Como fazer soro caseiro? Veja dose certa e cuidados no preparo
Açúcar, sal e água. Esses são os ingredientes para fazer soro caseiro, um santo remédio capaz de trazer de volta o equilíbrio hidroeletrolítico do corpo, especialmente quando há risco de desidratação. A solução é considerada uma das mais eficazes intervenções primárias de saúde e o seu uso tem combatido doenças e reduzido a mortalidade infantil há mais de 50 anos, principalmente em países em desenvolvimento.
A causa mais comum de sua indicação é a diarreia. Qualquer um pode usar o soro caseiro, de crianças a adultos, mas normalmente ele é mais utilizado no público infantil e no idoso, que podem ficar mais debilitados por desidratação.
O soro caseiro pode e deve ser usado como medida emergencial durante a espera do atendimento médico ou quando não haja disponibilidade de sais de reidratação oral (SRO) disponibilizados pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), e que também podem ser encontrados nas farmácias.
Para que serve o soro caseiro?
Trata-se de uma solução composta por sais minerais (eletrólitos), carboidrato (açúcar) e água. Essa fórmula é utilizada para ajudar a repor a água e os sais perdidos nos quadros de desidratação decorrentes das seguintes condições:
- Diarreia
- Vômito
- Gastroenterite (infecção ou inflamação intestinal)
O benefício esperado é manter a criança hidratada durante esses quadros. Mas lembre-se: o soro caseiro não tem como efeito o controle do vômito ou da diarreia, ele apenas previne a desidratação.
Como fazer o soro caseiro
Você vai precisar dos seguintes ingredientes:
- 1 litro de água filtrada ou fervida (mas já fria)
- 1 colher de café de sal
- 1 colher de sopa de açúcar
Misture bem todos os ingredientes e ofereça ao doente por meio de pequenas colheradas ou no copo. Caso seja necessário o uso do soro por mais de 24 horas, a receita feita no dia anterior deve ser descartada. Durante o período de uso, mantenha o recipiente coberto e conserve-o na geladeira.
Quando o soro caseiro deve ser utilizado?
Os médicos consultados recomendam que ele passe a ser utilizado tão logo a diarreia ou o vômito tenham início.
Qual é a dose certa do soro caseiro?
O soro caseiro pode ser utilizado em todas as idades, inclusive pelos idosos, mas cada faixa etária tem um esquema de doses:
- Até 1 ano: 10 ml/kg de peso corporal após cada perda (diarreia ou vômito) (por exemplo: se a criança pesa 10 kg, deve ser oferecido 100 ml do soro);
- De 1 a 10 anos: 10 ml/kg de peso corporal após cada perda. O limite é 200 ml (caso a criança pese 25 kg, oferecer 200 ml);
- 10 anos ou mais: oferecer o soro após cada evacuação ou vômito. A quantidade corresponde ao limite que a pessoa aceitar.
Como oferecer o soro caseiro
Quando a criança é muito pequena, você deve oferecer o soro em pequenas doses na colher ao longo do dia. A depender da idade dela, o uso de canudo pode ser útil.
Caso a pessoa tenha outro episódio de diarreia ou vômito em menos de 30 minutos, ofereça novamente o soro. Se o espaço de tempo entre a dose e a ida ao banheiro for superior a 30 minutos, você pode oferecer o soro após a evacuação ou vômito.
Espera-se que os efeitos da hidratação oral apareçam no período de três a quatro horas.
Enquanto durarem a diarreia e o vômito, além do soro caseiro, é recomendado oferecer líquidos em abundância, mesmo que a pessoa não apresente perdas. Evite oferecer bebidas gaseificadas e sucos artificiais que são ricos em açúcar e pobres em sódio.
Soro caseiro tem efeito colateral?
