCF-USP (Faculdade De Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo); e Patricia Moriel, professora livre-docente do curso de farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Referências: FDA; Anvisa (bulário) e Ministério da Saúde.

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