Vaidade depois dos 60 anos: tem algo que precisa ser evitado?
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
12/02/2021 04h00
Tingir cabelo, usar salto alto, fazer clareamento dental: são tantos hábitos, tendências e procedimentos relacionados à moda, estética e beleza que as pessoas adotam para si —muitos deles já há bastante tempo— que fica difícil saber se é preciso revê-los após os 60 anos.
De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, a maioria das coisas realizadas em prol da vaidade pode ser mantida, mas desde que se leve em consideração novos cuidados e, em alguns casos, adaptações. O que é indicado abandonar de vez mesmo é muito pouco.
"O idoso deve se cuidar, faz bem para a autoestima e a saúde dele. Porém, isso não significa combater o envelhecimento. Combatemos o que nos prejudica. Portanto, o correto é estimular um envelhecimento de maneira saudável", aponta Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
Tire dúvidas sobre vaidade na terceira idade
Posso pintar o cabelo até o fim da vida?
Sim, mas tome cuidado com alguns produtos e técnicas em excesso. Com o passar dos anos, o cabelo tende a afinar e as tinturas sintéticas o desidratam, levando à fragilidade dos fios, que aos poucos vão caindo e podem ganhar um aspecto "ralinho". Se tiver pouco cabelo e quiser pintá-lo, evite a descoloração e prefira tinturas claras para espaçar a necessidade de retoques.
Outro ponto a se observar é a química do produto. Como o idoso tem um couro cabeludo mais sensível, a amônia ou mesmo a água oxigenada podem causar alergias e irritação nessa região. Tintas naturais são uma alternativa e os tonalizantes agridem menos, cobrem até 70% dos brancos e não abrem as cutículas dos fios. Quem utiliza desamareladores também precisa usar máscara hidratante toda semana.
É perigoso manter as unhas compridas?
Depende. Se os reflexos e a coordenação motora já não são tão bons é preciso avaliar a necessidade de usá-las tão pontudas, para que não causem acidentes no próprio idoso e nos outros. A unha comprida pode ferir mais facilmente a pele envelhecida, enganchar em algo, esbarrar nos olhos e, se for natural, quebrar na ponta, pois com a idade fica mais fragilizada.
No que compete à higiene, unhas longas também podem acumular facilmente sujeira e serem atacadas por fungos. Estão suscetíveis principalmente os idosos que não enxergam bem e não lavam as mãos direito. Aplicar esmalte não tem problema, desde que não se tenha alergia, e serve até para fortalecer as unhas.
Preciso rever o uso do salto alto?
Sim, pois com o envelhecimento a mobilidade, a visão e o equilíbrio reduzem. Na presença de problemas desse tipo ou se o idoso apresenta deformidades, dores, falta de sensibilidade ou segurança nos pés, nem pensar, pois o risco dele cair é enorme. Também é indicado evitar modelos salto agulha, com bico e solado muito finos e sem suporte que prenda no calcanhar.
Os muito elevados, além de perigosos, causam alteração angular e sobrecarga dos joelhos, os com bico fino prejudicam a parte dianteira dos pés e favorecem o aparecimento de joanetes e os molengas, pouco espessos e sem prendedor traseiro não dão estabilidade. Dos saltos, os melhores são os do tipo plataforma, pois estabilizam a planta dos pés, e os grossos e baixos.
Posso usar qualquer maquiagem?
Não. Além de fina, a pele idosa costuma ser mais seca. Assim, é preciso evitar cosméticos que a deixem ainda mais desidratada e, consequentemente, sensível, vermelha e escamada. Pó compacto, sombra, demaquilante e sabonete neutro são alguns dos produtos que podem induzir esses problemas e requerem uso adequado a cada tipo de pele e idade. Prefira maquiagens mais cremosas e capriche na hidratação.
Ao lavar o rosto, é importante não esfregá-lo nem usar água muito quente, o que também se aplica ao corpo, para não retirar a camada natural de gordura que o protege e deixar a pele vulnerável e propensa a lesões. O sabonete ainda não tem necessidade de ser usado em todas as regiões. Priorize as que transpiram muito e exalam odores (axilas, genitais e região anal).
Tomar sol é mais arriscado após os 60 anos?
