Tirzepatida (Mounjaro) emagrece? O que sabemos sobre o novo remédio
Samantha Cerquetani
Colaboração para VivaBem
29/06/2023 11h00
Recentemente, o medicamento tirzepatida, que também é conhecido com o nome comercial de Mounjaro, ganhou destaque ao ser apontado como um novo fármaco bastante eficaz no tratamento contra a obesidade.
Apesar de ser indicado inicialmente para o controle de diabetes tipo 2, algumas pesquisas demonstraram que o medicamento também contribui com a perda de peso. Além disso, alcançou resultados mais significativos quando comparado com outros remédios que têm o mesmo objetivo.
A seguir, veja detalhes sobre como funciona a tirzepatida, quais são as contraindicações e possíveis efeitos colaterais.
Tirzepatida: para que serve e efeitos
O que é e para que serve a tirzepatida?
A tirzepatida é um medicamento injetável subcutâneo que ajuda no emagrecimento.
Trata-se de uma molécula que simula a ação de dois hormônios que atuam no intestino: o GLP-1 (peptídeo-1 semelhante ao glucagon) e o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose).
O GLP-1 ativa a produção da insulina no pâncreas; enquanto o GIP melhora a secreção deste hormônio. Por conta disso, a tirzepatida é eficaz no controle de diabetes tipo 2.
No entanto, o medicamento também tem sido usado para controle da obesidade, já que promove a sensação de saciedade e diminui o apetite.
Com a perda de peso, o organismo melhora os índices glicêmicos, a pressão arterial, há redução do colesterol ruim (LDL) e aumento do colesterol bom (HDL). Portanto, de forma indireta, melhora a saúde cardíaca.
Além disso, o uso de tirzepatida mostrou-se eficaz na redução de doença renal crônica e esteatose hepática (gordura no fígado).
Tirzepatida ajuda a emagrecer?
Sim. Um estudo realizado por 72 semanas com 2.539 pessoas com obesidade que usaram tirzepatida apontou perda significativa de peso entre os participantes. Eles tinham um peso inicial acima de 104 kg e IMC médio 38 e sem diabetes.
A pesquisa dividiu os indivíduos em grupos e placebo: aqueles que usaram o medicamento em doses semanais de 5 mg, 10 mg e 15 mg. Como resultado, o percentual de perda média de peso foi de 15%, 19,5% e 20,9%, respectivamente.
Além disso, o mesmo estudo observou que mais de um terço dos pacientes em uso da dose de 15 mg apresentaram perda de peso em cerca de 25%, o que aproxima o efeito da medicação ao obtido com a cirurgia bariátrica.
Quais os efeitos colaterais da tirzepatida?
O principal efeito colateral da tirzepatida ocorre no sistema gastrointestinal. Portanto, podem surgir:
- Náuseas;
- Vômitos;
- Constipação intestinal;
- Diarreia.
Vale destacar que não há efeitos colaterais graves (ou mortes) com o uso de tirzepatida quando comparados com outros medicamentos utilizados para emagrecer.
Além disso, estes efeitos colaterais são leves a moderados e tendem a ocorrer mais no início do uso e durante o aumento da dose.
Como a tirzepatida funciona no organismo?
O GIP e o GLP-1 são moléculas secretadas pelo intestino e conectam a absorção de nutrientes do trato gastrointestinal com a secreção de hormônios pancreáticos. Além de ter efeitos específicos no sistema nervoso central, principalmente nas áreas relacionadas à regulação do apetite e células de gordura.
Dessa forma, o uso de tirzepatida aumenta a saciedade e controla a fome. Como a medicação age da mesma forma que estas moléculas, provoca a redução da ingestão de calorias e proporciona a perda de peso.
Qual a diferença da tirzepatida para outros remédios?
Apesar de agir de forma muito semelhante a outras medicações para obesidade (como a liraglutida e semaglutida), a tirzepatida age estimulando os dois receptores (GIP e GLP-1) ao mesmo tempo.
As outras medicações citadas anteriormente só agem estimulando o receptor GLP-1. Por conta disso, a tirzepatida tem uma ação potencializada e promove maior perda de peso.
A tirzepatida está liberada para venda?
Não. A tirzepatida já foi aprovada nos EUA pela FDA (Food and Drugs Administration), que é a agência reguladora dos alimentos e medicamentos do país.
No momento, a Anvisa avalia a solicitação de registro da medicação no Brasil.
A expectativa é de que comece a ser comercializada ainda no segundo semestre de 2023.
Quem poderá usar?
Em um primeiro momento, a medicação será liberada para tratamento de pessoas com diagnóstico de diabetes tipo 2.
O uso em casos de obesidade deverá ser avaliado individualmente pelos profissionais de saúde.
Contraindicações e riscos
Na maioria das vezes, o uso de tirzepatida é seguro desde que seja prescrito e orientado por médicos. Isso minimiza os efeitos colaterais e os riscos à saúde.
A medicação é contraindicada em pacientes com hipersensibilidade à droga. Deve ser usado com cautela por pessoas com:
- Pancreatite (inflamação no pâncreas);
- Doenças gastrointestinais graves;
- Problemas na tireoide;
- Idade acima de 85 anos;
- Retinopatia diabética (complicação de diabetes que prejudica a visão).
Vale destacar que ainda não há estudos apontando a segurança e eficácia desta medicação em gestantes, lactantes e crianças. Portanto, a recomendação é que estes indivíduos não usem a tirzepatida.
Obesidade exige tratamento multidisciplinar
Considerada uma doença crônica, a obesidade aumenta a cada dia: estima-se que cerca de 30% da população adulta estará acima do peso em 2030.
Além da questão estética, os quilos extras comprometem a qualidade de vida e aumentam o risco de doenças, como câncer e problemas cardiovasculares.
No entanto, o tratamento da obesidade é complexo e exige a participação de diversos especialistas, como endocrinologistas, psicólogos, nutricionistas e preparador físico.
Além da medicação, que deve ser indicada em casos específicos, é importante que o indivíduo seja orientado a mudar os hábitos, tais como:
- Realizar atividade física regular;
- Ajustar a alimentação e ter uma dieta equilibrada;
- Controlar as emoções, já que a ansiedade pode contribuir com o ganho de peso;
- Seguir o tratamento correto com especialistas para evitar o reganho de peso (conhecido popularmente como "efeito sanfona").
Fontes
Leonardo Parr, endocrinologista e diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo); Ana Cristina Ravazzani, endocrinologista e professora da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Aline Guimarães, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês (SP); e Maria Fernanda Brandão, farmacêutica do CIM do CRF-BA (Centro de Informação sobre Medicamento do Conselho Regional de Farmácia da Bahia).