O soro caseiro é considerado seguro e é incomum que ele tenha efeitos colaterais. No entanto, siga as dicas a seguir para garantir que ele funcione da forma esperada. Confira:
- Evite usar o soro caseiro para tratar a diarreia por mais de 2 dias, exceto quando o médico assim indicar;
- Utilize somente água para a preparação do soro, jamais substituindo-a com outros líquidos;
- Certifique-se de usar apenas as medidas indicadas de sal, açúcar e água --isso porque o equilíbrio desses ingredientes é que garante o efeito desejado;
- Evite o consumo de bebidas gaseificadas, sucos, chás, café e energéticos porque eles são ricos em açúcar e poderiam agravar a desidratação.
Exagerar no soro pode causar algum dano?
Não. Mesmo em crianças ou adultos, é sempre melhor dar mais soro do que menos soro. Continue observando os sintomas porque, na prática, conforme for melhorando, naturalmente a pessoa recusará o soro.
Por que é importante usar água filtrada ou fervida?
Quando a água não é filtrada ou fervida ela pode conter bactérias e impurezas que poderiam ter o efeito contrário ao desejado, ou seja, agravar o quadro da desidratação.
O que é melhor: soro caseiro ou sais de reidratação oral?
De acordo com a pediatra Nádia Gurgel, o uso do soro caseiro visa prevenir a desidratação e deve ser utilizado nos casos emergenciais quando não haja acesso aos postos de saúde, ao médico ou aos sais de reidratação oral.
"A diferença entre ele e os sais é que este último tem propriedades adicionais, além de um preparo mais fidedigno", diz a médica. "Apesar das medidas que utilizamos, podem ocorrer alterações no preparo caseiro. Nos casos mais intensos, recomenda-se o uso da solução pronta, mas isso não exclui a importância de todos saberem utilizar o soro caseiro e conhecerem o seu papel na prevenção da desidratação", completa a médica.
Por que manter-se hidratado é tão importante?
A água contida no corpo é essencial para o bom funcionamento dos órgãos vitais e para a saúde como um todo.
Para garantir bons níveis de hidratação, o organismo depende do equilíbrio dos eletrólitos do sangue, que são minerais como sódio, potássio, cloreto e bicarbonato. Toda perturbação desse equilíbrio é chamada de desequilíbrio hidroeletrolítico e pode ter como causa a desidratação, ou seja, a perda excessiva de água.
A diarreia pode ser classificada como leve, moderada ou grave. No entanto, em bebês e crianças pequenas, mesmo os quadros leves requerem atenção redobrada.
Quando procurar o médico?
É preciso observar o estado geral da pessoa que usa o soro. Se sintomas permanecerem ou houver piora no quadro, é recomendável procurar um hospital.
O pediatra Ivan Savioli Ferraz explica que é preciso observar o estado geral nos casos de criança. "Se ela estiver letárgica (molinha), o vômito não cessa, ela não está urinando ou a urina está reduzida, e ainda se verifica que há sangue nas fezes, é preciso ir ao médico imediatamente", diz.
Ele também chama a atenção para a quantidade de idas ao banheiro. Se os episódios de diarreia foram seis ou mais no período de 24 horas, não dá para esperar. A recomendação é procurar ajuda especializada. "Por vezes, todos esses sintomas estão ausentes, mas a diarreia persiste após dois dias. Nesses casos, é bom ir ao pediatra", completa o especialista.
Fontes e referências
Fontes: Ivan Savioli Ferraz, médico pediatra e docente do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Nádia Gurgel, médica pediatra do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará, que integra a Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão médica: Ivan Savioli Ferraz.
Referências: Ministério da Saúde; Santos, Victor S et al. "Effectiveness of rotavirus vaccines against rotavirus infection and hospitalization in Latin America: systematic review and meta-analysis." Infectious diseases of poverty vol. 5,1 83. 12 Aug. 2016, doi:10.1186/s40249-016-0173-2; Binder, Henry J et al. Oral rehydration therapy in the second decade of the twenty-first century. Current gastroenterology reports vol. 16,3 (2014): 376. doi:10.1007/s11894-014-0376-2.
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