Sim. Exposição excessiva ao sol é ruim em qualquer idade e principalmente para os idosos. Sob o sol, manchas que eles costumam ter, além de lesões e hematomas ocasionados em virtude da pele ser mais fina e expor com facilidade tecidos e veias superficiais, podem aumentar, escurecer, coçar, ficar ásperos e escamosos e evoluírem para sangramentos e câncer de pele.
Os raios ultravioletas (UV) também podem tornar a pele menos elástica, ainda mais enrugada e opaca e quando muito intensos aceleram a desidratação, que no idoso é um dos principais problemas. A advertência se estende ainda ao bronzeamento artificial com produtos químicos e que devem ser usados com cautela para evitar reações alérgicas. Por isso, a melhor indicação continua sendo uma exposição solar antes das 10h e após às 16h, sempre sob uso de protetor.
Existe restrição de roupas e acessórios?
Desde que a escolha não ofereça risco ao idoso e ele tenha autonomia, não. Saias e vestidos longos, rentes ao chão, exigem cuidado para não dificultar o caminhar e provocar tropeções, que no idoso podem facilmente levar a quedas e fraturas.
Também não é aconselhável nada que aperte muito ou que possa oferecer risco de sufocamento, hipertermia e atrapalhe usar óculos, aparelho auditivo e bengala, principalmente se ele for dependente e estiver sozinho.
Posso tomar whey protein e malhar?
Com aval médico, acompanhamento de instrutor e sem exageros, sim. O whey protein (proteína do soro de leite) é um suplemento usado por praticantes de atividades físicas e previne diversos fatores do envelhecimento, como perda de massa (sarcopenia), lesões e ajuda a reparar tecidos e ganhar músculos e energia. Mas a indicação é feita pelo geriatra ou nutricionista, pois o idoso pode ser intolerante à lactose e ter problemas renais e de absorção.
Quanto à musculação, ela também precisa ser indicada como um tratamento, guiada durante sua realização e seguir um programa de exercícios particularizado e adequado aos objetivos, às necessidades e à dieta do idoso. Não existe contraindicação pela idade.
Plásticas e preenchimentos estão liberados?
Depende. Em se tratando de cirurgias estéticas e reparadoras é preciso avaliar antes coração, doenças preexistentes, uso de medicamentos e fazer exames. Tudo vai depender do estado de saúde e dos hábitos de vida. Entre os procedimentos mais buscados estão os minimamente invasivos e de baixo risco como lifting facial, blefaroplastia (pálpebras), rinoplastia (nariz) e otoplastia (orelhas), regiões que mudam com o envelhecimento natural.
Abdominoplastia, mamoplastia e lipoescultura também são permitidas, mas envolvem técnicas cirúrgicas reduzidas e não devem ser associadas com outros procedimentos ao mesmo tempo. Quanto aos preenchimentos, são muito mais tranquilos, pois são realizados em consultório, sem necessidade de internação e com anestesia local, ou, às vezes, apenas creme anestésico.
Todo tipo de fragrância pode ser usada?
Depende. Numa pele sensível e com mais dobrinhas —e atritos— como a do idoso, perfumes e hidratantes com fragrâncias muito fortes podem, eventualmente, gerar reação irritativa. Tontura é outro problema, principalmente para quem já tem a mobilidade prejudicada.
Por outro lado, como a pele deles é mais seca e retém menos cheiro, aromas fortes persistem nela por mais tempo.
Faço clareamento dental. Posso manter?
Sim. O idoso pode e deve fazer esse procedimento, até porque o envelhecimento é um dos fatores do escurecimento dental. Agora, usar aparelho ortodôntico não é tão simples. É preciso que o dentista observe a saúde periodontal e avalie se o desgaste ósseo e a retração gengival estão muito avançados, o que também pode ter a ver com anos de má higienização.
Fonte: Gabriel Mendia, ortopedista especialista em cirurgia dos joelhos e quadris pelo Hospital Nipo-Brasileiro e Hospital Municipal Dr. Carmino Carrichio e atuante na Clínica Personal Ortopedia (SP); Gabriela Cilla, gastróloga e nutricionista esportiva da Clínica NutriCilla; Juliana Toma, dermatologista pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em tricologia; Marcos Moura, dentista da ABHA (Associação Brasileira de Halitose); Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia); Patrícia Ramos, nutricionista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; e Wendell Uguetto, cirurgião plástico da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e do Hospital Albert Einstein (SP)